quarta-feira, 31 de maio de 2017

OPINIÃO | Margarida Veríssimo


A partir da próxima sexta-feira dia 02 de Junho, Margarida Veríssimo começará a sua colaboração semanal com o Jornal Nova Gazeta.





Margarida Veríssimo nasceu em Lisboa há 47 anos. Licenciada em arquitetura deixou Lisboa aos 24 anos para ir morar na aldeia, na casa onde seu pai nasceu em Ansião. Em 1998 muda-se, já casada, para Condeixa onde nascem os seus 2 filhos. Estas mudanças permitiram-lhe a vivência de 3 realidades distintas: viver na cidade, na aldeia e numa vila.

ENTREVISTA | Paulo Costa Gonçalves "...só posso ir longe com este género e com o inspetor Alex se for acompanhado."



Texto e Fotos: Madalena Condado


Para quem ainda não o conhece, Paulo Costa Gonçalves é sociólogo e autor, mas acima de tudo um apaixonado pela vida. Bom companheiro de conversas, costuma descrever-se como um aprendiz, uma espécie de escritor que adora a nossa História colocando-a sempre como fio condutor em todos os seus livros.
Através da sua escrita conhecemos e aprendemos a amar o inspector Alexandre Melo, este investigador que tem a singular capacidade de nos entrar pela imaginação como um pensamento tornando-se num vicio difícil de saciar. Se nos seus anteriores livros começámos a acompanhar as aventuras e desventuras deste homem que aprendemos carinhosamente a tratar por Alex, no “Enigma da Mentira”, voltarmos a sentir-nos novamente catapultados para as suas investigações, acompanhando cada momento como se fosse o último, vibrando com as suas decisões, opondo-nos a algumas delas, mas acabando sempre por nos sentirmos parte integrante daquele mundo enquanto devoramos as suas páginas na ânsia de saber mais. Damos por nós a ler como se um filme se desenrolasse na nossa imaginação e começamos a refrear a nossa leitura quando sentimos que nos aproximamos do seu último capítulo. A verdade é que é difícil resistir à escrita criativa do seu criador.
Por saber que o Paulo vende muito bem em países como a Argentina e o Brasil, perguntei-lhe para quando os seus livros em outros idiomas. Garantiu-me que poderá estar para breve apesar de sentir que a sua escrita acabará por perder muito com as traduções. 
O “Enigma da Mentira”, o terceiro livro de Paulo Costa Gonçalves foi apresentado no passado dia 9 de abril no café literário da Chiado Editora, o local ideal para receber mais uma aventura do nosso inspector, numa sala cheia de leitores ávidos onde a conversa fluiu como é habitual com o Paulo. Ficou ainda no ar a possibilidade de enveredar por outro género literário mantendo sempre o nosso apetite saciado no que diz respeito ao inspector Alex Melo.
Mas nada melhor do que falarmos com ele.

MBC - Para os leitores que ainda não te conheces como te apresentarias?
PCG - Apresentar-me-ia como um autor que passo a passo, neste caso livro a livro, tenta singrar no panorama literário português e num género, o romance policial, onde não existem referências nacionais ao nível da ficção o que leva muitos dos leitores a fazerem comparações com autores internacionais e com uma maior incidência no Dan Brown, talvez pelos acontecimentos históricos que uso para criar os enredos das histórias dos meus livros. Ou seja, como costumo dizer: histórias que se cruzam com a História. Sou ainda alguém que tem consciência do panorama literário nacional, distribuição, etc., e por isso com os pés bem assentes no chão e que estranhamente ou talvez não tem inúmeras encomendas de livros vindas dos quatro cantos do mundo. Em suma, por mais estranho que possa parecer tenho mais encomendas via redes sociais do que o que se vende nas lojas.

MBC - Porquê um inspector Alexandre Melo? Foi uma personagem baseada em alguém que conheças? Talvez um pouco em ti mesmo?
PCG - O inspetor Alexandre Melo, Alex para os amigos, foi pensado um pouco como um género de Hercule Poirot contemporâneo. No entanto enquanto o personagem da Agatha Christie era um detective particular, o meu inspetor é um mero agente da polícia judiciária portuguesa, com vida pessoal e o oposto do super-herói, e conjuga a sua intuição com a ciência forense, não deixando, contudo, de mesmo contra todas as provas por vezes bem fundamentadas na ciência forense de seguir a sua intuição e com isso fazer a diferença. Se há nele um pouco de mim? Sim, penso que sim, mas também um pouco de cada um de nós. No meu caso e sendo sociólogo que trabalha muito no terreno e numa contemporaneidade em constante mutação há alturas em que também tenho que sair das ditas “conchas teóricas” onde assenta muita da investigação sociológica para uma melhor obtenção de resultados. No de todos nós, porque o Alex é um homem normal, inspetor da polícia que tem uma vida normal com amores e desamores como qualquer comum mortal com quem nos podemos cruzar na rua, assim como todos os personagens dos meus livros. 


MBC - Fala-nos um pouco do teu processo criativo. O que te inspira, qual o segredo para manteres os teus leitores agarrados à leitura sempre com receio de que a estória tenha um fim.
PCG - Desde criança que sempre gostei muito de ler e as minhas leituras também desde cedo foram transversais a todos os géneros literários, contudo houve sempre alguma preferência pela História e pelos policiais. A História pelo conhecimento mais dos acontecimentos e o que influenciaram o percurso da humanidade e menos do herói, e os policiais pelo entretenimento de horas bem passadas. Digamos que é um misto disso que tento passar nos meus livros. Isto é, dar a conhecer alguns acontecimentos históricos e praticamente desconhecidos de todos e depois o entretenimento de um enredo policial com base nesses mesmos acontecimentos. Por exemplo, em O Herdeiro de Antioquia, e a sequela. Sob estranhos céus, a base foi a conquista da cidade de Antioquia em 1098, durante a primeira cruzada e o que aconteceu e que por muito que não se queira acreditar aconteceu. Já no recente Enigma da Mentira a base é um documento que relata uma incursão viking em 1015 na zona onde se situava e ainda se situa a cidade do Porto e a história de um lavrador que viu as suas três filhas serem raptadas pelos invasores e tudo o que ele passou para as resgatar. Depois pego nesses acontecimentos e em descendentes contemporâneos de quem os viveu e crio uma história onde esses descendentes fazendo uso dos mais diversificados ardis tentam tirar benefícios próprios. Acontece que como tento escrever sobretudo histórias que sejam de fácil leitura e para entretenimentos dos leitores e onde eles passem umas horas, digamos desligados dos problemas da vida, os livros acabam por ter um ritmo que muitos consideram algo cinematográfico. Inclusive muitos dos feedbacks dos leitores sublinham, por um lado, precisamente isso e a sensação que têm de estar a ver um filme e até se esquecerem das horas, de trocarem de transportes ou passarem a noite em branco embrenhados na leitura e, por outro lado, confidenciam que por vezes têm a sensação que conhecem aquele personagem, que têm a ideia de já se terem cruzado com ele na rua, etc.    

MBC - Planos para um futuro próximo. Podes garantir-nos que independentemente de enveredares por outros géneros de escrita continuaremos a vibrar com as fantásticas aventuras do inspector Melo?
PCG - Sim, as histórias do inspetor Alex que se cruzam com a História são para continuar enquanto os leitores assim o desejarem e existam editoras dispostas a apostar, porque como disse anteriormente trata-se de um género sem referencial nacional e pelo que julgo saber existem apenas dois ou três autores, pelo menos com o seu nome real e sem disfarces de pseudónimos anglo-saxónicos, a tentar singrar neste género, inclusive no passado Dinis Machado com o pseudónimo de Dennis McShade também fez algumas incursões no género mas sem grande sucesso. O que quero dizer é que como diz um proverbio africano: se queres ir depressa vai sozinho, mas se quiseres ir longe vai acompanhado. No fundo é isso, só posso ir longe com este género e com o inspetor Alex se for acompanhado tanto pelos leitores, como pelas editoras que queiram apostar num “terreno ainda virgem”. No entanto gostava também de abordar um outro género que embora tenha já o enredo na cabeça e algumas coisas no papel ainda não consegui fazer a abordagem que realmente me satisfaça. Não é um género fácil e tem alguma complexidade porque é algo relacionado com segundas oportunidades que nos podem ser proporcionadas após a morte.


MBC - O próximo passo lógico para quem já leu os livros seria uma série televisiva. Podes adiantar-nos algo acerca disso?
PCG - Bem… é algo que não desdenharia até porque como já referi os leitores referem-se aos meus livros como: terem a sensação de estar a ver um filme. Apenas posso dizer que após o lançamento de O Herdeiro de Antioquia houve alguém bem conhecido no panorama televisivo e das novelas que, após ter lido o livro, me contactou e questionou a minha opinião sobre o assunto, mas foi algo que não passou disso mesmo, de uma mera abordagem, talvez prematura ou talvez como uma ideia de futuro. Honestamente não sei porque a coisa ficou por ali mesmo e já se passaram dois anos. 



terça-feira, 30 de maio de 2017

OPINIÃO | Ana Kandsmar

A partir do próximo Sábado dia 03 de Junho, Ana Kandsmar começará a sua colaboração semanal com o Jornal Nova Gazeta.


 Ana Kandsmar é mãe, autora, jornalista, copywriter e blogger. Mentora do projecto literário Bee Dynamic Books - agência de divulgação de novos autores. Escreve por prazer. Por paixão. Por necessidade. Lê muito. Para se evadir. Para se construir. Para aprender. Nasceu na década de 70 e cresceu com livros. Os seus e os dos outros. Em 2004, apaixonou-se pela blogosfera e foi ficando. Doze anos depois, continua a depositar as suas reflexões em cadernos virtuais. A Vida Dá Muitas Vodkas é o que resta de uma caminhada que se iniciou com o Divagações, depois veio o Luana, e agora, que o tempo é pouco, fica-se pelo registo mais ou menos regular das voltas que a vida lhe dá. “A Guardiã- O livro de jade do Céu”, é o romance histórico/fantástico que publicou em 2015. No mesmo ano, participou com o conto “Kilimanjaro”, na antologia de contos de autores da editora Capital Books.

terça-feira, 9 de maio de 2017

ENTREVISTA | Paula Veiga "Leonor de Lencastre, foi uma mulher fabulosa"


Texto e Fotos: Madalena Condado



Paula Veiga falou-me do seu mais recente livro “A Rainha Perfeitíssima”, editado pela Saída de Emergência e inserido na coleção “História Portuguesa em Romances” onde se cobrem quase quatro séculos de história através dos cinco continentes.
Neste seu novo romance ficamos a conhecer D. Leonor de Lencastre em toda a sua plenitude, como mulher, mãe, tia, educadora, regente, benemérita, mecenas e Rainha.

Sabendo que a autora faz sempre uma intensiva investigação para todos os seus processos criativos, fico ansiosamente à espera do que ainda tem guardado “dentro da gaveta”, com a certeza, porém de que será uma nova e fantástica obra, seja ela sobre o império romano ou sobre a segunda Grande Guerra Mundial.

MBC - Rainha Perfeitíssima, para quem ainda não leu o livro o que pode esperar tendo em conta o título? 
PV - O leitor pode esperar uma obra biográfica sobre esta rainha.
D. Leonor enfrentou durante a sua vida algumas tragédias pessoais, sendo confrontada, desde muito nova, com a morte dos irmãos, do pai e de um filho (um nado morto em 1483). Anos mais tarde, morreria o príncipe herdeiro, num acidente suspeito, em 1491.
Após a morte do filho veio a desilusão quando o seu marido, em substituição do seu próprio filho, tentou colocar no trono o seu descendente bastardo, D. Jorge, filho de D. Ana de Mendonça, fidalga de Castela.
A sua vida foi fértil em tragédias e amarguras. Veja-se, por exemplo, as contendas entre o seu marido, D. João II, e a nobreza. As conspirações sucediam-se e culminaram não só na prisão, como posteriormente na execução, do duque de Bragança (seu cunhado) como também na morte do duque de Viseu, D. Diogo (seu irmão), com um punhal no peito, às mãos de El-Rei.
Também a morte do Rei, seu marido, provavelmente envenenado, em 1495, não foi facilmente ultrapassável porque levantaram-se falsas suspeitas contra ela.
É a minha singela homenagem a uma grande mulher. Na minha opinião, a uma mulher Perfeitíssima!

MBC - Porquê esta rainha em particular quando a nossa história está repleta de rainhas com as mesmas qualidades, virtudes, e com tanta intensidade de momentos marcantes durante os seus reinados?
PV - Porque na minha opinião, Leonor de Lencastre, foi uma mulher fabulosa! Provavelmente a monarca mais culta e magnânima que o reino de Portugal alguma vez viu nascer. Era uma rainha que se preocupou com as causas sociais, com os desfavorecidos, com os doentes e criou as Misericórdias que ainda hoje têm um papel activo na nossa sociedade. Criou igualmente vários hospitais e outras construções relevantes, entre os quais destaco: o Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, o Hospital de Todos os Santos, o Convento da Madre de Deus, o Convento da Anunciada, a igreja de Nossa Senhora da Merceana, a Igreja de Santo Elói e o Convento de S. Bento, de Xabregas.
O seu legado. O amor que tinha pelos mais desfavorecidos, o esforço que empreendeu na luta contra a miséria, o empenho com que se dedicou a esta causa tão nobre que foi o princípio orientador da sua acção como rainha.
A Rainha também deu uma notável contribuição à divulgação das artes e das letras, nomeadamente ao ter encomendado e mandado imprimir as obras de Gil Vicente. A título de exemplo, saliento o “Auto da Visitação”, o “Auto da Alma”, “Auto da Barca do Inferno” e a “Auto da Barca do Purgatório”. Divulgou, igualmente, autores estrangeiros, entre os quais posso destacar o livro de Marco Polo; o Livro de Nicolau Veneto; Carta de um Genovês mercador; o livro do “Os actos dos Apóstolos”, o “Bosco Deleitoso”, “O espelho de Cristina”;

MBC - Podemos esperar uma continuação? Possivelmente a vida de outra rainha? Para quando? 
PV - Sim, sem dúvida! Já escrevi mais três Romances Históricos, depois de ter escrito este sobre D. Leonor, mas nenhum deles versa sobre outra rainha. Estas obras estão para apreciação da minha editora e espero que sejam editadas brevemente.


terça-feira, 2 de maio de 2017

CRÍTICA LITERÁRIA | "Escrito na Água", de Paula Hawkins | TOPSELLER



Crítica por Isabel de Almeida | Crítica Literária | Blogger Literária

Dia 2 de Maio - Lançamento Mundial da Obra


Escrito na Água é o mais recente thriller psicológico de Paula Hawkins, sendo o resultado de um delicado e moroso trabalho de escrita ao longo de três anos, começamos por dizer que o investimento relativamente longo no trabalho de construção da narrativa fica patente na riqueza e no cuidado estilo literário imprimido à obra, a qual, além de narrar uma história carregada de simbolismo, suspense e, não um mas vários mistérios (como a própria autora destacou em missiva dirigida aos leitores iniciais) incita à reflexão acerca de temas bastante caros a Paula Hawkins, designadamente: o lugar das mulheres no mundo, a relação das mulheres entre o seu género, a pouca fiabilidade da memória e o poder da narrativa.

O ponto de partida para a trama é o regresso de Jules (Julia) Abott à localidade onde nasceu - Beckford - na Inglaterra, para se defrontar com a morte da irmã mais velha Nel Abbot, com a qual tinha uma relação conturbada e mal resolvida que nos vai sendo apresentada no decurso da narrativa, a par do mistério principal que se prende com a causa ou as motivações das mortes que ocorrem no rio local, em especial, numa zona conhecida como "O poço das Afogadas". Uma das grandes questões que se levanta é: será a morte de Nel suicídio ou homicídio?

Será o rio um local de rituais simbólicos, o sítio onde Nel e outras mulheres ao longo dos séculos, procuraram a morte como libertação de uma vida que não lhes era satisfatória? Ou é o rio um instrumento ideal para punir mulheres consideradas problemáticas ( no sentido em que não se conformam às normas instituídas socialmente?).

Como protagonistas encontramos Jules (irmã da falecida Nel), Lena, a rebelde e inconformada filha adolescente da falecida Nel, Louise Wittaker  (mãe do jovem Josh) que vive a dor inexplicável de ter perdido recentemente a filha Katie (melhor amiga de Lena), a equipa de investigação local que é chamada a averiguar as circunstâncias em que decorreu a morte de Nel ( uma mulher sedutora, um espírito livre, escritora que sempre nutriu uma obsessão pelo rio e pelas mortes por afogamento de várias mulheres que ali foram ocorrendo, e que se encontrava a escrever um livro acerca deste tema que poderia ser incómodo até para si mesma). Existem diversas personagens, e cada uma delas apresenta a sua perspectiva enquanto participante na história, numa narrativa na primeira pessoa que bastante prende o leitor e o transporta para a essência psicológica e densidade das mesmas.

Dividido em quatro partes, o livro vai envolvendo o leitor na história, num clima de suspense permanente até ao climax final, pese embora seja viciante, os temas abordados são tão pertinentes e reais que aconselhamos vivamente uma leitura que diríamos de degustação, sendo difícil resistir à tentação de saborear algumas passagens e de ir fazendo anotações ao longo da leitura. 

Estamos aqui perante mais do que uma simples história de mistério, ou um simples thriller psicológico, estamos sim perante uma obra literária na sua verdadeira essência, com um olhar maduro e ponderado acerca de questões psicológicas, filosóficas e sociológicas, e mais do que a própria história, é este o aspecto que mais nos fascinou nesta leitura.

Em termos psicológicos, somos brindados com a particular dinâmica relacional entre Jules e a sua falecida irmã Nel, a rivalidade entre irmãs, a competição, a luta pelo exercício do poder torna-se evidente aos nossos olhos: "Sempre tive um pouco de medo de ti. Tu Sabias disso, divertias-te com o poder que te dava sobre mim. (...)"

Encontramos momentos de reflexão sociológica e filosófica bastante profundos e actuais: "(...) as histórias dos adultos estavam cheias de crueldades estúpidas: criancinhas recusadas à entrada das escolas porque a sua pele era de uma cor errada; pessoas espancadas ou mortas por adorarem o deus errado.(...)"

Há um aspecto que gostaríamos de destacar, por ter sido esta a nossa leitura da história, o rio assume aqui um papel deveras relevante na economia da narrativa, na medida em que todas as personagens estão directamente ligadas ao mesmo, ou porque este as fascina, ou porque nele perderam pessoas que lhe eram próximas e queridas. O rio transporta na obra um simbolismo marcadamente dialéctico que evoca uma perspectiva filosófica heraclitiana, recordando Heráclito de Efeso:"Não é possível descer duas vezes no mesmo rio; nós próprios somos e não somos." (Fragmento 49, In, No Reino dos Porquês, Filosofia, 10º ano). Ou seja, nada permanece estanque, nem o rio, nem as pessoas à sua volta, e o mundo avança através de uma eterna luta entre contrários, vejamos este excerto de escrito na Água que evidencia esta ideia: "Tive um acesso súbito de clareza: não tinha de ser fixa, podia ser fluída, como o rio.(...)"

Os jogos de poder e de sedução como exercício de poder, a possibilidade de serem criadas falsas memórias, e também sempre muito presente em diversas personagens encontramos uma palavra chave - a culpa, a culpa associada ao passado, às perdas, à forma como são elaboradas e vividas diversas emoções, tudo isto podemos encontrar neste livro, o que revela a maturidade da autora já plenamente plasmada na sua escrita. Muito mais poderíamos dizer, mas receamos cair no risco de spoilers, e por isso, aqui deixamos algumas pistas e a recomendação sem hesitações desta leitura.

A escrita de Paula Hawkins é perfeita, e a sua perspicácia enquanto observadora do mundo que a rodeia é manifestada de forma brilhante em Escrito na Água.


Ficamos bastante expectantes em relação à adaptação cinematográfica do livro.

Ficha Técnica do Livro:


Autora: Paula Hawkins

Edição: 2 de Maio de 2017


Nº de Páginas: 384

Género: Thriller Psicológico

Nota de redacção: o Jornal Nova Gazeta agradece ao blog parceiro Os Livros Nossos e à Topseller o apoio prestado na disponibilização deste artigo de crítica literária, mediante acesso a um exemplar de avanço da obra facultado ao blog.

ARTES | Setúbal celebra a dança com Jovens Coreógrafos


Texto: Isabel de Almeida

Foto: Câmara Municipal de Setúbal | Direitos Reservados

O Dia Mundial da Dança foi celebrado em Setúbal, dando lugar aos mais jovens. O Fórum Municipal Luísa Tody acolheu, no passado Sábado o espectáculo Jovens Coreógrafos, promovido pela Pequena Companhia da Academia de Dança Contemporânea de Setúbal.

O evento, que se insere no âmbito da Semana da Dança, a ter lugar em Setúbal até 14 de Maio, é o fruto do trabalho de Catarina Correia, Filipa Peraltinha e Letícia Marques, coreógrafas e bailarinas formadas na Academia de Dança Contemporânea de Setúbal (ADCS), e de Inês Pedruco, formada no Conservatório Nacional e que é, actualmente, Professora naquela instituição Setubalense.

Este trabalho tornou possível aos alunos experienciar  diversas linguagens técnicas da dança.

O projecto Jovens Coreógrafos tem como propósito divulgar junto do público trabalhos de antigos alunos do estabelecimento de ensino artístico sadino e de bailarinos e coreógrafos de diferentes pontos do país em início de carreira, dando assim, voz a jovens talentos.