quarta-feira, 24 de setembro de 2025

RESENHA | QUANDO O VATICANO CAIU, de PEDRO CATALÃO MOURA | SAÍDA DE EMERGÊNCIA


Ler Quando o Vaticano Caiu, de Pedro Catalão Moura, foi como abrir uma porta para um mundo familiar que, de repente, se revelava desconhecido e inquietante. Imaginar o Vaticano — símbolo de fé e estabilidade — ameaçado pelas forças nazis provoca uma sensação desconfortável e fascinante ao mesmo tempo. Não é apenas história alternativa; é uma viagem ao que poderia ter sido, onde cada decisão pesa como uma sentença.

O Papa Pio XII deixa de ser apenas uma figura distante e histórica. Moura humaniza-o, mostrando-o hesitante, vulnerável, dividido entre dever e medo, entre fé e sobrevivência. É impossível não se deixar absorver por esta tensão constante, onde intrigas, estratégias e dilemas morais se entrelaçam de forma quase palpável.

O que mais me prendeu foi a habilidade do autor em equilibrar o rigor histórico com o drama humano. Cada cena parece medida, mas não fria; cada diálogo, calculado, mas nunca artificial. Senti-me como se estivesse à espreita nos corredores do Vaticano, consciente do perigo iminente, testemunhando decisões que poderiam alterar o curso da história.

No fim, fiquei com uma sensação ambígua: admiração pela astúcia narrativa de Moura e inquietação perante a fragilidade da história quando posta nas mãos do acaso. Quando o Vaticano Caiu não é apenas um romance de guerra ou de intriga; é um convite a pensar sobre poder, moralidade e as escolhas que definem os homens e as instituições, mesmo em tempos sombrios.

Ler este livro foi, para mim, mais do que uma experiência de entretenimento: foi um lembrete de que a história nunca é inteiramente rígida, que as sombras do passado podem assumir formas inesperadas, e que a coragem nem sempre é grandiosa, mas muitas vezes silenciosa e solitária.

 Texto: Madalena Condado

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