terça-feira, 9 de dezembro de 2025

ADEUS CLARA PINTO CORREIA

 

Hoje despedimo-nos da Clara Pinto Correia, uma mulher que nunca passou pela vida de ninguém de forma discreta. Tive o privilégio de trabalhar com ela, lado a lado, durante sete anos — anos intensos, desafiantes, e inesquecíveis. A Clara era única. Era irreverente, brilhante, inquieta. Era daquelas pessoas raras que nunca deixavam ninguém indiferente: ou se adorava a sua força, ou se temia o seu ímpeto. Não havia meio termo com ela, porque também não havia meias medidas na forma como vivia.

Como todos nós, a Clara não era perfeita — e talvez fosse justamente essa imperfeição que a tornava tão profundamente humana. Mas a vida, por vezes, é cruel com quem mais precisa de cuidado. E quando a Clara mais precisava de amigos, de apoio, de uma mão estendida, encontrou-se só. Foi nessa solidão que partiu. Uma solidão que não merecia.

Agora, depois da sua partida, multiplicam-se as palavras, as homenagens, os elogios. Mas é impossível não sentir a dor amarga desta ironia: falam tanto dela agora… quando deveriam ter falado com ela. Tê-la escutado, acompanhado, abraçado. Tê-la lembrado de que, apesar do ruído e das sombras, havia quem estivesse do seu lado.

Hoje, neste adeus, fica a memória de uma mulher que marcou vidas, que provocou emoções verdadeiras, que se recusou sempre a ser apenas mais uma. Que a Clara encontre, finalmente, a paz que tantas vezes lhe faltou em vida. E que nós, os que ficámos, aprendamos a tempo a valorizar os vivos com a mesma intensidade com que choramos os mortos.

MBarreto Condado

 


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