Em “Ordem Tripolar – O
Mundo dos Grandes Poderes”, Sónia Sénica convida-nos a percorrer os labirintos
da geopolítica contemporânea, onde cada decisão, cada movimento, ecoa pelo
mundo como uma pedra lançada num lago. A autora, com olhar atento e ponderado,
debruça-se sobre o que muitos sentem, mas poucos analisam: a sensação de
declínio do Ocidente e o surgimento de forças que reclamam o seu lugar à mesa
do poder global.
A invasão russa da
Ucrânia não surge apenas como um ato militar; é, nas palavras de Sénica, o
espelho de um Ocidente vacilante e de uma Rússia que, sob o comando de Vladimir
Putin, assume-se previsível na sua imprevisibilidade. Cada passo de Moscovo,
cada gesto calculado, parece responder a um roteiro escrito há muito tempo:
restaurar influência, desafiar normas internacionais e afirmar-se num mundo que
julga estar a perder o controlo.
É neste contexto que
emerge o chamado “eixo da conveniência” sino-russo, uma parceria pragmática,
tecida na sombra do Ocidente, movida por interesses partilhados e pelo desejo
de autonomia. Sénica descreve-o com precisão: não é amizade, mas um arranjo
estratégico, onde a cooperação se equilibra com a cautela, e a ambição de um
alimenta a força do outro.
A China de Xi Jinping,
por seu turno, ergue-se como gigante meticuloso. Não se trata apenas de poder
económico, mas de uma arte de persuasão e de assertividade que redefine
fronteiras e influência. Sénica leva-nos a compreender a lógica desta ascensão,
a visão de um país que não se contenta com os limites impostos pelo passado e
ambiciona escrever o seu próprio destino no mapa do mundo.
Entre estas potências em
ascensão, a tríade multilateral – ONU, NATO e UE – surge como contraponto,
tentando manter o equilíbrio num palco cada vez mais instável. Sénica não evita
apontar as suas fragilidades, a dificuldade em responder com agilidade a
mudanças rápidas, e, ainda assim, reconhece os esforços por manter relevância
num mundo multipolar.
Por fim, a autora volta o
olhar para o seu próprio quintal: os Estados Unidos. A perspetiva de uma administração
Trump 2.0 é tratada como uma sombra de incerteza, um lembrete de que, mesmo a
potência que muitos consideram fulcral, não está imune às turbulências internas
e às contradições do seu próprio sistema. A instabilidade americana reflete-se
no panorama global, recordando que o poder não é apenas feito de recursos, mas
também de escolhas e de lideranças.
No seu todo, “Ordem
Tripolar” não é apenas um livro de geopolítica; é uma reflexão sobre o poder,
sobre a ambição e sobre os caminhos incertos de um mundo em transformação.
Sónia Sénica oferece-nos uma narrativa que desafia, que provoca pensamento e,
sobretudo, que nos recorda que compreender o mundo é, também, compreender as
complexidades e nuances de cada ator no tabuleiro internacional.
Um convite a olhar para
além das manchetes, a captar os movimentos subtis que definem o rumo do mundo e
a reconhecer que, neste intrincado jogo de poder, nada é estático e tudo está
interligado. Por isso, recomendo vivamente a leitura deste livro: uma obra
atual e esclarecedora, que nos permite compreender melhor o mundo que nos
rodeia, as suas tensões, alianças e dinâmicas silenciosas que moldam o futuro
das relações internacionais.
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