segunda-feira, 30 de setembro de 2019

ENTREVISTA | ESCRITOR E CRONISTA DO NOSSO JORNAL FERNANDO TEIXEIRA


"Em Ílhavo quem não rema já remou!”

“Por entre as Brumas de Newfoundland” e nas palavras do autor este é “…. Um romance que pretende ser uma homenagem a todos aqueles que viveram as duríssimas campanhas da pesca do bacalhau…”.
MBC – Quem é o Fernando Teixeira?
FT - Nasci em Lisboa, em 1960. Licenciei-me em Engenharia Civil em 1984, pelo Instituto Superior Técnico, e tenho exercido a minha actividade profissional como projectista de estruturas.
Sentindo-me tentado a abraçar novos desafios, comecei a escrever obras de ficção em 2014, tendo publicado o meu primeiro romance no ano seguinte.


MBC – Tens dois livros publicados “Não poderia ter sido de outra forma” e “Por entre as Brumas de Newfoundland” queres falar-nos um pouco deles e de como te surgiu a ideia para os escreveres?
FT - A ideia surgiu da necessidade de procurar novos desafios, numa área que estimulasse a minha
criatividade, após quase trinta anos dedicados exclusivamente ao cálculo e à pormenorização de estruturas. Tentei assim contrapor a uma actividade profissional na área das ciências e da técnica, muito ligada ao cumprimento de normas e legislação, o exercício livre da escrita onde pudesse imaginar enredos que cativassem e sensibilizassem os leitores, focando vários aspectos da condição humana.
O primeiro livro, publicado em 2015 e intitulado Não Poderia Ter Sido De Outra Forma, é um romance que procura ser uma homenagem ao Oeste canadiano, divulgando a beleza natural da região das Montanhas Rochosas, e um tributo ao valor das grandes amizades. Paul, Tracy e o filho Kevin vivem em Palo Alto, na Califórnia, Estados Unidos. Decepcionado com um casamento que entrou num marasmo de silêncios e omissões, afectando até o relacionamento com o seu próprio filho, mas com vontade de contrariar a situação, Paul decide levar a família a passar uns dias de férias na região oeste do Canadá, por ocasião do décimo quinto aniversário de casamento. Ele deseja que esse tempo traga um novo fôlego à sua vida familiar. Planeada está uma viagem de comboio a bordo do fantástico Rocky Mountaineer, entre Vancouver e Calgary, com passagem por Banff e pelo magnífico Lake Louise. As emoções vividas nessas férias trazem consequências que vão interferir com a vida daquela família, constituindo o prólogo de uma sucessão de acontecimentos que fazem o protagonista da história travar, posteriormente, uma forte e improvável amizade com um casal que vive em Calgary. Então, na sequência de uma notícia inesperada, Paul vê não só a sua vida ser impulsionada por um novo objectivo, como terá também a hipótese de transformar profundamente a vida do seu novo amigo.
O segundo livro, publicado em 2018 e intitulado Por Entre As Brumas De Newfoundland, é um romance que pretende ser uma homenagem à vida duríssima dos solitários pescadores de bacalhau à linha em dóris e um tributo à Frota Branca portuguesa. Vasco, um português de 53 anos, é neto de um antigo pescador de bacalhau nos dóris. O avô António participou em várias campanhas de pesca nos Grandes Bancos da Terra Nova e da Gronelândia, a bordo do lugre Creoula. O livro descreve as duras rotinas diárias daqueles valentes pescadores que trabalharam mais do que os demais, com um esforço e com uma tenacidade maiores do que todos os outros, enfrentando riscos desmedidos nos mares do Atlântico Norte; em todos eles, o selo da bravura, de uma resistência sobre-humana e persistência inesgotável, colado à pele com dor, suor e sal. Uma hora mais, uma milha mais, um peixe mais… Numa visita à casa dos avós, Vasco descobre uma carta escrita por um companheiro de pesca do avô, mais de quarenta anos antes, que António nunca chegou a ler por ter falecido pouco tempo antes de a receber, dando esta a entender que ambos se haviam visto perdidos no nevoeiro em uma ocasião. O teor da carta, acompanhada da fotografia de uma bebé recém-nascida, levanta questões a que Vasco quer dar resposta, numa tentativa de colmatar um elo quebrado da história, fazendo-o decidir viajar até St. John’s, Newfoundland.

MBC – Porquê o Canadá e os Estados Unidos da América como base dos teus romances?
FT - A escolha para que a acção dos meus primeiros dois romances decorra essencialmente no Canadá resulta da enorme admiração que eu tenho por esse país, desde que o visitei em 2001. É igualmente uma forma de materializar esse fascínio e de o procurar levar até aos leitores, transmitindo-lhes o prazeroso espírito de viagem e de descoberta. Já a acção do terceiro romance, em fase de escrita, decorre na Bretanha, França.

MBC – Sendo estes livros passados do outro lado do Atlântico já tens edição em Inglês ou pensas fazê-la?
FT - Não tenho edição em Inglês de nenhum dos livros, embora gostasse imenso de ter, uma vez que isso abriria as minhas obras a um mercado muito mais vasto. Esse era até um objectivo inicial, daí que a narrativa do primeiro livro se tenha centrado exclusivamente num cenário norte-americano. Infelizmente, não me é possível, por enquanto, financiar os custos de uma tradução literária.

MBC – O teu livro “Por entre as Brumas de Newfoundland” está exposto no Museu do mar em Ílhavo?
FT - Sim, o livro Por Entre As Brumas De Newfoundland está à venda na Livraria do Museu Marítimo de Ílhavo, museu onde já fiz uma apresentação desse romance, no dia 17 de Novembro de 2018, no âmbito das comemorações do Dia Nacional do Mar.

MBC – Em que género te enquadras enquanto escritor?
FT - Posso dizer que o género em que me enquadro e do qual mais gosto é o Romance de Ficção. Porque a Literatura deve ser mais do que mero entretenimento, nos meus livros a acção da narrativa decorre sempre num espaço geográfico real, em terras e lugares reais, com avenidas, ruas e edifícios reais. A isso, acresce ainda a referência a acontecimentos históricos verdadeiros, ocorridos nos locais onde decorre a acção, enriquecendo a narrativa e contribuindo para o conhecimento geral dos leitores. Gosto de escrever a narrativa em forma de “flashbacks” que levem o leitor a pensar e a descobrir como as diferentes peças do “puzzle” vão evoluindo e encaixando no enredo final.

MBC – Onde é que os leitores podem adquirir os teus livros?
FT - Os livros físicos podem ser adquiridos na Amazon, ou pedindo directamente ao autor através do website:
O livro Por Entre As Brumas De Newfoundland pode ainda ser adquirido na Livraria do Museu Marítimo de Ílhavo, como mencionado anteriormente.
A versão digital dos romances (e-Books) pode ser adquirida através da LeYa Online, Apple iBookStore, Barnes & Noble, Kobo, Google, Amazon, Onthedot, Numilog, Wook, Samsung, ContentReserve, Imaginarium e Xeriph

MBC – Queres deixar-nos os teus contactos nas redes sociais para que os leitores possam seguir o teu trabalho?
FT - Página de autor, no Facebook:
https://www.facebook.com/Fernando-Teixeira-859253467489852/


MBC - E a pergunta que todos queremos saber novidades para breve?
FT - Penso publicar o meu terceiro romance durante o ano de 2019, com o título Traços de Pont-Aven.

MBC – Tens algo que gostarias de dizer aos teus leitores bem como àqueles que te ficaram a conhecer um pouco melhor depois desta entrevista?
FT - Nada é mais gratificante para um autor do que saber que as suas palavras são lidas por outros. Por isso, expresso o meu reconhecimento a todos aqueles que já leram os meus livros, muitos deles agraciando-me depois com palavras gentis e generosas. Todo o “feedback” é importante: as críticas positivas enchem-me a alma; as críticas negativas fazem-me crescer como escritor. Nunca deixem de expressar a vossa opinião!
Desejo que quem ainda não segue o meu trabalho sinta vontade de ler os meus livros e espero que, quando o fizer, sinta o mesmo entusiasmo e emoção, ao lê-los, que eu senti durante o processo da sua escrita.
Bem-hajam!

O meu especial agradecimento ao autor por nos relembrar da dureza das viagens, dos homens de coragem que partiam, das mulheres que os aguardavam mas acima de tudo das inúmeras famílias destroçadas perante a incerteza de um regresso.

Obrigada por nos recordares que somos um povo temerário e orgulhoso.














Texto: MBarreto Condado
Fotos: gentilmente cedidas pelo autor

FAMÍLIA IDEAL, de MBarreto Condado















Dia Um

Todas as famílias têm os seus esqueletos. Estejam eles escondidos nos armários, esquecidos nos fundos falsos de velhas caixas. Fotografias que não passam de borrões. Um velho trapo, que se desfaz ao mínimo toque, mas que relembra um momento. Uma folha ressequida, de um passeio especial num parque de cujo nome já não nos lembramos e, que ainda marca a página de um livro. Recortes de revistas, de jornais. Areia da praia. Uma concha do mar. Uma pedra em forma de coração…. Porém, no fundo, todos, sem excepção, guardamos no único lugar seguro os nossos maiores segredos. Aqueles sobre os quais nunca falamos, seja por vergonha, receio ou simplesmente por serem só nossos. Guardamo-los em nós, algo que aprendemos a fazer em família!

Afinal a nossa família é a ideal.

Ensinaram-nos a acreditar, na Fada dos Dentes, no Pai Natal, no Menino Jesus, no Coelhinho da Páscoa. Em tudo que nos dizem! Porque afinal o que sabemos nós?

Infelizmente crescemos e os sonhos esbatem-se.

A Fada dos Dentes, passa a ser uma moeda debaixo da almofada. A impossibilidade de o Pai Natal descer com o seu saco através de um exaustor é notória. O menino Jesus acaba substituído por cuecas, meias e brinquedos em demasia e totalmente desnecessários. E pior do que não conseguir pôr ovos é o facto do Coelhinho da Páscoa não ser realmente de chocolate.

A nossa família ideal perde a sua credibilidade para as evidências, para os obstáculos diários com que nos confrontamos.

Chega o momento de lidarmos com o que temos e, alterarmos o que não gostamos.

Para os mais afortunados essa mudança começa cedo, para os mais distraídos acabará por chegar eventualmente.

Os nossos pais são os nossos heróis, os nossos avós as pessoas mais sábias, os nossos tios quem nos ampara quando os outros não estão presentes, os nossos primos são irmãos. Todos que nos rodeiam são família ainda que muitas das vezes não o sejam.

Dependemos deles quase tanto como do ar que respiramos, até ao dia em que crescemos e cada um como que por magia ganha uma nova personalidade. Tornamos-nos do dia para a noite em desconhecidos. É verdade que partilhamos o mesmo ADN, que fomos educados dentro dos mesmos princípios. Somos família e ao mesmo tempo não somos! As brincadeiras, as histórias, as festas que partilhávamos passam a ser momentos de tortura, como se um disco riscado continuasse a insistir na mesma nota. Mas, é no momento em que perdemos a base da nossa sustentação que mostramos a nossa verdadeira natureza.

Os avós partem deixando alguns dos seus segredos, conseguindo esconder a maioria por não terem quem os conheça e possa falar deles.

Os pais que aos nossos olhos eram perfeitos, demonstram as suas fragilidades.

Os tios simplesmente se afastam.

A maior parte dos primos passam de irmãos a filhos da …

É quando decidimos ter chegado o momento de mudar, criarmos as nossas próprias famílias numa derradeira tentativa de recriar os laços perdidos. Não desapontar quem ainda acredita em nós. Não importam os motivos, pode ser por amor, interesse, loucura, medo de ficar sós. Por tudo e por nada.

Se serão famílias ideais? Talvez seja pedir de mais!

Nos momentos em que julgamos já não ser possível voltar a acreditar, alguns conseguem encontrar esse elo, porém, os outros continuam manifestamente a procurar a tal família.

Criamos novas uniões, mas na realidade, não voltamos a acreditar em quem fomos ou no que nos unia. Toda a nossa postura muda. Com a idade tornamos-nos cépticos, irascíveis, individualistas, superiores, fingidos, orgulhosos, mostramos a nossa verdadeira face. Mas acima de tudo afastamos-nos cada vez mais uns dos outros até sermos meros desconhecidos.

Sem nunca desistirmos tentamos à nossa maneira construir o nosso caminho, pedra sobre pedra.

A família ideal passamos a ser nós, a sós ou acompanhados. Afinal quem melhor conhece as nossas necessidades, do que nós próprios?

Contudo, continuamos a questionar principalmente os nossos pais. A descobrir, a saber o que fazem, como o fazem, a ser bombardeados com informações sobre as quais dávamos tudo para não ter conhecimento.

A família ideal continua a ter os seus esqueletos. Já não estão escondidos, mas à vista de todos. Em bilhetes deixados propositadamente para serem lidos. Em fotografias rasgadas. Deitam-se fora as roupas velhas e compram-se novas. Pisamos as folhas ressequidas. Já não lemos, andamos demasiado ocupados com os telemóveis. Reciclamos revistas e jornais. Odiamos a areia da praia que se entranha nos fatos de banho. Esmagamos as conchas do mar ao caminhar. Atiramos as pedras para a água sem nos apercebermos que ainda mantêm a forma de coração….

domingo, 29 de setembro de 2019

ENTREVISTA | ESCRITOR SIMON SCARROW


“Os políticos parecem esquecer a história mais rapidamente do que o resto de nós aprende.”



A convite da editora Saída de Emergência, tivemos a possibilidade de conversar durante a Comic Con 2019, no Passeio Marítimo de Algés, com o autor Britânico Simon Scarrow sobre o seu livro “O Sangue de Roma”, traduzido e publicado pela primeira vez em Portugal, em Agosto deste ano.

Simon Scarrow é um escritor britânico, conhecido pela sua aclamada série "A Saga da Águia". Antes de se dedicar a tempo inteiro à escrita, foi professor do Colégio de Norwich. É um especialista na história militar das guerras napoleónicas, tendo escrito uma série de quatro volumes centrada em Wellington e Napoleão. O seu mais recente livro é “O Sangue de Roma”.





MBC – Durante muitos anos foi professor, deixou o ensino para se dedicar exclusivamente à escrita?
SS – Continuo a ir às escolas falar sobre história, mas não é a mesma coisa que ser professor, quando estamos diariamente com os mesmos alunos. Sinto falta desses tempos apesar de ainda dar aulas de escrita criativa. Sempre gostei de História, mas quando era mais novo nunca pensei em ser professor apesar de não me conseguir decidir sobre o que fazer, quando me apercebi que me pagavam para falar do assunto que me movia aceitei. Quando comecei, rapidamente percebi que abria portas do mundo para os alunos inspirando muitos deles. É uma experiência realmente humilde sentirmos que fizemos a diferença. Hoje em dia tenho conhecimento de pessoas que se graduaram nos clássicos simplesmente porque eram fans dos meus livros.

MBC – Porquê História?
SS – Quando era estudante aprendi Latim, confesso que nunca fui muito bom aluno porque era realmente uma língua muito difícil. Mas quando comecei a pensar na história da cultura, soube o que queria fazer. Comecei a viajar pela Europa e pelo Mediterrâneo e em todos estes locais encontrei inúmeros artefactos, foi quando me questionei sobre tudo o que via. Quem tinham sido aquelas pessoas que há dois mil anos nos deixaram, literatura, instituições políticas, legais. Se por um lado me identificava com o que descobria por outro ficava horrorizado.

MBC – Foi esse seu fascínio pelo mistério, pela descoberta que o levou a escrever este livro?
SS – Foi um conjunto de tudo, julgo que posso afirmar que uma série de peças se alinharam. A única certeza que tinha quando comecei a escrever é que ia ser uma longa série de livros. O meu editor não sabia quão longa seria. Escrevi por diversas vezes sobre os Romanos, o poder da Legião que se estendia a todos os cantos, na Síria, no Egipto, na Bretanha, como estavam permanentemente em movimento. Quando escrevemos muito sobre um assunto, percebemos que ao longo da história aconteceu sempre algo que nos leva a pensar no que acontece presentemente.

MBC – Para quem ainda não teve a oportunidade de ler o livro, quer levantar um pouco o véu sobre o que o leitor pode esperar?
SS – Este livro fala de Partia na Arménia, uma área geográfica totalmente insignificante até o Império Romano o reivindicar passando a ser simbolicamente e estrategicamente importante. Não vou adiantar mais na esperança de que o livro fale por si.

MBC – Onde recolhe as suas ideias?
SS – O que acontece por norma é que sempre que me desloco a algum local para fazer pesquisa acabo por encontrar ideias para um próximo livro. Dou-lhe um exemplo, fui para Creta com a ideia de escrever um livro para crianças sobre um menino gladiador. Conduzia pela ilha com a minha família quando passei por umas ruínas de uma antiga cidade romana destruída por um terramoto em 49 D.C. No espaço de uma hora já tinha um enredo na minha cabeça, o mesmo acontece com as personagens, nunca sei o que vai acontecer até começar a escrever a partir dai são elas mesmas que tomam o controlo, eu apenas me sento e peço-lhes para abrandarem o passo, diminuírem a velocidade dando-me tempo para escrever.

MBC – Para os leitores portugueses que ainda não o conhecem, o que gostaria de lhes dizer
para os motivar para a sua leitura?
SS – Que a História é muito importante porque nos explica quem somos. Mais do que nunca é essencial, até porque os políticos parecem esquecer a história mais rapidamente do que o resto de nós aprende. Não digo que a história se repita, mas existem padrões e ciclos muito similares e acabamos inevitavelmente a fazer algo muito semelhante ao que já aconteceu no passado.
Há dois anos conversava com um oficial do exército Britânico e ele dizia-me que íamos vencer no Afeganistão. Eu perguntei-lhe porque seria desta vez diferente se já o tínhamos tentado anteriormente e das três vezes que o fizemos provou ser sempre desastroso. A resposta dele foi tão simples como afirmar que as armas que tínhamos actualmente eram melhores. O problema é que ninguém parece perceber que os afegãos têm uma cultura muito rica apoiada nos senhores da guerra, em tribos e que nada mudou ao longo de séculos. Podemos ter uniformes chiques, melhores armas, mas isso não significa que seremos bem-sucedidos.

MBC – Actualmente as pessoas parecem gostar mais de ler fantasia, o que o leva a pensar que sentirão essa atracção que me descreve pela História?
SS – Considero a fantasia muito reaccionária e a ficção científica revolucionária.
A princesa Leya! Quem a elegeu?
No entanto a História é interessante porque aconteceu.
É verdade que em termos de interpretação também pode ser reaccionária particularmente sobre aspectos gloriosos do passado por isso penso que devemos ser sempre muito críticos e estar cientes do que lemos.
Quando Alexandria foi tomada pelo exército muçulmano, basicamente o que estes militares fizeram foi salvar o que restou da destruição que os cristãos deixaram atrás de si na biblioteca. Pegaram em todos os documentos que encontraram e levaram-nos cuidadosamente com eles, traduzindo-os posteriormente para Árabe. A verdade é que os documentos originais acabaram por se perder, mas continuaram a existir traduzidos em árabe até os cruzados os encontrarem e os traduzirem novamente para o Latim. Só temos a nossa cultura ocidental porque os muçulmanos a salvaram. E agora temos traduções de traduções dos textos originais.
Infelizmente alguns documentos perdem-se definitivamente, porém, outros acabam por ser encontrados por mero acaso.

MBC – Nota grandes diferenças nos métodos de ensino actuais de quando era professor?
SS – Demasiadas. Considero realmente preocupante no actual sistema de educação britânico o facto da História ser colocada à margem para dar maior visibilidade à matemática e às ciências. Os alunos deixaram de ter educação para passarem a ser treinados.

MBC – Na actualidade como é que os britânicos vêm o resto do mundo?
SS – Nasci em África e a minha mulher foi criada na Papua Nova Guiné, o que notei quando regressei para a Grã-Bretanha é que independentemente de falarmos a mesma língua de termos as nossas raízes neste país somos sempre vistos como estranhos. O que realmente me preocupa é que as pessoas que nascem e crescem nesta específica cultura convencem-se que o seu pais é o centro do mundo. E a verdade é que existem outros países, culturas, pessoas e reconhecê-lo não nos torna nem melhores nem piores, mas o resultado do meio em que somos criados.

MBC – O que pensa do Brexit?
SS – O Brexit revolta-me. Estive em Espanha antes do referendo e alguns jornalistas na altura perguntaram-me o que achava sobre este assunto. A minha resposta foi simples, num mundo já tão dividido não temos necessidade de encontrar mais uma razão para nos dividirmos ainda mais. Sinto orgulho de ser europeu, de poder viajar livremente. Sinto que essa liberdade de escolha me está a ser retirada e que não estou a ganhar nada antes pelo contrário sinto-me um perdedor.  

Sinopse:
Cato e Macro estão de regresso em mais uma emocionante aventura.
O Império Parto invadiu a província romana da Arménia, derrubando o rei Rhadamistus. Este é um monarca ambicioso e impiedoso, mas é leal a Roma. O general Corbulo tem como missão recuperar o poder, ao mesmo tempo que prepara as tropas para a guerra com o poderoso Império Parto. Mas o exército que lidera não está preparado para um conflito tão violento, e a chegada de Cato e Macro, veteranos de várias campanhas, é saudada por Corbulo.

Restaurar um rei deposto é um jogo perigoso. E a brutalidade de Rhadamistus para com os que o derrubaram é a faísca para uma rebelião que irá testar até ao limite a bravura e a vontade do exército romano. Mas, neste jogo de sombras e interesses, nem todos os inimigos estão no campo de batalha… 



Texto: MBarreto Condado
Fotos: Mário Ramires

QUANDO AS ATUAIS PRÁTICAS AGRÍCOLAS PODEM CAUSAR FALTA DE ALIMENTOS EM 2050, de Paulo Costa Gonçalves















A alimentação como necessidade humana básica que é, passa por diversas etapas antes de chegar o nosso prato, como seja: a sua produção, armazenamento, transformação, embalagem, transporte, preparação e, por fim, servida ao consumidor. Em cada uma destas etapas, por mais saudável que seja a dieta, são emitidos gases com efeito de estufa para a atmosfera. 

A produtividade das culturas depende de inúmeros fatores como o clima, a estrutura do terreno, as características da água de regadio e, também, do modo como se trabalha e nutre a terra, no entanto a necessidade de produzir mais alimentos originam uma agricultura intensiva nas terras já utilizadas e a práticas pouco sustentáveis como, por exemplo, o sistema de lavoura profunda ou o uso abusivo de adubos azotados, que libertam emissões de óxido nitroso e contribuem para as alterações climáticas. 
Considerando que a procura mundial de alimentos tenderá a aumentar em função não só do crescimento demográfico previsto, mas também devido à alteração dos hábitos alimentares não surpreende que, um pouco por todo o mundo, as zonas mais adequadas à agricultura já estejam em grande medida cultivadas e a procura de novas terras para cultivo leve à conversão de inúmeras zonas florestais num processo que, por um lado, gera ainda mais emissões de gases com efeito de estufa e, por outro lado, põe a biodiversidade em risco, comprometendo ainda mais a capacidade da natureza para resistir aos efeitos das alterações climáticas. Ou seja, o impacto da atividade humana na produção de alimentos pode, nos próximos anos, vir a praticamente duplicar os gases de efeito de estufa que daí são provenientes. Em suma, a agricultura contribui para as alterações climáticas e é afetada por elas. Um paradoxo de complexa, mas não de impossível solução.

Tendo em conta a importância da alimentação na nossa vida a redução das emissões de gases com efeito de estufa na agricultura aparenta-se difícil e como um enorme desfio para a humanidade, mas é possível reduzir as emissões ligadas à produção alimentar. 

Sem reduzir a quantidade de alimentos produzidos, o que poria em risco a segurança alimentar o mundo para além de provocar o aumento de preços à escala global e dificultar o acesso a alimentos nutritivos e a preços razoáveis às populações como será então possível satisfazer a maior procura mundial por alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir os seus impactos ambientais na produção e no consumo?

Atualmente as alterações climáticas e os seus efeitos nas temperaturas do ar já afetam a duração dos períodos de cultivo, as datas de floração e as colheita que ocorrem, em muitos casos, mais cedo, sendo previsível que estas mudanças continuem, onde já ocorrem, e se alarguem a outras regiões do mundo.

Por exemplo, nos países do norte da Europa, com temperaturas mais quentes e menores ocorrências de geadas, e com isso um aumento do período de cultivo, a produtividade agrícola poderá ser aumentado e alargado a novas culturas. Já no sul e devido ao aumento das ondas de calor, à redução da precipitação e da água disponível é previsível que a produtividade e a variação de culturas sejam prejudicadas. No entanto, é provável que em determinadas zonas mediterrânicas algumas culturas estivais possam passar a ser cultivadas no inverno, devido ao calor extremo e ao stresse hídrico nos meses de verão. Noutras zonas, prevê-se uma redução efetiva do rendimento das culturas devido à impossibilidade de transferir a sua produção para o inverno.

Também é provável que todas estas alterações possam vir a influenciar a proliferação e a propagação de algumas espécies de insetos, de ervas daninhas invasivas ou de doenças, que certamente irão afetar o rendimento das culturas, mas que poderão ser compensadas com a rotação de culturas, o ajustamento das datas das sementeiras à temperatura e à precipitação e por uma opção a variedades mais adequadas às novas condições climáticas. A redução do consumo de alimentos que exigem imensos recursos e produzem uma enormidade de gases com efeito de estufa, como é o caso da carne será também uma obrigatoriedade. Em suma, a necessidade, por um lado, de aumento na produtividade e simultaneamente a redução do uso de produtos agroquímicos e os seus efeitos ambientais e, por outro lado, diminuir o desperdício alimentar e o consumo de alimentos que exigem demasiados recursos sem pôr em causa, principalmente nos países em desenvolvimento, a segurança alimentar e o acesso a alimentos com valor nutricional adequado às necessidades do ser humano obrigará a que todo o sistema alimentar se transforme totalmente e utilize os recursos de forma muito mais eficiente. 

A solução mais provável e que se tornará controversa por questões sociopolíticas acabará por passar por uma solução global: Quem pode produzir, o que pode produzir e onde pode produzir.

Esta será sempre uma solução complexa e que, face às alterações climáticas e à competição por recursos, exigirá uma abordagem política coerente e integrada em matéria de alterações climáticas, energia e segurança alimentar.

sábado, 28 de setembro de 2019

ENTREVISTA | ROBIN HOBB

 

Margaret Astrid Lindholm Ogden nasceu na Califórnia em 1952, utiliza o pseudónimo Robin Hobb o mesmo que lhe viria a abrir as portas do mundo editorial com estonteantes vendas e projecção internacional.
Era muito nova quando se mudou com a família da Califórnia para o Alasca mas como o mundo da ficção se mistura com a realidade na sua nova casa ganhou um novo companheiro de aventuras, Bruno, um hibrido de cão e lobo com o qual se sentia segura o suficiente para se embrenhar pela densa floresta que rodeava a casa deixando a imaginação guiá-la.
No início da sua carreira escrevia para jornais locais, revistas juvenis, e em 1981 foi premiada pelo Conselho Estadual do Alasca pelo seu conto “A Caça Furtiva”, em 1983 escreveu o seu primeiro romance. foi nomeada para os prémios Hugo e Nébula e foi vencedora do prémio Asimov.
Mais tarde casou-se com um pescador e mudou-se para a ilha de Kodiak, foi através do marido que aprendeu a amar tudo o que dizia respeito ao mar.
Tem quatro filhos e netos e vive actualmente no estado de Washinghton.
Somente em 1995, após conversa com o seu agente decidiu criar um nome que se adequasse ao seu novo estilo de escrita com a publicação de “O aprendiz de assassino” Robin Hobb era finalmente catapultada para a fama e sucesso.
De ressalvar ainda como surge a série de fantasia mais popular de Robin Hobb, de acordo com a própria tudo começou com a descoberta de um pedaço de papel que conservava guardado no fundo de uma gaveta e que dizia simplesmente: “E se a magia fosse viciante? E se esse vicio fosse completamente destrutivo?”.
Os seus livros estão traduzidos em mais de vinte línguas, ganhou diversos prémios através da Europa como o Prémio da Fantasia do Elfo na Holanda, o Prémio Imaginales pelo trabalho traduzido em França e mais perto de casa ganhou o Prémio Endeavor por trabalhos publicados no Noroeste do Pacífico, venceu ainda este ano o prémio Gemmel em Inglaterra para melhor romance com o livro Assassin’s Fate, o último livro da série do Assassino e o Bobo. O livro será publicado brevemente em Portugal em dois volumes, “A Viagem do Assassino” e “O Destino do Assassino”.
E mais recente ganhou o Prémio Israeli Geffen para o melhor romance de fantasia com o livro “O Assassino do Bobo”, o seu trabalho continua a ser nomeado para os prémios Hugo, Locus e Nebula.
Robin continua a escrever pequenas estórias de ficção como Megan Lindholm.
A verdade é que sempre soube que queria escrever.

MBC – Como prefere ser conhecida por Margaret, Megan ou Robbin?
RH - Sou definitivamente Robin.

MBC – É a primeira vez que visita Portugal?
RH – Sim é a minha primeira vez.

MBC – Foi difícil conciliar a sua paixão pela escrita com o seu dia a dia de profissional, mulher, mãe, dona de casa?
RH - É um acto de equilíbrio. Acho que é importante que as pessoas percebam que as
crianças vêm sempre em primeiro lugar, primeiro sou mãe e só depois tenho um trabalho e algo de que gosto muito. Quando comecei a escrever tinha filhos pequenos e rapidamente percebi que não podia ter um sistema para escrever peguei sempre em todos os pequenos momentos livres que conseguia durante o dia quando dormiam, brincavam, viam televisão, sentava-me na mesa enquanto os observava e escrevia. Devo confessar que a minha casa nunca estava limpa como gostaria, que a minha relva ficava muitas vezes por cortar porque a verdade é que quando a oportunidade para escrever aparecia eu aproveitava-a.

MBC – Confesso que fiquei apaixonada quando tomei conhecimento da sua relação com o cão Lobo Bruno, pode fala-nos um pouco sobre esse tempo?
RH - Quando nos mudámos para o Alasca existia um cão no nosso bairro, e quando digo bairro refiro-me às casas estarem afastadas por hectares umas das outras, uma das coisas que dizemos no Alasca é que se à noite conseguires ver as luzes do vizinho está na hora de mudares. Víamos o Bruno como um rafeiro e a história que se contava sobre ele é que tinha sido criado como animal de estimação de alguém, mas que, entretanto, tinha sido amarrado e fugira. Quando o vimos pela primeira vez coxeava, mas vinha até à nossa casa e começámos a alimentá-lo. O meu pai conseguiu fazer com que confiasse nele o suficiente para se aproximar e tirar-lhe o espinho que o feria depois de o tratarmos gradualmente começou a ficar na nossa casa e tornou-se parte da nossa família. Os vizinhos contaram-nos que devia ser uma mistura de cão pastor branco e de Lobo, era um cão enorme e esteve connosco durante muitos anos. Eu estava muito habituada a viver perto de florestas, mas com este cão percorria a floresta encostada à minha casa durante horas sabendo que ele garantia o meu regresso em segurança.

MBC – As paisagens do Alasca têm alguma influência em tudo o que escreve?
RH – Nem por isso. Desde que me lembro que sempre quis ser escritora. Na minha adolescência escrevia vários inícios de estórias, mas nunca me conseguia comprometer com um final, porém estava sempre a escrever. Desse tempo guardei somente alguns rascunhos e alguns diários que já nem existem.

MBC – O seu marido é o seu maior crítico?
RH - O meu marido não lê nada do que escrevo e o motivo para isso é que no inicio da minha carreira estava a escrever sobre uma personagem que ia morrer de uma maneira suja, ele leu as primeiras páginas e disse-me que a personagem que estava a descrever era muito parecida com uma pessoa nossa conhecida, o Bruce, depois de pensar confirmei que tinha razão era realmente parecida foi quando o meu marido me disse que não ia continuar a ler a estória porque não achava bem que eu matasse os amigos. O que percebi foi que o meu marido conhece-me tão bem que não estava a ler o que escrevia, mas que me lia a mim. É por esse motivo que penso que se queres ser um escritor deves ter alguém que leia e critique a tua estória, alguém que não te conheça porque se estás a escrever e descreves locais como o cinema ou a casa de waffles do outro lado da rua e por aí em diante os teus conhecidos reconhecem de imediato os locais aos quais te referes. Por esse motivo é melhor distanciarmo-nos e termos alguém de fora a criticar-nos e aconselhar-nos.

MBC – E os seus filhos e netos serão eles os seus maiores fans e críticos?
RH – A verdade é que alguns deles leram, outros não, uns vieram a tornar-se fervorosos leitores enquanto que os outros preferem documentários.

MBC - Baseia os seus personagens na sua família, em conhecidos?
RH - Nunca o faço deliberadamente, não tenho por hábito colocar pessoas que conheço nos meus livros possivelmente somente algumas das suas características que me prendam a atenção, como certa pessoa anda, pega na caneca do café, como fuma um cigarro, como se veste. Por exemplo não podemos tirar uma mulher moderna e colocá-la num mundo de fantasia, ela tem ideias, consciência de que é dona do seu próprio espaço, teria que existir uma razão para o fazermos. 

MBC - O que sentiu quando percebeu que a aceitação dos seus livros era maior quando se apresentava como Robin Hobb, quando na realidade continuava a ser a Megan?
RH - Comecei a escrever com o diminutivo do meu nome de solteira, Megan Lindholm quando escrevia histórias para crianças, fantasia e ficção científica. Escrevia em todos os géneros da fantasia mas os leitores gostam de saber o que leem, se for conhecida por escrever westerns e depois escrevo um romance que se passa em Nova Iorque com o mesmo nome de autor o leitor que me siga não irá ficar satisfeito se comprar um dos meus livros a pensar que é um western e sai-lhe algo completamente diferente ou vice-versa. Por isso quando tanto eu como o meu agente nos apercebemos que queria escrever fantasia épica e sempre mais do que um livro dentro do mesmo género disse-me que precisávamos de separar a escrita e aconselhou-me a pensar num nome diferente, divertimo-nos imenso a ler o nome escolhido. Além de que é uma forma de escrita totalmente diferente da de Megan que é muito mais cínica e não explica detalhadamente as situações nem é tão emocional por isso é um estilo de escrita diferente e ainda hoje quando tenho uma nova ideia sobre o que quero escrever sei automaticamente se é para ser escrito pela Megan ou pela Robin. Quando adoptei este nome não dei muitas entrevistas, nem anunciei a mudança, não foi tanto para tentar parecer que era um homem que escrevia foi mais para baixar a pressão de descrença que pudesse surgir. Quando escrevi a trilogia Farseer escrevi como a personagem principal que era um homem porque quis facilitar a entrada na estória tornando-a mais fácil para o leitor.

MBC – Consta que descobriu um pedaço de papel que conservava guardado no fundo de uma gaveta e que esse foi o incentivo necessário para começar a escrever a Trilogia Farseer.
RH - É verdade, era um envelope rasgado ao meio que guardava na gaveta porque nunca fui suficientemente organizada para ter pequenos livros de anotações isto aconteceu no inicio da minha carreira quando ainda escrevia como Megan, aconteceu quando atingi um ponto difícil no livro que estava a escrever e de repente tens outra ideia que é mais bonita, mais brilhante e muito mais fácil de escrever, ou uma ideia que não se adequa ao que está a escrever presentemente a frase era: “E se a magia fosse viciante? E se esse vicio fosse completamente destrutivo?”. Nesse momento soube que tinha que tirar a frase da minha mente e acabar a estória na qual estava a trabalhar na altura. Por isso voltei a guardar o envelope rasgado dentro da gaveta onde mantinha uma série de outros papeis, e ali ficou durante mais um tempo.

MBC - Ainda tem essa secretária?
RH – Não, essa secretária há muito que desapareceu bem como a casa. Mas só Deus sabe o que guardo no meu escritório.

MBC – O desenho detalhado das casas, dos mapas partiram de si ou foram sugeridos?
RH - Não faço mapas porque infelizmente tenho uma noção muito má das distâncias, neste momento não conseguiria dizer a distância que nos separa por esse motivo sou terrível a desenhar mapas. Cada tradução tem as suas próprias opções artísticas para as capas, os mapas do terreno, o detalhe das casas.  O que acontece é que normalmente envio para o meu editor rabiscos de um mapa no qual se baseiam. Se virem os primeiros livros do aprendiz de assassino podem repara que o mapa na edição inglesa é totalmente diferente do mapa na edição americana.

MBC - O festival Bang é anual e consegue colmatar a curiosidade que os leitores de literatura fantástica têm sobre quem escreve os livros que os transportam para lá da imaginação por esse motivo qual espera ser a sua recepção de boas-vindas amanhã no Festival Bang?
RH - Todos os festivais são diferentes costumo ir aos Comic Con nos Estados Unidos e é sempre diferente por isso terei que esperar para ver.

MBC - Quer deixar uma mensagem aos leitores portugueses?
RH - Muito obrigada pelo vosso apoio.





Texto: MBarreto Condado
Fotos: Mário Ramires