Não é a casa de chocolate que nos recebe à porta. É a floresta — escura, cerrada, inquietante. É para dentro dela que Adam Gidwitz conduz o leitor, de mãos dadas com Hansel e Gretel. Não as frágeis crianças que recordamos dos contos de infância, mas heróis improváveis, feitos de carne, medo e coragem.
O autor reveste a
narrativa de ironia e de sombras, sem nunca abandonar a centelha do humor.
Dirige-se a nós como quem partilha segredos junto à lareira, interrompe o fio
da história para nos avisar do perigo ou para se certificar de que estamos
prontos para o que aí vem. E o que aí vem raramente é dócil: há sangue, há
abandono, há dor. Mas também existe a chama da esperança, teimosa, a arder
contra todas as probabilidades.
Nesta versão, o conto não
termina quando o forno se fecha sobre a bruxa. Hansel e Gretel percorrem outros
caminhos, enfrentam novos monstros — alguns de carne, outros de alma — e, no
fim, descobrem que crescer é talvez a mais assustadora de todas as aventuras.
Mais do que uma simples
reescrita, Gidwitz devolve-nos o espírito original dos Grimm: histórias que não
nasceram para adormecer crianças, mas para despertar consciências. A sua prosa,
simultaneamente leve e cortante, reinventa os clássicos e lembra-nos que os
contos de fadas não se fazem apenas de finais felizes, mas também de cicatrizes
que nos tornam humanos.
Um Conto Sombrio dos
Grimm é, assim, um livro para ler de olhos bem abertos,
porque fechá-los seria perder a intensidade de uma viagem onde o medo e a
beleza caminham lado a lado.
Texto: Madalena Condado
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