terça-feira, 9 de setembro de 2025

RESENHA | "ORDEM TRIPOLAR", de SÓNIA SÉNICA | PLANETA

Em “Ordem Tripolar – O Mundo dos Grandes Poderes”, Sónia Sénica convida-nos a percorrer os labirintos da geopolítica contemporânea, onde cada decisão, cada movimento, ecoa pelo mundo como uma pedra lançada num lago. A autora, com olhar atento e ponderado, debruça-se sobre o que muitos sentem, mas poucos analisam: a sensação de declínio do Ocidente e o surgimento de forças que reclamam o seu lugar à mesa do poder global.

A invasão russa da Ucrânia não surge apenas como um ato militar; é, nas palavras de Sénica, o espelho de um Ocidente vacilante e de uma Rússia que, sob o comando de Vladimir Putin, assume-se previsível na sua imprevisibilidade. Cada passo de Moscovo, cada gesto calculado, parece responder a um roteiro escrito há muito tempo: restaurar influência, desafiar normas internacionais e afirmar-se num mundo que julga estar a perder o controlo.

É neste contexto que emerge o chamado “eixo da conveniência” sino-russo, uma parceria pragmática, tecida na sombra do Ocidente, movida por interesses partilhados e pelo desejo de autonomia. Sénica descreve-o com precisão: não é amizade, mas um arranjo estratégico, onde a cooperação se equilibra com a cautela, e a ambição de um alimenta a força do outro.

A China de Xi Jinping, por seu turno, ergue-se como gigante meticuloso. Não se trata apenas de poder económico, mas de uma arte de persuasão e de assertividade que redefine fronteiras e influência. Sénica leva-nos a compreender a lógica desta ascensão, a visão de um país que não se contenta com os limites impostos pelo passado e ambiciona escrever o seu próprio destino no mapa do mundo.

Entre estas potências em ascensão, a tríade multilateral – ONU, NATO e UE – surge como contraponto, tentando manter o equilíbrio num palco cada vez mais instável. Sénica não evita apontar as suas fragilidades, a dificuldade em responder com agilidade a mudanças rápidas, e, ainda assim, reconhece os esforços por manter relevância num mundo multipolar.

Por fim, a autora volta o olhar para o seu próprio quintal: os Estados Unidos. A perspetiva de uma administração Trump 2.0 é tratada como uma sombra de incerteza, um lembrete de que, mesmo a potência que muitos consideram fulcral, não está imune às turbulências internas e às contradições do seu próprio sistema. A instabilidade americana reflete-se no panorama global, recordando que o poder não é apenas feito de recursos, mas também de escolhas e de lideranças.

No seu todo, “Ordem Tripolar” não é apenas um livro de geopolítica; é uma reflexão sobre o poder, sobre a ambição e sobre os caminhos incertos de um mundo em transformação. Sónia Sénica oferece-nos uma narrativa que desafia, que provoca pensamento e, sobretudo, que nos recorda que compreender o mundo é, também, compreender as complexidades e nuances de cada ator no tabuleiro internacional.

Um convite a olhar para além das manchetes, a captar os movimentos subtis que definem o rumo do mundo e a reconhecer que, neste intrincado jogo de poder, nada é estático e tudo está interligado. Por isso, recomendo vivamente a leitura deste livro: uma obra atual e esclarecedora, que nos permite compreender melhor o mundo que nos rodeia, as suas tensões, alianças e dinâmicas silenciosas que moldam o futuro das relações internacionais.

Texto: Madalena Condado


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