Rubricas NG
terça-feira, 30 de setembro de 2025
AUTORES INTERNACIONAIS | HENRY DAVID THOREAU
Ensaísta, poeta, naturalista, investigador, historiador, filósofo e transcendentalista, é autor de inúmeros ensaios, entre os quais Desobediência Civil. O seu pensamento inspirou grandes nomes que mudaram a sociedade, como Gandhi, Tolstói ou Martin Luther King, Jr., a quem devemos um mundo mais justo e mais livre do que aquele em que viveu o autor.
Considerado também um dos pioneiros do movimento ecologista, sempre defendeu o contacto com a Natureza, que advoga neste clássico intemporal A Arte de Andar a Pé.
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
DESOBEDIÊNCIA CIVIL, de HENRY DAVID THOREAU | LUA DE PAPEL
Quase dois anos depois, em 1948, o pensador norte-americano fez uma palestra onde referiu aquele episódio, mas também o direito e o dever à Desobediência Civil. O texto deu origem a este livro, uma obra breve, que teve um alcance e uma influência extraordinários e duradouros - sendo uma das principais referências de Martim Luther King ou Mahatma Ghandi.
Escrito numa altura em que os Estados Unidos viviam num regime esclavagista e em que - tal como hoje - ambicionavam a expansão territorial (com a invasão do México), o livro mantém-se amplamente atual: se o Estado, democrático ou não, extravasa as suas competências, e oprime os cidadãos em vez de os servir, não terão eles o dever de se revoltarem?
Em nova tradução, com um perfil do autor e notas de João Carlos Silva que enquadram a obra para os leitores contemporâneos, Desobediência Civil é um clássico absoluto que deve figurar nas estantes de todos.
domingo, 28 de setembro de 2025
AUTORES NACIONAIS | AFONSO REIS CABRAL
sábado, 27 de setembro de 2025
O ÚLTIMO AVÔ, de AFONSO REIS CABRAL | DOM QUIXOTE
Resta por isso ao neto — herdeiro do nome e da memória familiar — a missão de descobrir a verdade e de compreender (ou não) o gesto do avô. Mas essa busca arrasta-o sem querer para um terreno bem mais doloroso, que se prende com a fuga e a morte prematura da mãe, cuja ausência é sublinhada há anos por um quarto trancado na casa do avô.
Atravessando a intimidade de três gerações de uma família marcada por perdas, conflitos e paixões, O Último Avô conta a história da relação entre um escritor tirânico e o seu único neto, entre a herança literária e a vida real.
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
AUTORES INTERNACIONAIS | KARIN SMIRNOFF
Karin Smirnoff (Suécia, 1965) é uma das autoras de maior sucesso da Suécia, onde os seus livros já venderam mais de 700 000 exemplares. Respondeu ao apelo da literatura em 2018 e o seu romance de estreia, Jag for ner till bror (My Brother), foi prodigamente elogiado pela crítica, tendo sido nomeado para o prestigiado Prémio August. No ano seguinte, Karin Smirnoff regressou às livrarias com o romance Vi for upp med mor (My Mother) e em 2020 terminou a história de Jana Kippo com o livro Sen for jag hem (Then I Went Home). O júri que distinguiu esta aclamada trilogia com o Prémio Piraten considerou que a sua escrita trouxe algo completamente novo ao panorama literário. Em 2021, Karin Smirnoff foi anunciada como a autora que daria continuidade à série Millennium de Stieg Larsson, tendo já assinado e sido aclamada pelo livro anterior, A Rapariga nas Garras da Águia.
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
A RAPARIGA COM GELO NAS VEIAS, de KARIN SMIRNOFF | DOM QUIXOTE
O extremo norte da Suécia está a arrefecer. Na primavera, a vila de Gasskas continua debaixo de uma implacável camada de neve. À medida que as temperaturas diminuem, aumentam as tensões entre uma multinacional que explora despudoradamente os recursos naturais da região e os habitantes prudentes, que têm contas a ajustar. Uma bomba destrói uma ponte que é um local de passagem crucial. Pouco tempo depois, é assassinada uma jovem jornalista.
Entretanto, Lisbeth está na sua casa de Estocolmo, a tentar preencher o vazio deixado pela sua última relação amorosa. Mas quando descobre que o seu amigo hacker Praga foi raptado e encontra a sobrinha, Svala, no patamar à sua porta, não tem outro remédio senão voltar a Gasskas - com Mikael Blomkvist a seu lado. Blomkvist assume a direção do jornal de Gasskas e Lisbeth tenta localizar Praga. É então que Svala desaparece, e os maiores medos de Lisbeth regressam para a assombrar…
Atraídos de novo à vila sem lei onde predadores se disfarçam de salvadores e inimigos se fingem de amigos, Salander e Blomkvist veem-se obrigados a deslindar uma história de violência numa corrida contra o tempo.
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
RESENHA | QUANDO O VATICANO CAIU, de PEDRO CATALÃO MOURA | SAÍDA DE EMERGÊNCIA
Ler Quando o Vaticano Caiu, de Pedro Catalão Moura, foi como abrir uma porta para um mundo familiar que, de repente, se revelava desconhecido e inquietante. Imaginar o Vaticano — símbolo de fé e estabilidade — ameaçado pelas forças nazis provoca uma sensação desconfortável e fascinante ao mesmo tempo. Não é apenas história alternativa; é uma viagem ao que poderia ter sido, onde cada decisão pesa como uma sentença.
O Papa Pio XII deixa de
ser apenas uma figura distante e histórica. Moura humaniza-o, mostrando-o
hesitante, vulnerável, dividido entre dever e medo, entre fé e sobrevivência. É
impossível não se deixar absorver por esta tensão constante, onde intrigas, estratégias
e dilemas morais se entrelaçam de forma quase palpável.
O que mais me prendeu foi
a habilidade do autor em equilibrar o rigor histórico com o drama humano. Cada
cena parece medida, mas não fria; cada diálogo, calculado, mas nunca
artificial. Senti-me como se estivesse à espreita nos corredores do Vaticano,
consciente do perigo iminente, testemunhando decisões que poderiam alterar o
curso da história.
No fim, fiquei com uma
sensação ambígua: admiração pela astúcia narrativa de Moura e inquietação
perante a fragilidade da história quando posta nas mãos do acaso. Quando o
Vaticano Caiu não é apenas um romance de guerra ou de intriga; é um convite
a pensar sobre poder, moralidade e as escolhas que definem os homens e as
instituições, mesmo em tempos sombrios.
Ler este livro foi, para
mim, mais do que uma experiência de entretenimento: foi um lembrete de que a
história nunca é inteiramente rígida, que as sombras do passado podem assumir
formas inesperadas, e que a coragem nem sempre é grandiosa, mas muitas vezes
silenciosa e solitária.
terça-feira, 23 de setembro de 2025
UM TESOURO NO DESERTO: O ALGARVE ENTRE MONTES E MEMÓRIAS, de RUI ARAÚJO | FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS
Onde é que o Diabo perdeu as botas em Portugal? Em Tesouro, Balurco de Baixo, Deserto, Atravessado, Tremelgo de Cima, Silgado, Tesouro… Entre tantos outros lugarejos, estes são alguns dos pontos do nordeste algarvio e do Alentejo que compõem o mapa português da solidão, do despovoamento e da exclusão. Quem lá habita? De que vive? O que pensa do resto do país?
Este retrato, feito por um jornalista sem pressas, mochila às costas, narra uma viagem singular no espaço e no tempo. Descreve o isolamento imposto aos idosos que teimam em permanecer nos montes onde nasceram e ergueram telhado, sobretudo em Alcoutim, um dos dez concelhos do país com as mais baixas taxas de natalidade. Lá onde a terra acaba e nenhum mar começa, e o único tesouro são as pessoas.
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
A PARTICIPAÇÃO CÍVICA EM PORTUGAL, de JOSÉ CARLOS MOTA | FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS
Cristo só surgiria no século seguinte e, supõe-se, já Júlio César identificava, nos confins da Ibéria, um povo «que nem se governa nem se deixa governar». Nós, portugueses, envolvemo-nos pouco como cidadãos em iniciativas coletivas, cívicas, associativas ou de voluntariado, porque estas não são apelativas e temos um sistema de governação muito centralizado e distante? Ou porque possuímos uma matriz individualista e conformista?
Este livro analisa a evolução da participação cívica em Portugal, no contexto do 50º aniversário do 25 de abril. Esclarece conceitos e metodologias, ilustra práticas e iniciativas promovidas por cidadãos e pela administração local, e identifica desafios e possibilidades para uma ação coletiva mais democrática, inclusiva e pluralista. A bem de todos e de cada um.
domingo, 21 de setembro de 2025
OS FILHOS DA MEIA-NOITE, de SALMAN RUSHDIE | DOM QUIXOTE
Nascido precisamente ao bater da meia-noite, no exato momento em que a Índia se tornava independente, Saleem Sinai é uma criança especial. No entanto, esta simultaneidade de nascimento tem consequências para as quais ele não está preparado: poderes telepáticos ligam-no a outros mil «filhos da meia-noite», todos eles dotados de dons extraordinários.
Indissociavelmente ligada à sua nação, a história de Saleem é um turbilhão de desastres e triunfos que espelha o percurso da Índia moderna na sua forma mais impossível e gloriosa.
Publicado em 1981, Os Filhos da Meia-Noite, segundo romance de Rushdie, não só deu notoriedade ao seu autor como se tornou num fenómeno literário, tendo conquistado o Prémio Booker em 1981, o Booker dos Bookers em 1993 e, em 2008, o Melhor do Booker.
Para celebrar 60 anos de vida editorial, as Publicações Dom Quixote revisitam alguns dos marcos da ficção universal que, ao longo do tempo, ajudaram a definir o seu catálogo e a consolidar o seu papel na história literária em Portugal. Obras maiores que a editora deu a conhecer aos leitores portugueses, vozes incontornáveis, reunidas agora numa coleção singular que presta tributo ao passado, honra o presente e reafirma um compromisso duradouro com a literatura de excelência.
sábado, 20 de setembro de 2025
AUTORES INTERNACIONAIS | MARIO ALONSO PUIG
MARIO ALONSO PUIG é médico, especialista em cirurgia geral e do aparelho digestivo e Chairman do Center for Health, Well-Being and Happiness da IE University. É fellow em Cirurgia pela Universidade de Harvard, em Boston, possui o ITP pelo IMD de Lausanne.
Formou-se em medicina mente-corpo no Mind-Body Institute da Universidade de Harvard, cujo presidente foi o doutor Herbert Benson, e em MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction) no Center for Mindfulness in Medicine Health Care and Society, ligado à UMASS Medical School. É membro do Applied Innovation Institute (AII), sediado em Silicon Valley, Califórnia, e do GNH Centre Bhutan, estando certicado como GNH Practitioner por este centro e sendo um dos fundado[1]res do GNH Centre Spain.
Além da sua prática como cirurgião durante 26 anos, formou-se e trabalhou dois anos no Instituto de Ciências Neurológicas de Madrid. O Dr. Mario Alonso Puig tem sido convidado para fazer palestras sobre liderança, gestão da incerteza, stress, criatividade, comunicação, saúde, bem-estar e felicidade em congressos, universidades, hospitais, empresas e instituições de mais de 35 países, nos 5 continentes.
É patrono de honra da Fundação Juegaterapia e embaixador da Manos Unidas. Em 2012, recebeu o prémio de Melhor Comunicador em Saúde pela ASEDEF. Em 2013, venceu o Prémio Espasa de Ensaio. Em 2014, recebeu o Prémio Know Square pela sua carreira de divulgação exemplar. Em janeiro de 2019, foi distinguido com o Prémio Cubi 2018 de Gastronomia Saudável, concedido pela FACYRE (Federação de Cozinheiros e Pasteleiros de Espanha). Nesse mesmo ano, recebeu também o Prémio Optimistas Comprometidos na categoria de Transformação Social. Em 2023, foi galardoado com o Prémio da revista Cambio16 na categoria de Mudança de Consciência. Os Prémios Cambio16 distinguem personalidades e instituições que lideram a construção de um mundo mais justo, humano e regenerativo.
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
REINICIA A TUA MENTE, de MARIO ALONSO PUIG | PLANETA
Em Reinicia a Tua Mente, o prestigiado médico Mario Alonso Puig mostra-nos aspetos surpreendentes, e muitas vezes desconhecidos, da fascinante relação que existe entre o cérebro, a mente e a nossa realidade. Se desejamos aumentar a nossa autoestima e potenciar capacidades como a inteligência, a memória, a intuição, a criatividade, a liderança ou o espírito empreendedor, precisamos de saber como aceder ao nosso grande potencial adormecido, e despertá-lo.
Neste livro, o autor explica-nos, de forma simples e inspiradora, os caminhos que o cérebro e a mente seguem para criar a realidade em que vivemos. Se desejamos desfrutar de um maior nível de bem-estar, prosperidade e felicidade, é fundamental que saibamos influenciar os processos que impactam de forma decisiva a nossa maneira de perceber, pensar, sentir e agir.
quinta-feira, 18 de setembro de 2025
O TANTO QUE GRITA ESTE SILÊNCIO: PORQUE SE ABSTÊM OS PORTUGUESES?, de NELSON NUNES | FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS
Em vez da cruz, deixam inscrito um espaço em branco: «Prefiro não votar.» Grosso modo, mais de metade dos portugueses são abstencionistas. O que os caracteriza? Que motivos os levam a abster-se? Desinteresse ou protesto? A abstenção, enquanto expressão negativa, é um sinal de democracia saudável? Ou o voto, enquanto responsabilidade cívica, deveria ser obrigatório?
Este retrato procura suprir uma lacuna no debate na esfera pública: dá voz aos reais protagonistas do abstencionismo em Portugal. Conhecer as argumentações da maioria silenciosa que não vota revela uma dimensão mais ou menos opaca da insatisfação com o sistema político. Complementados por análises de especialistas, estes testemunhos permitem perceber melhor o fenómeno da abstenção e pensar sobre como (e se) o devemos minimizar.te de sentir-se sozinho.
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
A FRANCOFONIA EM PORTUGAL: ESTÁ BEM E RECOMENDA-SE, de HELENA TECEDEIRO | FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS
O que têm em comum o ex-futebolista Eric Cantona, os designers Christian Louboutin e Philippe Starck e a atriz Isabelle Adjani? Tal como cerca de 50 mil outros cidadãos franceses, escolheram habitar em Portugal. Porém, para além desta nova aproximação, será que os portugueses ainda têm algo em comum com a língua e a cultura francesas?
Este retrato percorre Lisboa para medir a presença e o prestígio da língua francesa em Portugal. Dos locais de ensino, da Alliance Française ao Liceu Charles Lepierre, passando pelas escolas públicas, do Instituto Francês de Portugal à Embaixada de França. Do testemunho de franceses muito portugueses ao de famílias nacionais muito francófonas. O francês está a perder influência? A resposta pode surpreender.
terça-feira, 16 de setembro de 2025
RESENHA | UM ESPELHO SOMBRIO DOS GRIMM: A VERDADEIRA HISTÓRIA DE JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO", de ADAM GIDWITZ | PLANETA
Quando comecei Um
Espelho Sombrio dos Grimm, pensei que iria apenas revisitar o conto
tradicional de João e o Pé de Feijão, com algumas diferenças curiosas. Mas
rapidamente percebi que Adam Gidwitz não está interessado em repetições suaves
— ele sacode-nos logo nas primeiras páginas, com um narrador que fala diretamente
connosco, que avisa, provoca e até se ri da nossa expectativa de um “felizes
para sempre”.
O que mais me surpreendeu
foi a forma como João e Jill se transformam em companheiros de viagem. Não são
heróis perfeitos, muito menos símbolos de virtude: são crianças cheias de
falhas, mas também de coragem. E talvez por isso me senti tão próximo deles —
porque crescem a tropeçar, a errar e a enfrentar medos que, por vezes, se
parecem demasiado com os nossos.
A cada novo episódio,
entre gigantes ameaçadores, vestidos invisíveis e criaturas bizarras, senti-me
a subir mais alto nesse “pé de feijão” que afinal não conduz só a mundos de
fantasia, mas também a reflexões muito reais: sobre confiança, amizade, escolhas
difíceis e o peso de enfrentar as consequências.
O que mais gostei foi do
equilíbrio entre o macabro e o humor. Há momentos sombrios, sim, até
perturbadores, mas sempre intercalados com comentários inesperados que arrancam
um sorriso e nos lembram que a vida — tal como os contos — é feita de
contrastes.
No final, fiquei com a
sensação de que este livro não é apenas uma reescrita de um clássico: é uma
experiência de leitura que nos desafia a olhar para os contos de fadas de outra
maneira. Não como histórias cor-de-rosa, mas como espelhos (alguns deles sombrios)
daquilo que é crescer e aprender a lidar com as nossas próprias sombras.
Texto: Madalena Condado
segunda-feira, 15 de setembro de 2025
DESIGUALDADES EM SAÚDE, de RICARDO DE SOUSA ANTUNES | FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS
Este livro discute como, em Portugal, o acesso ao sistema de saúde depende não só da disponibilidade e distribuição adequada de recursos, mas também da capacidade dos utentes para o utilizarem de modo eficiente, influenciada por condicionantes sociológicas. Com uma análise detalhada das assimetrias, também por comparação no contexto europeu, reflete sobre os desafios para assegurar a equidade de um atendimento em saúde digno para todos.
domingo, 14 de setembro de 2025
RESENHA "O CAVALEIRO DAS TREVAS", de SHERRILYN KENYON | CHÁ DAS CINCO
Nas páginas de Guerreiro das Trevas, Sherrilyn Kenyon recorda-nos que até os monstros guardam cicatrizes que falam de humanidade. Urian não é o herói imaculado das lendas; é uma criatura moldada pela dor, forjada na traição e condenada à solidão de séculos. Vive suspenso entre aquilo que o destino escreveu para ele — a destruição — e a sua ânsia secreta de redenção.
O amor por Phoebe surge
como uma brecha de luz no meio da sua noite eterna. Não um amor fácil, mas uma
força que o impele a descer ao Hades e a enfrentar não apenas deuses e
inimigos, mas também os fantasmas mais íntimos da sua alma. Kenyon transforma
essa descida num verdadeiro rito de passagem, onde cada batalha externa espelha
uma guerra interior.
Neste primeiro volume, o
leitor é conduzido a um território de sombras, sangue e desejo, mas também de
vulnerabilidade. Urian conquista-nos não só pela imponência do guerreiro, mas
pela humanidade inesperada do homem que ousa amar quando tudo o empurra para o
ódio.
E é precisamente aqui que
reside a essência deste livro: ele não fecha um ciclo, antes abre instintos,
presságios e expectativas para o que está por vir. Kenyon prepara o terreno,
desperta no leitor a sede de continuar, como se cada página fosse um degrau que
conduz a um abismo maior — ou, talvez, a uma redenção mais profunda.
Guerreiro das Trevas
não é apenas fantasia urbana; é uma reflexão sobre identidade, perda e coragem.
Um prelúdio sombrio que anuncia, sem máscaras, que o caminho seguinte será
ainda mais denso, mais perigoso — e irresistivelmente humano.
Texto: Madalena Condado
sábado, 13 de setembro de 2025
PORTUGAL E O TEMPO, de FERNANDO CORREIA DE OLIVEIRA | FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS
Existe um "tempo português", no sentido cronológico, descrito e medido como por nenhum outro povo? De onde virá a nossa má relação com os hábitos de pontualidade? E a história da nossa relojoaria, o que diz sobre nós? Por que desapareceu ou está hoje ao abandono, sem funcionar, muito do património relojoeiro nacional?
Este livro analisa como Portugal tem vivido o Tempo, nos seus aspectos cultural, sociológico, económico e científico. A viagem percorre sete mil anos, dos alinhamentos megalíticos aos relógios atómicos, passando pelos de sol e pela relojoaria mecânica, nas suas vertentes grossa (de torre), média (de sala, de parede, de mesa), e fina (de bolso e de pulso). O destino final é um país com um atraso endémico na sua relação com Cronos e a explicação para este nosso fado.
sexta-feira, 12 de setembro de 2025
PORTO - CIDADE DE NÉVOA E PEDRA, de MBARRETO CONDADO | CHIADO BOOKS
Porto
– Cidade de Névoa e Pedra
Há
cidades que se mostram de imediato, outras que se revelam devagar. O Porto, não
— o Porto não é nenhuma delas — habita nas entranhas da pedra, dissolve-se na
bruma, paira no silêncio húmido que desce do Douro e cobre os telhados rubros
como um manto de memória ancestral. É uma cidade que se sente antes de se
compreender, onde o granito tem voz e o vento murmura histórias que ninguém
ousou escrever.
As
gentes do Porto dispensam ornamentos: dizem o que pensam e cumprem o que
prometem. São austeras como as fachadas da Ribeira, mas com um coração doce.
Falam com voz rouca de quem viveu muito e sorriem com dignidade, sem pedir
licença para existir. Nos olhos guardam ternura, nos gestos, uma franqueza que
embriaga mais que o próprio vinho do Porto. Aqui, a hospitalidade não se mostra
— pratica-se.
A
cidade ergue-se em socalcos e vontades, resistindo a cercos, séculos e à pressa
dos tempos. Por isso é Invicta — não por vaidade, mas por justiça. Em 1832,
durante o Cerco do Porto, suportou bombardeamentos e privações para defender a
liberdade constitucional. Foi aqui que D. Pedro IV foi aclamado, e quis
repousar simbolicamente o seu coração — um raro gesto de amor político. Séculos
antes, nas margens do Douro, nasceu o berço da nação. Daqui partiram navios que
rasgaram mares e mapas, e chegou a modernidade com fábricas, comboios e
indústria a transformar a cidade.
Nos
muros e varandas cruzaram-se fidalgos, mercadores, espadas e ideias. O Palácio
da Bolsa guarda essa nobreza ativa, unida ao labor tenaz dos homens livres. Nos
seus salões ecoam passos de reis, palavras de diplomatas e juras de alianças. O
Porto foi palco de revoltas operárias, bastião republicano e berço estudantil.
Resistiu à censura e floresceu com o 25 de Abril. O passado não descansa:
molda, arde e permanece.
Também
nos muros se escreveram versos. Do Porto saiu Almeida Garrett, mestre do romantismo
combativo. Aqui nasceu Sophia de Mello Breyner Andresen, que ouve o mar como
quem escuta o destino. Camilo Castelo Branco viveu nestas ruas as suas paixões
e tormentos — ora cúmplice, ora verdugo. Ainda hoje, o Porto é berço de
autores: livrarias respiram entre pedras, cafés e ideias. Cada rua é um poema
por escrever. O Porto transforma a dor em literatura eterna.
À
mesa, outra epopeia — íntima e heroica. Há séculos, os portuenses cederam a
melhor carne às naus, ficando com as tripas. Da escassez nasceu um prato símbolo:
as tripas à moda do Porto. Nada descreve melhor a alma da cidade — que
transforma pouco em muito, rude em belo. A gastronomia é resistência: a
francesinha desafia, o caldo verde conforta, o bacalhau, eterno companheiro, renasce
sempre. Em cada tasca pulsa uma alma, um aroma que fica na roupa e no coração.
E
há o vinho do Porto, que desce do Douro em tonéis e repousa nas caves de Gaia,
como quem adormece para sonhar. Não se bebe só — contempla-se. Doce, escuro,
profundo. Como a cidade.
Os
costumes nascem de festa e fé. No São João, sagrado e profano abraçam-se, e o
Porto transforma-se em espanto. Balões sobem como preces, martelinhos e
alhos-porros dançam entre gargalhadas, e o rio espelha as estrelas. É a noite
em que a cidade se entrega, e por um instante, todos são filhos do mesmo chão.
O
clima é um personagem à parte. Não se limita a estar — impõe-se. Os verões
cheiram a sal e sol, os invernos colam-se à pele. Mas é no nevoeiro que o Porto
encontra o seu rosto. Esse manto espesso que desce sem ruído envolve tudo,
desfoca os contornos e devolve à cidade o seu mistério. No Porto, o nevoeiro
não oculta — revela. Nas manhãs brancas, ouve-se melhor o tempo antigo, e cada
beco parece um segredo em suspensão.
Na bruma, o Porto
adormece,
com o Douro a sussurrar,
e um coração que nunca
esquece
o que sempre há-de amar.
À beira-rio, os barcos rabelos contam outro tempo. Os degraus que descem à água falam de homens que lavraram o Douro com mãos calosas e coragem. Do alto da ponte D. Luís I vê-se a cidade em camadas: velha, eterna, resistente. Lá em cima, os telhados desenham uma colcha de ferrugem e sonho.
Se
o passado é pedra, o futuro vibra nos corredores da Universidade, nas
livrarias, nos cafés onde fermentam ideias. A vida académica é pulso, juventude,
reinvenção. Chegam estudantes de todo o mundo, misturam línguas, sonhos,
culturas. Enchem jardins, ocupam teatros, desafiam praças. Diz-se que é nos
olhos deles que o Porto reaprende a ver o futuro — com ciência, arte e ousadia
feroz.
O
Porto escuta, mas também se transforma. Inova sem ruído, respeitando o que foi
para erguer o que há-de vir. Cresce para o mundo, sem perder o cais da sua
identidade.
E
entre os heróis de outrora, também o presente se projeta. O futebol — paixão
visceral — reflete a alma combativa da cidade. O azul e branco do F. C. Porto
não é apenas cor — é nervo, é orgulho tatuado no peito de milhares.
Hoje,
turistas chegam de todas as latitudes e perdem-se encantados entre a Ribeira e
a Foz, entre travessas escondidas e o brilho dos azulejos ao entardecer.
Espantam-se com a força do vinho, com a alma da comida, com a forma como o
passado habita cada esquina. E os próprios portugueses, olham para o Porto com
respeito e um fascínio silencioso — como se ali residisse uma verdade antiga,
que todos reconhecem mas poucos conseguem nomear.
No
fim, o que fica é um sentimento sem nome — um Fado quieto. O Porto não é só
cidade: é forma de ser, de estar, de amar em silêncio. Quem aqui nasce, nunca
parte por inteiro. E quem chega, se souber escutar, encontrará sempre um lugar
onde pousar o coração.
O
Porto é nevoeiro e luz, dureza e abraço. É pedra, rio, vinho e gente. Passado
que pulsa, presente que arde, futuro que sonha — sempre com alma.
MBarreto Condado
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
RESENHA | UM CONTO SOMBRIO DOS GRIMM: A VERDADEIRA HISTÓRIA DE HANSEL E GRETEL, de ADAM GIDWITZ | PLANETA
Não é a casa de chocolate que nos recebe à porta. É a floresta — escura, cerrada, inquietante. É para dentro dela que Adam Gidwitz conduz o leitor, de mãos dadas com Hansel e Gretel. Não as frágeis crianças que recordamos dos contos de infância, mas heróis improváveis, feitos de carne, medo e coragem.
O autor reveste a
narrativa de ironia e de sombras, sem nunca abandonar a centelha do humor.
Dirige-se a nós como quem partilha segredos junto à lareira, interrompe o fio
da história para nos avisar do perigo ou para se certificar de que estamos
prontos para o que aí vem. E o que aí vem raramente é dócil: há sangue, há
abandono, há dor. Mas também existe a chama da esperança, teimosa, a arder
contra todas as probabilidades.
Nesta versão, o conto não
termina quando o forno se fecha sobre a bruxa. Hansel e Gretel percorrem outros
caminhos, enfrentam novos monstros — alguns de carne, outros de alma — e, no
fim, descobrem que crescer é talvez a mais assustadora de todas as aventuras.
Mais do que uma simples
reescrita, Gidwitz devolve-nos o espírito original dos Grimm: histórias que não
nasceram para adormecer crianças, mas para despertar consciências. A sua prosa,
simultaneamente leve e cortante, reinventa os clássicos e lembra-nos que os
contos de fadas não se fazem apenas de finais felizes, mas também de cicatrizes
que nos tornam humanos.
Um Conto Sombrio dos
Grimm é, assim, um livro para ler de olhos bem abertos,
porque fechá-los seria perder a intensidade de uma viagem onde o medo e a
beleza caminham lado a lado.
Texto: Madalena Condado
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
CHUVA PESADA, de DON CARPENTER | DOM QUIXOTE
O seu destino vai levá-lo ao encontro de outra alma perdida, Billy Lancing, um génio do snooker, franzino, quase branco mas não o suficiente: é negro e sofre por isso. Um e outro vão seguir caminhos diferentes, um passará pelo reformatório, o outro pelo inferno da vida em casal, até se reencontrarem anos mais tarde, na famigerada prisão de San Quentin.
O relato que se segue dá corpo a um dos mais contundentes romances norte americanos do século XX; sombrio, cruel, violento, rasga o sonho americano, abre uma ferida profunda, uma feia cicatriz.
Objeto estranho, mergulha as personagens num poço onde apenas a luta pela sobrevivência é real; mas é nesse poço fundo e negro que descobrimos uma ténue esperança, a procura de uma identidade, de um sentido – e a mais improvável das redenções, no amor de um pai, no amor de um homem.
terça-feira, 9 de setembro de 2025
RESENHA | "ORDEM TRIPOLAR", de SÓNIA SÉNICA | PLANETA
Em “Ordem Tripolar – O
Mundo dos Grandes Poderes”, Sónia Sénica convida-nos a percorrer os labirintos
da geopolítica contemporânea, onde cada decisão, cada movimento, ecoa pelo
mundo como uma pedra lançada num lago. A autora, com olhar atento e ponderado,
debruça-se sobre o que muitos sentem, mas poucos analisam: a sensação de
declínio do Ocidente e o surgimento de forças que reclamam o seu lugar à mesa
do poder global.
A invasão russa da
Ucrânia não surge apenas como um ato militar; é, nas palavras de Sénica, o
espelho de um Ocidente vacilante e de uma Rússia que, sob o comando de Vladimir
Putin, assume-se previsível na sua imprevisibilidade. Cada passo de Moscovo,
cada gesto calculado, parece responder a um roteiro escrito há muito tempo:
restaurar influência, desafiar normas internacionais e afirmar-se num mundo que
julga estar a perder o controlo.
É neste contexto que
emerge o chamado “eixo da conveniência” sino-russo, uma parceria pragmática,
tecida na sombra do Ocidente, movida por interesses partilhados e pelo desejo
de autonomia. Sénica descreve-o com precisão: não é amizade, mas um arranjo
estratégico, onde a cooperação se equilibra com a cautela, e a ambição de um
alimenta a força do outro.
A China de Xi Jinping,
por seu turno, ergue-se como gigante meticuloso. Não se trata apenas de poder
económico, mas de uma arte de persuasão e de assertividade que redefine
fronteiras e influência. Sénica leva-nos a compreender a lógica desta ascensão,
a visão de um país que não se contenta com os limites impostos pelo passado e
ambiciona escrever o seu próprio destino no mapa do mundo.
Entre estas potências em
ascensão, a tríade multilateral – ONU, NATO e UE – surge como contraponto,
tentando manter o equilíbrio num palco cada vez mais instável. Sénica não evita
apontar as suas fragilidades, a dificuldade em responder com agilidade a
mudanças rápidas, e, ainda assim, reconhece os esforços por manter relevância
num mundo multipolar.
Por fim, a autora volta o
olhar para o seu próprio quintal: os Estados Unidos. A perspetiva de uma administração
Trump 2.0 é tratada como uma sombra de incerteza, um lembrete de que, mesmo a
potência que muitos consideram fulcral, não está imune às turbulências internas
e às contradições do seu próprio sistema. A instabilidade americana reflete-se
no panorama global, recordando que o poder não é apenas feito de recursos, mas
também de escolhas e de lideranças.
No seu todo, “Ordem
Tripolar” não é apenas um livro de geopolítica; é uma reflexão sobre o poder,
sobre a ambição e sobre os caminhos incertos de um mundo em transformação.
Sónia Sénica oferece-nos uma narrativa que desafia, que provoca pensamento e,
sobretudo, que nos recorda que compreender o mundo é, também, compreender as
complexidades e nuances de cada ator no tabuleiro internacional.
Um convite a olhar para
além das manchetes, a captar os movimentos subtis que definem o rumo do mundo e
a reconhecer que, neste intrincado jogo de poder, nada é estático e tudo está
interligado. Por isso, recomendo vivamente a leitura deste livro: uma obra
atual e esclarecedora, que nos permite compreender melhor o mundo que nos
rodeia, as suas tensões, alianças e dinâmicas silenciosas que moldam o futuro
das relações internacionais.
segunda-feira, 8 de setembro de 2025
domingo, 7 de setembro de 2025
NADA CRESCE AO LUAR, de TORBORG NEDREAAS | DOM QUIXOTE
Um clássico da literatura nórdica, publicado pela primeira vez em 1947, de uma das mais importantes escritoras norueguesas do século XX.
No crepúsculo azul de uma noite de primavera, um homem sente-se atraído por uma bela e solitária desconhecida que vê no átrio de uma estação ferroviária, e a quem oferece ajuda. Ela acompanha-o até casa e, durante uma noite inebriante de vinho e cigarros, conta-lhe a história devastadora da sua vida. Ela precisa desesperadamente de alguém com quem falar. Ele ouve-a, fascinado, e a partir dessa noite será assombrado para sempre pela revelação clara e honesta de uma alma despedaçada – tal como o leitor o será.
Aos dezassete anos, ela torna-se amante do professor de liceu, e a sua vida fica fora de controlo, dando lugar à gravidez, à pobreza e à alienação. Aqui, a escuridão e a luz convergem, e o amor não correspondido floresce no meio das sombras das injustiças sociais, enquanto ela luta pela autonomia: da sua vida, da sua mente e do seu corpo. Consumida por uma paixão obsessiva, regressa continuamente a situações em que é abusada. Por fim, ao confrontar o seu passado sem autocomiseração, sem negar a sua responsabilidade pessoal, apercebe-se do quanto o seu comportamento autodestrutivo se deve a um sistema capitalista e patriarcal que obriga as mulheres a desempenhar papéis que as tornam emocional e economicamente dependentes.
Cativante, visceral e imprescindível sobre o que significa navegar numa sociedade opressiva feita para homens, que é também uma ode intransigente ao amor, à saudade e ao desejo.
«Arrebatadoramente poderoso… a conclusão é, ao mesmo tempo, difícil de ler e impossível de desviar o olhar.»
Guardian
«Nada Cresce ao Luar é tão enigmático como o seu título. Numa estação ferroviária, no crepúsculo azul de uma noite de primavera, um homem é atraído pela visão de uma mulher, uma estranha. A cena é ao mesmo tempo elétrica e dramática... No decurso da longa noite, é revelada a história desesperada de um amor devastador e as suas consequências dolorosas.»
Irish Times
«É fantástico, é incrível.»
Pedro Almodóvar
sábado, 6 de setembro de 2025
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER, de MILAN KUNDERA | DOM QUIXOTE
A Insustentável Leveza do Ser é seguramente um dos romances míticos do século xx, uma daquelas obras raras que alteram o modo como toda uma geração observa o mundo que a rodeia. Adaptado ao cinema por Philip Kaufman, este é um livro onde se olha, com um olhar umas vezes melancólico e conformado, outras vezes amargo e revoltado, para o destino de um país, para o destino de um continente, para o destino de uma civilização. E poucas vezes se terá tão magistralmente representado a ligação existente entre a aventura individual e a coletiva…
Justapondo lugares distantes geograficamente, reflexões brilhantes e uma variedade de estilos, este magnífico romance representa o auge daquele que é, verdadeiramente, um dos maiores escritores de sempre.
sexta-feira, 5 de setembro de 2025
CAPITÃO DE ABRIL, de OCTÁVIO LOUSADA OLIVEIRA | OFICINA DO LIVRO
Esteve à beira da morte na operação que procurava livrá-lo de um cancro descoberto por acaso. Acompanhou com tristeza e preocupação os últimos anos do reinado de Jorge Nuno Pinto da Costa até decidir que não podia esperar mais – ou se candidatava ou veria o clube cair num precipício.
Desafiou o «presidente dos presidentes» e, por isso, foi alvo de todo o tipo de ataques. Não recuou e venceu as eleições, mas o primeiro ano à frente dos dragões esteve longe do sucesso desejado. Villas-Boas sabe que, se o FC Porto não voltar a ganhar rapidamente, de nada terá servido a revolução que iniciou em Abril de 2024.
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
FELIZ ANO VELHO, de MARCELO RUBENS PAIVA | ALFAGUARA
Longe de ser o simples testemunho de uma experiência dolorosa, Feliz ano velho é o retrato geracional de uma juventude que, no final dos anos 1970, experimentava a abertura do governo militar e o sonho da redemocratização. Durante o período de recuperação, Marcelo conta detalhes da sua infância e da sua juventude, dos seus casos amorosos e da sua carreira musical; fala também da repressão da ditadura militar e da perseguição aos cidadãos que se opusessem ao regime, incluindo a invasão da sua casa por seis militares que levaram o seu pai, o deputado federal Rubens Beyrodt Paiva, que Marcelo não voltaria a ver e cuja história desenvolve em Ainda estou aqui.
O estilo de Marcelo, revelado num humor despretensioso e ao mesmo tempo mordaz, afasta a narrativa de qualquer pendor para o melodrama ou a autopiedade – pelo contrário, este é um texto de enorme força que, passados mais de quarenta anos, continua atual, vibrante e uma leitura indispensável.
terça-feira, 2 de setembro de 2025
segunda-feira, 1 de setembro de 2025
O ÚLTIMO AVÔ, de AFONSO REIS CABRAL | DOM QUIXOTE
Subsiste a dúvida: o escritor morre uma semana depois.
Resta por isso ao neto — herdeiro do nome e da memória familiar — a missão de descobrir a verdade e de compreender (ou não) o gesto do avô. Mas essa busca arrasta-o sem querer para um terreno bem mais doloroso, que se prende com a fuga e a morte prematura da mãe, cuja ausência é sublinhada há anos por um quarto trancado na casa do avô.
Atravessando a intimidade de três gerações de uma família marcada por perdas, conflitos e paixões, O Último Avô conta a história da relação entre um escritor tirânico e o seu único neto, entre a herança literária e a vida real.