Hoje despedimo-nos da Clara
Pinto Correia, uma mulher que nunca passou pela vida de ninguém de forma
discreta. Tive o privilégio de trabalhar com ela, lado a lado, durante sete
anos — anos intensos, desafiantes, e inesquecíveis. A Clara era única. Era
irreverente, brilhante, inquieta. Era daquelas pessoas raras que nunca deixavam
ninguém indiferente: ou se adorava a sua força, ou se temia o seu ímpeto. Não
havia meio termo com ela, porque também não havia meias medidas na forma como
vivia.
Como todos nós, a Clara
não era perfeita — e talvez fosse justamente essa imperfeição que a tornava tão
profundamente humana. Mas a vida, por vezes, é cruel com quem mais precisa de
cuidado. E quando a Clara mais precisava de amigos, de apoio, de uma mão
estendida, encontrou-se só. Foi nessa solidão que partiu. Uma solidão que não
merecia.
Agora, depois da sua
partida, multiplicam-se as palavras, as homenagens, os elogios. Mas é
impossível não sentir a dor amarga desta ironia: falam tanto dela agora… quando
deveriam ter falado com ela. Tê-la escutado, acompanhado, abraçado. Tê-la
lembrado de que, apesar do ruído e das sombras, havia quem estivesse do seu
lado.
Hoje, neste adeus, fica a
memória de uma mulher que marcou vidas, que provocou emoções verdadeiras, que
se recusou sempre a ser apenas mais uma. Que a Clara encontre, finalmente, a
paz que tantas vezes lhe faltou em vida. E que nós, os que ficámos, aprendamos
a tempo a valorizar os vivos com a mesma intensidade com que choramos os
mortos.
MBarreto Condado

.png)



.png)
.jpg)