sábado, 30 de dezembro de 2017

CRÍTICA LITERÁRIA | "Reino de Feras", de Gin Phillips | SUMA DE LETRAS



Texto: Isabel de Almeida | Crítica Literária | Jornalista

Foto Capa: Suma de Letras | Penguin Random House | D.R.


   Reino de Feras, de Gin Phillips, é uma das apostas editoriais da Suma de Letras (Chancela do Grupo Editorial Penguin Random House) para 2018, constituindo uma nova incursão no género Thriller, uma tendência que parece estar de volta no âmbito das novidades  literárias no mercado editorial Português. 

Primeiro ponto forte da obra, apesar de acção decorrer em poucas horas, é a tensão é permanente, e sendo as personagens colocadas num cenário de elevado risco de vida e de luta pela sobrevivência após ficarem retidos inadvertidamente num jardim zoológico, espaço onde habitualmente se deslocam para alguns momentos  de lazer, o leitor fica facilmente envolvido nesta tensão, o que leva a que a leitura tenha mesmo de ser rápida, pois ficamos ansiosos para saber o desenlace final da trama e sofremos com o perigo constante que correm os nossos protagonistas. O ritmo narrativo chega a ser alucinante, o que estimula a leitura contínua, sendo o livro ideal para ler num único dia (ou noite).

   As personagens centrais desta trama, são Joan e o seu precoce e inteligente filho Lincoln, uma criança bastante perspicaz, criativa e intuitiva. 

   Joan é uma mãe cuidadosa e que mantém uma relação deveras próxima e simbiótica  com o filho, investindo bastante na relação entre ambos, e retirando enorme gratificação emocional de cada segundo que passa na companhia do filho, aderindo às suas brincadeiras e estimulando o seu imaginário e os seus conhecimentos e referências mesmo ao nível cultural, sendo evidente ao leitor que é muito em função desta relação que Lincoln é uma criança bastante precoce e dotada de um vocabulário bastante mais elaborado e alargado do que o de muitas crianças da sua idade.

   Em termos psicológicos, é muito interessante analisar esta ligação visceral entre mãe e filho, chegando a ser perceptível que estes, muitas vezes, quase se fundem, funcionando como a extensão ou complemento um do outro, ao ponto de ser insuportável para a mãe a sensação de que a sua pele deixe de estar em contacto com a pele do filho, o que poderá simbolicamente interpretado como uma relação de simbiose psicológica entre ambos, numa interpretação à luz da psicologia dinâmica (de base Freudiana) que aqui não resistimos a evocar.

   As personagens centrais são bastante densas, e fica perfeitamente caracterizado o seu espaço psicológico (forte ligação entre mãe e filho) e social (família de classe média alta). Interessante também são as recordações de Joan acerca da sua própria infância, e das figuras de referência que a povoaram, que nem sempre corresponderam ao que ela idealizava, notam-se indícios de uma relação com uma mãe pouco próxima, pouco marcante, pouco interventiva, o que poderá ser uma das explicações para a postura de Joan como mãe que quer ser perfeita e estar sempre presente. O pai de Joan surge sempre mencionado aludindo à sua qualidade de caçador, denotando-se que não haveria muitos interesses em comum para partilhar de forma construtiva com a filha ( e aqui podemos também especular acerca de ser esta uma razão adicional para Joan procurar suprir todas as necessidades de "nutrição" intelectual do filho).

   Perante uma situação limite, onde se encontra colocada em crise a própria sobrevivência, o livro suscita também, da parte do leitor, uma aturada reflexão acerca de quais os limites morais e éticos de conduta quando está em causa a diferença entre sobreviver ou morrer. Até onde pode ou deve ir uma mãe leoa-humana para proteger a sua cria? São legítimas todas as suas acções para proteger o filho? O que faria o leitor numa situação limite?

   O Vilão é, por si só, quase uma personagem tipo, alguém que sendo ainda jovem, e não tendo tido um processo de desenvolvimento estruturado, não tendo tido modelos parentais competentes, revela falhas na formação da sua identidade, e tem tanto de cruel quanto de ingénuo e influenciável, apostando na violência como forma de afirmação pessoal e acreditando, ingenuamente e contra toda a lógica racional, que achou o caminho certo para ser reconhecido pelos outros, pois apresenta uma vivência de negligência dos pais, parecem-nos reunidos indícios de ter sido vítima de bullying escolar, e não consegue ser valorizado em nenhum contexto dito normativo, dai ser perfeitamente verosímil a sua opção pela violência como alternativa a uma eterna insignificância, numa lógica retorcida que poderá até manifestar algum nível de défice cognitivo.

   Aliás, o título da obra acaba por conter em si uma metáfora, se o enquadrarmos à luz da narrativa, na medida em que as "feras" a que o título se refere não são tout court os animais do Jardim Zoológico, existem feras humanas, e quantas vezes estas são as mais temíveis e predatórias?

   Uma história forte, personagens bem construídas, uma escrita cuidada e com evidente qualidade literária, um clima de tensão permanente, muito perigo e suspense, a receita certa para começar o ano literário, se estiver preparado para emoções fortes!


Ficha Técnica do Livro:


Título: Reino de Feras (nas livrarias a 2 de Janeiro)

Autora:  Gin Phillips

Editora: Suma de Letras

ISBN: 978 989 6655 259

Nº de Páginas: 270  Páginas

PVP c/ IVA: 17,45€

Nota de redacção: a Nova Gazeta agradece à Suma de Letras a disponibilização de exemplar para leitura antecipada da obra.




CRÓNICA | Reflexões Ocasionais - Ano Novo, Vida Nova? | ISABEL DE ALMEIDA

   A chegada de um novo ano é propícia a balanços do ano que finda e a grandes expectativas relativamente ao ano que agora começa. Trata-se de um lugar-comum, mas é algo que está tão programado na nossa cultura que damos por nós, ainda que inconscientemente, a deixar-nos arrastar para tal ilusão anual de um futuro melhor. 

   Com alguma ingenuidade pensamos sempre, com mais ou menos variantes, coisas deste género: desta é que vai ser! Vou cumprir as metas que tracei! Vou conseguir realizar velhos sonhos! Vou alcançar a desejada estabilidade profissional! Vou arriscar e ganhar! Vou cortar relações com todos aqueles que só se lembram de mim quando precisam e porque precisam! Vou fazer um detox mental! Vou, finalmente, escrever o livro que ando há anos a adiar! Vou ter perfeitamente em dia as listas de leituras, séries televisivas e filmes! Vou disciplinar-me e não trazer trabalho para casa, libertando mais tempo para estar com a família e amigos! Vou reaproximar-me de familiares e amigos que tenho negligenciado em atenção! Vou retomar contacto com aqueles amigos da faculdade que, há anos, não vejo!

   Certamente, numa lista tão extensa, vamos acreditar que algumas das metas podem e vão ser alcançadas, mas nunca porque as planeámos ou porque tenhamos em mãos o mágico comando à distância que permite, com uma simples pressão no botão certo, controlar a nossa vida, a nossa disponibilidade, a conjuntura familiar, relacional e profissional de cada um de nós,

   Nunca vamos conseguir libertar-nos da pressão e do ritmo vertiginoso de vida que a sociedade, e nós que nela estamos inseridos, imprimimos às nossas pobres existências.

   Diariamente, um cruel e perverso determinismo sobrepõe-se e asfixia o nosso livre arbítrio, leva-nos a aceitar, em regime de voluntariado à força, as regras do socialmente correcto (coisas tão banais como aceitar a mudança da hora, cumprimentar quem connosco se cruza na rua, sorrir em público e calar a angústia que possa oprimir-nos porque "chorar é feio", evitar contestar algumas instituições, mesmo quando falham redondamente, porque podemos sofrer retaliações, atender o telemóvel ou abrir a porta quando a campainha começa a retinir no exacto momento em que nos sentámos no sofá com o nosso livro do momento na mão).

   Fica-me a assombrar a eterna dúvida: valerá a pena mudar de ano? Ou mudar pode piorar mais o contexto actual?

   Devíamos ter o direito de optar por deixar ou não que os anos passem. Eu continuo a achar que o ano novo é a parte ilusória e visível de uma conspiração obscura onde tudo o que pagamos aumenta e, consequentemente, o pouco que ganhamos diminui. 

   A ilusão está em, inevitavelmente, reunirmos em nós as forças da esperança de que tudo melhore e mude. Ou muito me engano, ou tudo tende a mudar, sim, para pior, pelo menos à partida (assim de repente, vão subir os combustíveis, o preço dos transportes, a conta da luz, a conta da água, vivemos num país onde a expressão "Estado de Direito Democrático" é letra morta, pelo menos no que diz respeito à prática de diversas profissões liberais, e já agora também gostaria de perceber o que se entende hoje por "profissão liberal") o problema é que só saberemos quando estivermos a olhar para trás no habitual balanço do que passou.

   Em suma, controlamos tão pouco ou nada as teias que tecem o nosso destino, que livre, livre,  e por enquanto também isento de tributação fiscal, só o nosso pensamento, e a nossa capacidade de evasão através de actividades que nos permitam manter o equilíbrio psicológico num pais tão sui generis como o nosso (e sui generis nem sempre pelos melhores motivos).

   Sonhar, desejar, projectar podem ser soluções, quanto à concretização, só o tempo o dirá!

   Ousem sonhar e, já agora, Feliz Ano Novo!




quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

DIVULGAÇÃO LITERÁRIA | "Reino de Feras", de Gin Phillips é um intrigante thriller que chega às livrarias dia 2 de Janeiro | SUMA DE LETRAS


Texto e Foto: Redacção Nova Gazeta  com Suma de Letras - Grupo Penguin Random House Portugal


A 2 de Janeiro chega às livrarias nacionais um novo thriller - Reino de Feras, de Gin Phillips - com chancela da Suma de Letras.

Devemos confessar que a obra já se encontra em leitura aqui na redacção e podemos avançar que estamos perante um thriller pleno de tensão psicológica constante, que nos leva a ponderar na intensidade da relação maternal, e em dilemas morais que podem ser experienciados perante situações limite de sobrevivência.


Descrito como "Um romance electrizante sobre o vínculo primordial e inabalável entre uma mãe e seu filho."

 Vencedor do prémio Transfuge para o melhor romance estrangeiro.



Sobre o livro:



«Um thriller brilhante, inteligente e irresistível.»

The New York Times



«Não consegui parar de ler, adrenalina pura.» 

The Guardian



«Phillips constrói as personagens de forma extraordinária e a sua prosa é habilidosa e evocativa. Aflitivo e profundo, este thriller cheio de adrenalina quebrará os leitores como uma bala atravessa o osso .»

 Kirkus Reviews



«Uma exploração controversa da maternidade, no seu mais básico.» 

Publishers Weekly



Sinopse da obra:



Lincoln é um bom menino. Aos quatro anos é curioso, inteligente e bem comportado. Lincoln faz o que sua mãe diz e sabe quais são as  regras.



"As regras são diferentes hoje. As regras são que nos escondamos e que não deixemos que o homem com a arma nos encontre."



Quando um dia comum no jardim zoológico se transforma num pesadelo, Joan encontra-se presa com o seu querido filho. Deve reunir todas as suas forças, encontrar coragem oculta e proteger Lincoln a todo custo - mesmo que isso signifique cruzar a linha entre o certo  e o errado; entre a humanidade e o instinto animal.

É uma linha que nenhum de nós normalmente sonharia cruzar.

Mas, às vezes, as regras são diferentes. Um passeio de emoção magistral e uma exploração da maternidade em si - desde os ternos momentos de graça até ao poder selvagem. Reino de Feras questiona onde se encontra o limite entre o instinto animal para sobreviver e o dever humano para proteger os outros.  Até onde vai uma mãe para proteger o seu filho?



Sobre a autora:



Gin Phillips, autora premiada com o Barnes and Noble Discover pelo seu primeiro romance, tem a obra publicada em mais de 29 países. Reino de Feras, a sua primeira incursão no mundo do thriller, está a ser aclamado pelo público e pela crítica.

Ficha Técnica do Livro:



Título: Reino de Feras (nas livrarias a 2 de Janeiro)

Autora:  Gin Phillips

Editora: Suma de Letras

ISBN: 978 989 6655 259

Nº de Páginas: 270  Páginas

PVP c/ IVA: 17,45€



PERSONALIDADE | Setúbal assinala o 265º aniversário do nascimento de Luísa Todi a 9 de Janeiro | Setúbal



Texto: Isabel de Almeida | Colaboradora Nova Gazeta
Jornalista Diário do Distrito

Foto: Direitos Reservados


No próximo dia 9 de Janeiro assinala-se o 265º aniversário do nascimento da Mezzo-soprano Setubalense Luísa Todi.

As cerimónias que celebram esta data terão início pelas 9 horas e 30 minutos, no monumento em honra da cantora lírica localizado na Avenida à qual foi dado o seu nome, em justa homenagem. 

Várias entidades do Concelho unem-se para assinalar esta data, nomeadamente, a Câmara Municipal de Setúbal, a LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão e a UNISETI - Universidade Sénior de Setúbal irão depor flores na glorieta em honra da célebre artista.

De solteira Luísa Rosa de Aguiar, nasceu na cidade do Rio Sado a 9 de Janeiro de 1753, na actual Rua da Brasileira, no Bairro do Troino. Tendo-se estreado como actriz em Lisboa, cidade onde residiu com os pais. 

Conheceu o violinista Napolitano Francesco Saverio Todi, com o qual viria a casar-se com apenas 16 anos de idade, e com cujo apoio construiu uma brilhante carreira internacional como Cantora Lírica, encantando com a sua voz vários países Europeus e tendo mesmo sido convidada pela Imperatriz Catarina II da Rússia a actuar na sua corte. Os êxitos da sua carreira percorreram diversas salas de espectáculo pela Europa fora, tendo actuado em grandes capitais como Londres, Paris, Berlim, Turim, Varsóvia, Viena, Veneza e São Petersburgo.

 A célebre cantora, famosa pela qualidade das suas interpretações vocais em línguas como Francês, Inglês, Italiano e Alemão, sempre com grande correcção nas suas expressões.

Luísa Todi faleceu em Lisboa, a 1 de outubro de 1833, aos 80 anos, cega, devido a uma doença que tinha desde nova.

sábado, 23 de dezembro de 2017

LITERATURA | Yggdrasil, Profecia do Sangue | MBARRETO CONDADO





SINOPSE

E se a vida como a conheces pudesse ser muito mais?

Desde o início do tempo dos clãs, que os MacCumhaill se mantinham unidos. Família de poderosas mulheres e orgulhosos guerreiros. Tinha-lhes sido exigido um único sacrifício em troca da sua imortalidade, manter o equilíbrio entre os três mundos. E esse equilíbrio tinha sido quebrado. As portas estavam abertas facilitando a passagem de todos os seres sobrenaturais.
Seria Maria, uma jovem estudante portuguesa acabada de chegar a Dublin a ajuda poderosa pela qual aguardavam há tanto tempo? Conseguiria ela aceitar tudo o que lhe era pedido? Acreditar neles e lutar ao seu lado? Dividida entre o seu dever e o amor que sente pelo herdeiro do clã irá descobrir que deve seguir o seu coração, mas esse também já não é seu. Tinha-o entregue àquele homem ainda antes de lho dizer.

Este era o início de uma nova Era…da Profecia do Sangue.

OPINIÃO | “Luvas”, “Avental” e a gamba? Quanto é o quilo? | ANA KANDSMAR

António Costa, José Sócrates, Vieira da Silva, Capoulas Santos, Carlos Zorrinho, Isaltino Morais e muitos, muitos outros, tudo gente ligada à maçonaria. A política portuguesa é um caldinho de influências e de trocas de favorzinhos, seja coisa de centenas ou de milhões. E isso vem do povo, que os políticos não caem do céu aos trambolhões, saem daqui do âmago das nossas gentes e se têm maus genes é porque esta coisa de passar “luvas” pela “porta do cavalo” é uma coisa muito tuga. (Ok, também muito humana). Somos a malta do desenrasca aí, dá uma mãozinha acolá, coloca o meu filho além, toma dinheiro aqui. Um país nepotista onde amigalhaços nomeiam e promovem família e outros amigalhaços, e se cultiva a mediocridade. Sucede que para isto o avental não é fundamental, que esta tendência para o tráfico de influências ocorre em todas as cores politicas fora e dentro das lojas, com ou sem avental. Não há negociata imoral feita por um grupo de tipos que fizeram meia dúzia de juramentos através de uns rituais tontos, que não possa ser feita por um grupo de gente com interesses comuns, num jogo de golfe ou numa jantarada regada a copos. Ainda não sei se o facto de usarem aqueles aventais e de cultivarem o "secretismo" os torna mais perigosos, mas são seguramente mais patéticos.

Já não me choca o facto de saber que os gajos no poder e os que já lá estiverem são da maçonaria. Têm que ser "amigos" de alguém, senão, não estavam no poder, certo? Têm de ter prometido favores, feito favores, obtido favores, para chegarem onde chegaram. Mas talvez não seja assim tão má ideia levar os maçons mais a sério do que a qualquer outro grupelho de influência e obrigá-los a actos públicos de contrição e de confissão. Talvez a democracia portuguesa não ganhe com isso mais transparência, ou pelo menos não tanta quanto seria desejável, porque, como bem sabemos, os grupos de influência estão por todo o lado e reúnem-se nas casas uns dos outros, nos privados dos restaurantes, nos gabinetes das grandes multinacionais, enquanto o resto do povo se faz à vidinha (ou não), come e dorme, acasala e regozija-se com as vitórias do seu clube de futebol. Nas lojas dos ditos maçons só falta um néon à porta: “Loja do Oriente: compra-se e vende-se favores, fazemos entregas no mundo inteiro.” A malta da política em geral tem amigos no mundo inteiro. Conhecem-se todos nas cimeiras, nos congressos, planeiam esquemas e negociatas nos corredores ou às portas fechadas. O PR nunca viaja sem uma "comitiva" de empresários e essa gente toda não vai de certeza para ver a paisagem.

Devíamos "clarificar" o papel da maçonaria na "sociedade portuguesa" e identificar todos os políticos que a ela pertencem. Só assim, poderíamos marcá-los com o ferro do tráfico de influências, e mais importante que isso, clarificar as decisões dos nossos governantes, passados e presentes. Não que nos sirva de muito descobrir quantas vezes e com quem se juntam no melhor restaurante de Lisboa e quantos quilos de gambas comem, (com ou sem a fulana da Raríssimas). Mas pelo menos, quanto à mariscada, ficaríamos (sem sombra de dúvidas, até para o mais devoto militante) a saber quem paga. Com juros mais correção monetária. Pagamos nós.


Mas não pensemos nisto por dois dias. É Natal. Boas Festas!











Ana Kandsmar

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

LITERATURA | O Enigma da Mentira | PAULO COSTA GONÇALVES



SINOPSE

Baseando-se num dos textos mais fascinantes no estudo das incursões nórdicas no ocidente peninsular e cujo documento original não chegou aos nossos dias, existindo apenas uma cópia datada do século XVII, o autor cria mais um enredo complexo, misterioso e interessante.  Estamos perante uma nova história que, além de voltar a fazer o cruzamento com a História passada, leva inicialmente e pela primeira vez na sua vida de investigador, o “seu” inspetor Alex a sentir algo parecido com o verdadeiro medo que, no entanto, é superado pela perspicácia e inteligência a que nos habituou nas histórias anteriores. 

O livro lê-se com aquele interesse que “obriga” a virar cada página à procura da solução das sucessivas situações de mistério e dúvida, encontradas na página anterior. Novamente, com uma leitura fácil, mas, ao mesmo tempo, com a complexidade inerente às ligações ancestrais da História e dos mistérios que passaram pelo que é, agora, território português. O clímax da narrativa é imprevisível e garante emoções fortes mesmo até à última página.

CULTURA | Companhia de Ballet Russo encantou Setúbal | SETÚBAL


Texto: Isabel de Almeida |
Colaboradora Nova Gazeta | Jornalista Diário do Distrito

Foto: Câmara Municipal de Setúbal | Direitos Reservados


 A Companhia Russian Classical Ballet apresentou  na noite de  Quinta-feira, dia 21 de Dezembro, o bailado "O Quebra-Nozes". O Espectáculo, com lotação esgotada, teve lugar no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, o bailado “O Quebra-Nozes”.

Após a representação de “O Lago dos Cisnes”, a 1 de Janeiro, o elenco de estrelas do ballet russo voltou a fazer magia na sala de espectáculos sadina com um clássico de Tchaikovsky, seguindo o libreto de Marius Petipa e Vasily Vainonen, tendo por base a obra de E.T.A. Hoffmann.

Marius Petipa e Lev Ivanov  assinam a coreografia e os figurinos estão a cargo de Evgeniya Bespalova.

A Russian Classical Ballet, cuja fundação data de 2005, surgiu com o propósito de preservar e divulgar a tradição do bailado clássico russo. Trata-se de uma companhia composta  por bailarinos oriundos dos mais prestigiados teatros de dança.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

CINEMA | "The Post" junta Meryl Streep, Tom Hanks e Steven Spielberg no mesmo projecto | NOS AUDIOVISUAIS



   Steven Spielberg dirige uma das duplas de actores mais conceituadas e premiadas do cinema americano, Meryl Streep e Tom Hanks, no drama emocionante sobre a improvável  parceria  entre Katharine  Graham  (Streep)  do  Washington  Post,  a primeira mulher na liderança de um dos principais jornais norte-americanos e Ben Bradlee (Hanks), o editor do jornal, na corrida com o New York Times para expor um dos mais encobrimentos de segredos governamentais que durou três décadas e  passou  por  quatro  presidentes  americanos.  

   Num  filme  empolgante,  os  dois protagonistas têm de ultrapassar as suas diferenças enquanto arriscam as carreiras e a própria liberdade para desenterrar verdades há muito escondidas do público. Este filme assinala a primeira vez que Meryl Streep, Tom Hanks e Steven Spielberg trabalham  juntos  num  projecto. 

 Além  de  realizar  The  Post,  Spielberg  é  um  dos produtores juntamente com Amy Pascal (Homem Aranha, Regresso a casa) e Kristie Macosko Krieger (Apanha-me se Puderes). O argumento foi escrito por Liz Hannah (Guidance) e Josh Singer (O Caso Spotlight) e conta com um verdadeiro elenco de luxo, entre os quais Alison Brie (Community), Carrie Coon (Em Parte Incerta), David Cross (O Despertar da Mente), Bruce Greenwood (Star Trek), Tracy Letts (A Queda de  Wall  Street),  Bob  Odenkirk  (Breaking  Bad),  Sarah  Paulson  (American  Horror Story),  Jesse  Plemons  (Black  Mass –Jogo  Sujo),  Matthew  Rhys  (The  Americans), Michael   Stuhlbarg   (Um   Homem   Sério),   Bradley   Whitford   (Os   Homens   do Presidente) e Zach Woods (Caça Fantasmas 2016).


NOS CINEMAS A 25 DE JANEIRO DE 2018


Veja o trailler oficial do filme:


Fonte: fotos, texto e Trailler NOS AUDIOVISUAIS



LITERATURA | A Guardiã, O Livro de Jade do Céu | ANA KANDSMAR


Sinopse:

E se tudo o que conheces sobre as origens da Terra estiver errado? E se te pudesses lembrar de todas as vidas que já viveste? E se descobrisses que a reencarnação não é apenas uma fantasia? Entre a vila medieval de Óbidos, a terra vermelha de Petra e as brumas da ilha mítica de Avalon, Luana, uma arqueóloga céptica e pouco dada a crenças religiosas ou espirituais, confronta-se com o destino: Descobrir o seu potencial divino e salvar a humanidade. Enquanto se envolve numa disputa entre as forças da Luz e das Trevas pelo domínio da Terra, Luana divide-se entre o amor de dois arcanjos. Um triângulo amoroso que a arrebata, transforma e leva numa exaustiva viagem pelo mundo, em busca das míticas páginas de um livro sagrado. Nele, estão contidos os segredos das origens da humanidade e o seu propósito.

Uma obra de ficção repleta de aventura, romance e suspense que une a história, a religião e a ciência.

Um livro que nos leva a conhecer o trabalho de Zecharia Sitchin, linguista cuneiforme que desvendou os segredos das placas de argila da Suméria. Um livro que faz a ponte entre a Física Quântica, a Teoria das Cordas e dos Multiversos e a fé em Deus. Um livro que conta uma história de almas que se encontram vida após vida e que vencem finalmente a barreira do esquecimento. Um livro que nos mostra que o Amor é uma energia que nunca acaba com a morte do corpo. Quem somos nós, afinal? Simplesmente humanos que obedecem à teoria da evolução de Darwin ou criaturas que, vindas de outros lugares longínquos dos multiversos, colonizaram a Terra?

O ponto de partida, esse, é num tempo tão remoto, que nada do que hoje conhecemos existia ainda e o planeta se aventurava pela primeira vez na imensidão do cosmos.

“A ideia de que Deus é um gigante barbudo de pele branca sentado no céu é ridícula. Mas se, com esse conceito, você se referir a um conjunto de leis físicas que regem o Universo, então claramente existe um Deus.” Carl Sagan.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

SOLIDARIEDADE | Pais Natal motards distribuiram prendas a crianças carenciadas de Setúbal | SETÚBAL


XVII desfile de Pais Natal Motard em Setúbal

Texto: Isabel de Almeida
Colaboradora Nova Gazeta | Jornalista Diário do Distrito

Fotos: Câmara Municipal de Setúbal | Direitos Reservados


O  Desfile de Pais Natal Motard decorreu este Sábado em Setúbal, pelo 17º ano consecutivo, num evento solidário que distribuiu cerca de seis centenas de presentes a crianças carenciadas do concelho de Setúbal. 

Esta é uma iniciativa do Moto Clube de Setúbal, que reuniu perto de quatro centenas de pais Natal motards, cuja missão foi distribuir presentes pelas crianças menos favorecidas.

O evento começou na sede do Moto Clube de Setúbal, em plena frente ribeirinha da Cidade, onde decorreu o já tradicional desfile pelas ruas sadinas, que contou com cerca de duas centenas de motos com motards pais e mães Natal trajados a rigor. 

Paulo Mascarenhas, Presidente do Moto Clube de Setúbal, mostrou-se satisfeito com a iniciativa e assinalou tratar-se de " Uma causa gratificante". Paulo Mascarenhas sublinhou ainda a forte adesão à iniciativa, que contou com "mais gente a participar" no desfile e que juntou “membros do Moto Clube de Setúbal e de outros clubes e pessoas que simplesmente gostam de andar de moto”. Para o próximo ano fica a promessa de um evento mais amplo “Queremos fazer o maior desfile de pais Natal motard do país em Setúbal e, para isso, estamos concertados com outros clubes, sobretudo do distrito.”

Foto de Família Motard - Natal 2017
Foram entregues presentes a muitas crianças, e houve ainda lugar à distribuição de mantas pelos utentes de um lar de Terceira Idade.

Esta acção solidária contou com a presença do Vereador Pedro Pina, foi tirada  a habitual foto de família motard no Largo José Afonso e  decorreu um jantar-convívio do Moto Clube de Setúbal, instituição  que conta já com duas décadas de existência.   

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

CRÍTICA LITERÁRIA | "As Mulheres No Castelo", de Jessica Shattuck | PLANETA


Texto: Isabel de Almeida | Crítica Literária | Nova Gazeta




"As Mulheres No Castelo", é o título em tradução literal de um belíssimo romance histórico  cuja acção percorre cronologicamente o "antes", o "durante" e o "depois" da II Guerra Mundial, através da narrativa fascinante, vívida e forte que nos transmite emoções complexas e suscita a nossa reflexão apurada sobre aquilo a que podemos chamar de Psicologia da Guerra.

  Como protagonistas encontramos três viúvas de guerra Alemãs, cujos maridos foram enforcados por ordem directa de Hitler, na medida em que integraram a nem sempre muito falada ou reconhecida Resistência Alemã ao regime Nazi, tendo todos tido um contributo, mais ou menos directo, na tentativa de homicídio de Adolf Hitler perpetrada em 20 de Julho de 1944 (facto histórico conhecido como Operação Valquíria).

A aristocrata Marianne Von Lingenfels é uma mulher forte, corajosa e determinada, mas também dotada de uma visão algo antiquada da vida, visão esta que a levará a cometer erros com graves consequências no seu universo relacional. Marianne assume a incumbência de proteger as mulheres de todos os resistentes do grupo do marido - Albrecht - e do seu melhor amigo, o sedutor Connie Flederman, caso estes bravos resistentes não consigam sobreviver à justiça deturpada e cruel do III Reich.

Num curioso acaso, a guerra, bem como a morte dos maridos destas três mulheres em nome de uma causa comum, irão juntar sob o tecto protector do ancestral e envelhecido castelo Burg Lingenfels três pessoas de díspares meios sociais, com percursos de vida naturalmente distintos, até ao momento em que a II Guerra Mundial se torna o denominador comum entre  Marianne, Benita e Ania e a força motriz das dinâmicas que entre elas vão surgir.

Marianne irá acolher, proteger e desenvolver uma forte amizade com Benita Flederman, a viúva do  seu amigo de infância Connie Flederman, sentindo-se também mãe do filho do casal   - Martin - a quem salva de um orfanato Nazi, devolvendo-o à mãe. Benita é uma mulher frágil, oriunda de um meio rural, apaixonou-se por Connie, mas carrega em si a raiva inconsciente, misturada com a culpa, ai sentir que nunca entrou verdadeiramente no mundo do marido, o qual assumiu uma postura super-protectora relativamente à esposa, cuidando que esta passaria incólume ao horror da barbárie Nazi. Benita é uma mulher de paixões, é ambiciosa, gosta de coisas belas, é uma mãe apaixonada pelo filho, sensível, procura sempre encontrar a atitude certa, tomar as decisões mais adequadas, mas nem sempre a sua fragilidade emocional permitirá que seja bem sucedida ao encarnar o papel social que sempre  sonhou alcançar através do casamento com um homem de classe social elevada.

Ania é, talvez, a  mais complexa das três protagonistas. Verdadeira força da natureza e um nítido exemplo de resiliência, revela alguma contenção ao nível das emoções, sendo muito defensiva psicologicamente, mas é, afinal, alguém que carrega em si o peso de segredos surpreendentes e tem de aprender a lidar com a culpa, tantas vezes associada à luta pela própria sobrevivência e dos seus filhos - Anselm e Wolfgang, dois jovens reservados mas que muito devem à sua "mãe coragem". Também Ania provém de um meio social modesto, comparativamente com Marianne.

É muito interessante analisar, em termos de economia da narrativa, a interessante dinâmica que se estabelece entre Marianne Lingenfelds e Ania, pois é nesta sua amiga que Marianne irá encontrar a coragem, a determinação e o forte sentido prático que se revelam os complementos ideais para a personalidade vincada e o espírito de resiliência e liderança da aristocrata.

Com uma linguagem emotiva, um excelente ritmo narrativo que nos leva a querer avançar rapidamente na leitura, uma narrativa muitíssimo bem construída que tem por base uma excelente investigação histórica e que foi inspirada em histórias reais de familiares da autora, estamos perante um dos melhores livros de ficção histórica internacional que chegaram recentemente a Portugal. 

Apesar da forte componente ficcional e dramática, e de uma visão assumidamente feminina da guerra, este livro leva-nos a uma reflexão interessante e pertinente acerca da forma como um conflito armado leva a alterações profundas no código de valores instituído em qualquer sociedade, num ambiente em que, tantas vezes, cumprir regras que vão contra os princípios morais e éticos usualmente reconhecidos, faz a diferença entre sobreviver ou perecer.

Deveras interessante é podermos olhar para esta guerra a partir de dentro, da sua origem, ou seja, a partir da sociedade Alemã, e percebermos que nem sempre o conformismo aos horrores do regime Nazi foi o principio orientador das condutas de muitos homens e mulheres no decurso da II Guerra Mundial. Fascinante, poderoso e inesquecível, um livro que tem tudo para agradar aos adeptos da ficção histórica contemporânea.

Ficha Técnica.


Autora: Jessica Shattuck

Edição: Outubro de 2017

Editora: Planeta

Nº de Páginas: 360

Género: Romance Histórico | II Guerra Mundial

Classificação Atribuída: 5/5 Estrelas





CULTURA | Orquestra Metropolitana de Lisboa apresentou "Messias", de Händel em Concerto Sinfónico |SETÚBAL


Texto: Isabel de Almeida
Colaboradora Nova Gazeta | Jornalista Diário do Distrito

Fotos: Câmara Municipal de Setúbal | Direitos Reservados

 A Orquestra Metropolitana de Lisboa apresentou, no passado Sábado, um Concerto Sinfónico no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, celebrando o Natal  com a interpretação da obra “Messias” de Händel, sob a direcção musical do Maestro Argentino García Alarcón.

 O concerto contou, também, com a actuação do Coro Sinfónico Lisboa  - Cantat - , grupo vocal que comemora o seu 40.º aniversário encontrando-se a direcção a cargo do Maestro Português Jorge Alves.

Maestro, Músicos e Cantores recebem os aplausos do público

Durante as duas horas de actuação, subiram ao Palco do Fórum Municipal Luísa Todi, como solistas femininas, a Soprano Joana Seara e a Mezzo-soprano Carolina Figueiredo.

 Os solos masculinos foram assumidos pelo Tenor  Marco Alves e pelo Barítono André Henriques.





Tratou-se de mais uma noite especial em que a música clássica visitou a Cidade do Rio Sado, num programa de excelência.


domingo, 17 de dezembro de 2017

LITERATURA | A Cidade das Brumas | ANITA DOS SANTOS



SINOPSE

É chegado o momento de ser cumprida a profecia que foi feita setenta anos antes do nascimento dos dois jovens por um druida vidente, que predizia que ambos seriam os guardiões e guias da Gente Pequenina. Mas foram feitas mais previsões das quais os dois jovens não têm ainda conhecimento.
Deles irá depender a continuidade da Cidade do Norte, da Cidade das Brumas, como sede da guilda dos druidas.
Tudo lhes é revelado nas cartas enviadas pelas Escolhidas, as suas progenitoras.
E enquanto o caminho para a Cidade das Brumas se revela pleno de surpresas, quer para os feéricos, quer para os humanos que os acompanham, o perigo faz-se sempre presente entre eles.
Na Cidade do Norte, a intriga, a traição vai minando por entre os elementos do Circulo dos Sete, o órgão máximo da Cidade dos druidas. E como tinha sido também previsto, a Cidade está em risco.
André e Vicente têm de chegar à Cidade das Brumas a tempo de prestar auxílio ao Circulo dos Sete.

Haverá mais surpresas e peripécias a aguardar os dois amigos?

sábado, 16 de dezembro de 2017

LITERATURA | O Bosque dos Murmúrios | ANITA DOS SANTOS


SINOPSE

“E assim os dias foram-se escoando para o André, até aquela bendita noite em que já se lhe tinham acabado as últimas nozes que tinha encontrado, dos víveres que tinha trazido, já nada restava, e até as pederneiras para fazer a fogueira desapareceram sem ele saber como nem porquê… e agora ali estava ele, noite serrada, enrolado no cobertor com as costas encostadas ao tronco de uma árvore, a barriga aos roncos e a tiritar de frio.
Uma lástima!
E nem um miserável vislumbre do que quer que se assemelhasse a um feérico… Era mesmo falta de sorte…” 

André e Vicente são dois jovens amigos que se propõem ir em auxílio da povoação onde estão a morar.
Não estão lá há muito tempo, mas já são queridos por todos.
Por todos?
Quando o verde começa a desaparecer são os primeiros a procurar encontrar o Senhor dos Bosques, personagem das histórias que os antigos contavam à lareira, e que habita no Bosque dos Murmúrios.
Só ele detém o poder de derrotar o Senhor das Trevas e recuperar o verde.




OPINIÃO | O Espirito de Natal de uma Super-Hiper-Mega-Mãe-Parvalhona | ANA KANDSMAR

Adoro o Natal. Isto das luzes, os brilhos, o quentinho da casa a contrastar com as temperaturas siberianas da rua é consolador. E por isso, mal chegamos a novembro e já andam os miúdos a perguntar quando é que começamos com as decorações que são a melhor forma de celebração do espírito da família, e que as ruas da cidade já piscam por todos os lados… blábláblá…Começamos mal entra dezembro.

Imbuídos daquele espírito maravilhoso de sermos um nichozinho familiar fortificado pelo amor, pela alegria e por outras utopias que tais, toca de enviar o entusiasmo inicial à garagem e mandá-lo trazer as caixas todas para cima. A princípio, a malta ajuda e participa: pega daqui, escorrega dali, empurra dacolá, se preciso for até ao infinito e mais além. Ao entrarmos em casa, já estamos mais mortos que vivos que os lances de escadas são três e não há elevador.

Colo a cuspo (e muito latim) as vontades que começam a dispersar-se ao primeiro trim-trim do telemóvel que chama a Mariana para um café com a amiga que já não vê há uma eternidade! (desde ontem), e o chat no Facebook que desafia o Rafa para uma conversa muitooooo importante sobre o estado da nação (que ele pode ter dali a 1 hora ou 1 mês, que o estado da nação continua o mesmo).

Ora bem, abrir as ramagens de uma árvore de natal de metro e setenta com a consistência de um abeto adulto dos apeninos, é tarefa, no mínimo, chata como a potassa: raminho a raminho, abre e puxa, abre e puxa, até ficar tudo redondinho e com o formato devido, que é parecer o mais natural possível. Por esta altura, quase sempre valores mais altos se levantam, normalmente, uns providenciais trabalhos para a faculdade, ou compromissos inadiáveis no circuito Pool- Berska- Stradivárius, que isto de centros comerciais é preciso monitorizar os modelitos que entram e saem, não vá aquele casaco castanho lindo de morrer, o ÚNICO da loja e de um Portugal inteiro, desaparecer nas mãos da primeira pita dondoca vampiresca que consegue sacar aos pais o equivalente ao meu salário para o comprar, e lá me desaparecem eles para os respectivos afazeres importantíssimos, de última hora. Quando acham que aqui a moira já abriu e puxou todos os fucking raminhos da puta da arvorezinha, aparecem alegremente na sala, de volta ao convívio natalício-familiar.

Então e agora, mãe? Agora é pôr as luzes, mas primeiro temos de as desenrolar.

E lá está: desenrolar as luzes (mal enroladas e à pressa no fim do Natal anterior) é uma graaaande chatice. As lâmpadas prendem-se umas nas outras, metade delas estão partidas e eu nunca me lembro de as ligar antes de as enrolar na árvore; depois, quando constato que estão fundidas, fico fodida porque tenho que as desenrolar, e a minha língua também se desenrola em meia dúzia de asneiras, pouco condizentes com a quadra e com o momento, que se quer de alegria e paz. Ultrapassado o pseudo-drama da iluminação, chega a altura dos enfeites. A Mariana apruma-se então na decoração da árvore enquanto o Rafa mantém os olhos pregados ao computador, não vá uma de nós apanhá-lo a olhar de esguelha e convidá-lo para trabalhar.

Por esta altura, já a minha adorável filha esgotou o léxico de injúrias e ameaças ao irmão, porque nunca ajudas e tenho que ser sempre eu a ajudar, já ele devolveu os “elogios” com redobrada “simpatia”, já eu começo a ter palpitações e falta de ar, levada pela impaciência e pela raiva até que os expulso dali para fora e com indisfarçável alívio, acabo por fazer em agradável solidão o que era suposto fazermos os três. Há data a que escrevo isto, já a árvore dançarinou pelos cantos da sala uma três vezes, obedecendo às superiores indicações (quais policias sinaleiros) dos putos maravilha. Há data a que escrevo isto doem-me as costas, ou andar quase de cócoras a puxá-la 10cm de cada vez para não se escangalhar toda, não fosse um verdadeiro teste à minha resistência física.

Nos dias seguintes, como para tudo o que dá trabalho nesta casa, prevalece unanimemente a versão oficial: foram eles que alancaram com as caixas escadas acima, foram eles que montaram a árvore, foram eles que a enfeitaram e foram eles tudo o resto. Eu, basicamente, ter-me-ei limitado a supervisionar a operação. Ou nem isso: se formos a ver bem, nem lá estive!


Tenho dias em que a sensação de ser uma super-hiper-mega-mãe-parvalhona agrava-se. Tenho dito.











Ana Kandsmar