quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Actualidade | Sabia que pode receber os livros da Penguin comodamente em sua casa com a Glovo? | Grupo Penguin Random House



Escolha o livro, faça a sua encomenda e receba-a comodamente em sua casa com a Glovo.

Depois, é só escolher o sofá preferido, preparar uma manta quentinha e um chá ou café e dedicar-se à leitura.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Novidades Literárias | O Maior Segredo, de Rhonda Byrne | Harper Collins

 




Chegou a tão esperada nova obra de Rhonda Byrne, a autora do mundialmente famoso O Segredo, um convite irresistível para a descoberta da felicidade autêntica e duradoura, cujos ensinamentos ajudam a dissipar o medo, a ansiedade e a dor. Repleto de exercícios simples que podem ser praticados a qualquer momento e de percepções profundas que guiam o leitor numa jornada incomparável, O MAIOR SEGREDO é o livro aguardado por milhões de pessoas nestes tempos de ansiedade.

Após a publicação de O Segredo em 2006, Rhonda Byrne manteve uma mentalidade positiva, que se refletiu na sua vida em termos de felicidade, saúde, relações sociais e estabilidade financeira. Mas, apesar de desfrutar de uma vida plena de felicidade e bem-estar, algo a impulsionou a continuar a procurar a verdade: toda a verdade. Este livro importante contém o que ela aprendeu no decorrer dessa busca, durante os dez anos que se seguiram à publicação de O Segredo.

Se O Segredo nos mostrou como atingir tudo o que queremos ser, fazer ou ter, O Maior Segredo revela a descoberta mais profunda que um ser humano pode fazer e a forma de deixar para trás a negatividade, o medo e o sofrimento e viver uma vida de felicidade e alegria constantes. A mensagem de O Segredo deu aos leitores a certeza de que possuem a capacidade de criar a vida que desejam. Em O Maior Segredo, Rhonda Byrne inspira-se nos ensinamentos das muito poucas pessoas que alcançaram a verdade sobre o nosso mundo — uma verdade libertadora cuja revelação  conduz a uma vida de paz e alegria duradouras.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Boas Festas da Equipa Nova Gazeta!


    Num ano complicado para todos, deixamos uma mensagem de esperança, que estas festas, pese embora as restrições a que estamos sujeitos, sejam passadas com paz , saúde (ou em franca recuperação) e que o novo ano nos alimente a chama da esperança.

   Os livros são uma das fontes de inspiração mais importantes que conhecemos, aqui estaremos para partilhar convosco esta nossa paixão, para dar a conhecer autores, obras, eventos e um admirável mundo sempre renovado de arte, inspiração e emoções únicas.

Como dizia Sebastião da Gama: "É pelo sonho que vamos."


A Redacção do Jornal Nova Gazeta

sábado, 5 de dezembro de 2020

CRÍTICA LITERÁRIA | "Lua de Mel em Paris", um romance agora inserido numa Colectânea "Entre Nós", de Elizabeth Adler | QUINTA ESSÊNCIA - GRUPO LEYA


 Isabel de Almeida

 | Crítica Literária | Jornalista | Editora

Elizabeth Adler é bem conhecida das leitoras de romance contemporâneo e há muito habituou as suas seguidoras a histórias leves, com um toque de romantismo, por vezes algum mistério e tendo por aspecto distintivo dominante o facto de transportar os leitores para os locais paradisíacos onde decorrem as suas histórias, numa verdadeira viagem pelos caminhos da imaginação literária.

Ao longo dos anos vêm sendo publicados diversos romances, e este ano foram reunidos três romances numa verdadeira edição de coleccionador a que não irão resistir as fãs da autora, mesmo as que tenham os livros em formato individual, obra esta editada sob o título sugestivo "Entre Nós" que inclui os livros "Romance na Toscana", "Lua de Mel em Paris" e "Encontro na Provença"

Para aguçar o apetite, aqui deixamos a crítica literária respeitante ao livro "Lua de Mel em Paris".

Com Lua de Mel em Paris Elizabeth Adler traz-nos um Romance bastante leve, de fácil, rápida e envolvente leitura, mas que, ainda assim, nos dá a oportunidade para uma reflexão acerca do sentido da vida e das consequências mais ou menos positivas que podem advir das opções que tomamos.

   Apresentando um núcleo bastante reduzido de personagens, a acção decorre de modo bastante dinâmico, o que torna o livro bastante viciante.

  A personagem central - Lara Lewis - é uma mulher de meia-idade [45 anos], da classe média alta, casada com um agora conceituado Pediatra - Bill Lewis - é mãe de dois filhos jovens adultos, casada há 25 anos, defronta-se com o fantasma de um casamento em crise.

   Ao saber que Bill mantém um romance extra-conjugal com a sua bela Assistente - Melissa Kenney - Lara teme pelo fim do casamento e pelo desmoranar do seu projecto de vida, enquanto mãe de família e esposa dedicada do Dr. Bill Lewis, reconhecendo que deixou para trás as suas hipóteses de construção de uma carreira, tendo-se anulado enquanto ser humano com identidade e projectos pessoais próprios.

  Bill, arrogante, prepotente, snob, workaholic e, mais recentemete, infiel, adia a viagem de segunda Lua de Mel em França, recusando-se a acompanhar Lara, e viajando para Pequim com a amante e Assistente Melissa.

   É no seu refúgio de Praia, na Costa de Carmel, que Lara irá conhecer o construtor civil Daniel Holland, com o qual se irá envolver e, numa decisão impulsiva, convida-o para a acompanhar a França na viagem em que, sem que o jovem amante saiba, irá repetir dentro do possível a Lua de Mel que havia tido com Bill, há 25 anos atrás, e que recorda como mágica e romântica.

   Nesta volta de 180 graus que vê a sua vida dar, Lara conta com o apoio incondicional das suas amigas de sempre, Delia, Susie e Vannie, que a incentivam a ir para França, e que não se mostram chocadas com o aparecimento de Daniel Holland na vida de Lara, dando a sua aprovação ao romance.

   E assim, Lara e Daniel partem numa aventura romântica em direcção a Paris e a várias  outras regiões de França, enfrentando alguns contratempos, à medida que Lara tenta redescobrir o seu "eu" perdido, numa viagem introspectiva, que os leitores vão acompanhando a par e passo.

   Nesta sua viagem de (re)descoberta, Lara procura enfrentar a dura realidade que a espera, quando regressar a casa, e reconhece que a sua vida pode não ter passado de uma questão de aparências, com base no que se entende ser socialmente correcto.

   Aos 45 anos, com algum peso a mais, uma certa ingenuidade, e após uma vida inteira de regras e convenções sociais e inibições, estará Lara à altura de se descobrir a si mesma, e se reconstruir, assumindo, finalmente, o papel de protagonista da sua própria vida?

   E Daniel Holland, um jovem, belo e modesto construtor Civil, que ajudou a criar os seus irmãos como de filhos se tratassem, estará verdadeiramente apaixonado por Lara e disposto a ajudá-la neste novo percurso de vida, ou tudo não passará de uma paixão forte mais passageira? Irão ambos saber conciliar as divergências decorrentes das suas histórias de vida e diferença geracional?

  A resposta a esta e outras perguntas caberá às leitoras descobrir, enquanto vão desvendando as maravilhas gastronómicas e paisagísticas de França, que Adler tão bem sabe descrever, transportando mentalmente o leitor para os locais onde se encontram as personagens.

  Escolhas, traição, romance, aventura, introspecção e redescoberta, a que se somam as belas paisagens de França e todo um modo de vida tão típico deste país. Uma boa proposta para presente de Natal, que lhe trará umas boas horas de descontracção.

 Recomendamos esta leitura!

FICHA TÉCNICA DA OBRA:

Título: Entre Nós 

(Inclui "Romance na Toscana", "Lua de Mel em Paris" e "Encontro na Provença")

Autora: Elizabeth Adler

Edição: Setembro de 2020

Editora: Quinta Essência | Grupo LeYa

Páginas: 912



sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

MANIA DA ESCRITA #1 | E se o desafio for: Ler muito! Aceitam? | Isabel de Almeida


 Isabel de Almeida

Jornalista | Crítica Literária | Editora do Jornal Nova Gazeta


Este espaço de partilha de ideias com os nossos leitores tem andado a ser ponderado, considerei iniciar apenas em 2021, mas face ao actual contexto, e por entre tantas mudanças, parece-me que faz sentido começar a desvincular-me de certos rituais que tão depressa não retomam o seu anterior simbolismo, se é que irão voltar a adquiri-lo, sendo um bom exemplo a transição de ano no calendário Ocidental.

Proponho-me partilhar ideias, reflexões, momentos mais ou menos filosóficos e, assumidamente, dar mais um contributo para que a leitura entre cada vez mais nos hábitos dos Portugueses, em especial, pedindo aos mais velhos um investimento de tempo na motivação dos mais jovens para a importância extrema da leitura como forma de aquisição e desenvolvimento de vocabulário, obtenção de conhecimentos mais fidedignos do que aqueles que tantas vezes encontramos na internet com o simples e mecanizado gesto de clicar num resultado de pesquisa no google.

E aqui fica desde já revelado aquele que será um dos grandes desafios, que este plano de incentivo à leitura que proponho passa servir como alternativa ao vício dos jogos de computador e telemóvel que vejo ostentar um efeito verdadeiramente encantatório nos mais jovens.

A crise pandémica que invadiu as nossas vidas, e que mais parece ter saído da pena de algum grande escritor de Thrillers-catástrofe com toque sobrenatural - Stephen King bem tem imaginação para uma história destas, mas infelizmente é a realidade e não mera ficção, pode e deve ser encarada como oportunidade para a mudança de atitudes perante os momentos de lazer - muitos deles agora forçados a decorrer em nossas casas - então porque não aproveitar para fazer um regresso ao passado (à nossa infância e adolescência) e promover a construção de uma biblioteca familiar, ou organizar e aumentar a que já exista? Porque não ajudar os mais novos a escolher um livro, livro esse que pode ser lido por toda a família e debatido numa espécie de tertúlia. A partir de uma simples história, podemos convidar também os mais jovens a explorar o tema da obra para além da trama em si, e pegar, por exemplo, num conceito, na mensagem que o livro aporte, no contexto histórico ou social em que decorra o cenário do livro e investigar como era a sociedade e o modo de vida noutros tempos (se viajarmos até outra época através das páginas de um livro), ou qual a relevância do tema no dia a dia (se estivermos perante uma obra contemporânea).

Podemos ter também aqui um excelente mote para dar asas a outras expressões artísticas, por exemplo: ilustrações temáticas com recurso a diversos materiais; construção de textos em prosa ou poéticos inspirados no tema da leitura ou numa personagem preferida; dramatização de um excerto da obra em família, que poderá até ser filmada e partilhada com amigos e familiares utilizando as novas tecnologias (e assim pode dar-se a junção de dois mundos aparentemente opostos, a literatura e as plataformas digitais de vídeo e áudio).

Que vos parecem estas ideias? Aqui fica o desafio. Contem-nos tudo!

Podem partilhar connosco outras ideias e sugestões ou colocar questões. 

Contactar: redaccao.novagazeta@gmail.com (colocar no assunto "Mania da Escrita"

Aqui ficam algumas sugestões literárias para este desafio:

Fala-me de Um dia Perfeito - Jennifer Niven  - adolescentes e jovens adultos

O Rapaz do Caixote de Madeira - Leon Leyson - dos 12 anos em diante

Vamos Comprar um Poeta - Afonso Cruz - dos 14 anos em diante




sábado, 14 de novembro de 2020

A MULHER DO PESCADOR, de Fernando Teixeira

 







Acordou, sobressaltada, com o toque do telefone fixo que o marido insistia em manter em casa. De relance, olhou para o relógio sobre a mesa-de-cabeceira e viu a indicação 4:15 no mostrador. Sylvie saiu da cama, estremunhada, e dirigiu-se à parede entre a cozinha e a sala de estar, onde o telefone estava pendurado, sentindo o coração acelerar.

Trémula, pegou no telefone, retirando-o da base:

Allô?

Do outro lado, a resposta demorou um par de segundos, até que ouviu dizer:

– Sylvie, houve um acidente com o Étoile de Mer… tens de vir aqui!

Apesar de assarapantada, percebeu que era a voz de Alain, um dos responsáveis da Coopérative Maritime, quem lhe ligava a meio da noite, por sinal um amigo deles. Sentiu um baque. O nome Étoile de Mer ecoava na sua mente: o barco do marido, estrela-do-mar como ele a costumava tratar carinhosamente.

– Acidente? Como assim? O que aconteceu? – perguntou, sentindo um nó na garganta.

– Ainda não sabemos ao certo. Parece que alguém se feriu a bordo… Recebemos um SOS, via rádio.

Então mais desperta, teve a percepção de que o interlocutor deveria saber mais do que estava a contar, o que a deixou numa aflição.

– Por que motivo me estão a ligar? Alain, aconteceu alguma coisa ao Jacques?

– Tens de vir, Sylvie…

Desligou o telefone, apressou-se a vestir o anorak e saiu de casa. Não se sentia capaz de conduzir, traída pelos nervos, pelo que decidiu percorrer a pé os cerca de quatrocentos metros que a separavam da Coopérative. A noite estava escura como breu e caía uma morrinha, açoitada por vento forte. A espaços, o clarão de um relâmpago rasgava os céus seguido do ribombar de um trovão a alguma distância, para o lado do mar. Inclinou o corpo para a frente, de modo a contrariar a força do vento e conseguir avançar.

As gotículas de chuva misturavam-se com as lágrimas que não conseguia segurar. Para a chamarem a meio da noite, tinha de ter acontecido algo grave, dando razão ao pressentimento que tivera nessa tarde. Com aquele vendaval, o mar do golfo deveria estar com vagas enormes… Teria ocorrido um naufrágio? Nesse caso, ter-se-ia o marido e os restantes homens do Étoile de Mer conseguido salvar? Receava o pior! O certo é que tinha havido um pedido de socorro para terra e alguém o teria feito. Jacques, como dono e responsável pelo barco? Qualquer um dos outros quatro pescadores?

Sentia perder as forças nas pernas, todo o corpo num tremor e não era de frio por ter já as calças ensopadas: com a precipitação de sair, nem se lembrara de pegar num chapéu-de-chuva. Um nó na garganta dificultava-lhe a respiração, mas ia-se esforçando por pôr um pé à frente do outro, lutando contra as rajadas de vento e o esvaziamento anímico.

Finalmente, chegou à Coopérative Maritime. A porta estava entreaberta e havia luz no interior, o que só por si, àquela hora, era sinal de que algo de anormal se passava.

Entrou. Assim que a viu, Alain veio ter com ela e abraçou-a.

– O teu marido… Lamento, Sylvie! – ouviu-o dizer, com a voz embargada.

Afastou-o com as mãos e recuou um passo.

– O que é que lamentas, Alain? Explica-te! – exigiu, alterada, como que esperando que a resposta ainda pudesse ser diferente daquilo que parecia ser cada vez mais óbvio: algo muito grave tinha acontecido a Jacques.

O outro manteve a serenidade possível e, com voz pausada, informou:

– Às duas e meia da manhã, recebemos um SOS do Étoile de Mer. Disseram que estavam em dificuldades, que as condições do tempo se tinham agravado e que se tinham visto no meio de um temporal a vinte milhas náuticas daqui, algures entre a ilha de Groix e Quiberon. O mar estava cavado e o vento era muito forte. Estavam a tentar recolher a rede de emalhar. O Jacques tinha largado o leme e dirigia-se para ajudar os outros, quando um golpe de mar quase ia virando o barco. Ele não se conseguiu segurar a tempo e foi atirado com violência contra o guincho.

Suspendeu o relato por um segundo interminável, como que para a preparar.

– A pancada na cabeça foi fatal, Sylvie… Os companheiros não o conseguiram reanimar, lamento muito dizê-lo!

Ela sentiu o chão fugir-lhe dos pés. Vendo-a empalidecer, quase desfalecendo, Alain amparou a amiga, conduzindo-a a uma cadeira onde a sentou. Pediu a um outro homem que lhe trouxesse um copo com água e açúcar. Agachado à sua frente, foi segurando as mãos de Sylvie que se mantinha recostada, com a cabeça inclinada para trás e os olhos atónitos fixos no vazio.

 

in Traços De Pont-Aven

 

(O autor escreve segundo a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.)

domingo, 8 de novembro de 2020

IR OU FICAR, de Fernando Teixeira

 


A previsão não era a melhor. O mês de Fevereiro estava no fim e tinha decorrido quase todo com tempo instável. Aquele dia não era excepção: um céu carregado de nuvens escuras, vento moderado a forte, com algumas rajadas, e aguaceiros frequentes.

Tudo em redor estava empastelado em tons de cinzento. As gaivotas e outras aves marinhas haviam desaparecido da zona da ria, provavelmente recolhidas em terra, a adivinhar tempestade no mar. Quando deixava de chover, lá aparecia uma ou outra gaivota no cais, deslocando-se em passinhos hesitantes e com as penas levantadas pelo vento, para logo efectuar voos curtos à procura de abrigo, dir-se-ia pequenos saltos, a força do vento não lhe permitindo grandes veleidades. Os barcos, ancorados em fila na ria, balouçavam freneticamente em movimentos descoordenados ao sabor da crispação das águas.

Durante a manhã, um bom número de pescadores havia-se mantido reunido nas instalações da Coopérative Maritime, de ouvidos colados aos aparelhos de rádio e de telecomunicações, e de olhos postos nos televisores, na tentativa de apurar quais as condições meteorológicas para essa tarde e noite. Havia sido assim, dias a fio. De vez em quando, entrava mais um pescador, cada qual trazendo notícias contraditórias. Alguns dos homens tentavam contactar capitães de navios que estivessem ao largo, no sentido de confirmar as condições reais do mar e do vento.

Jacques Bonnet era dono de um dos barcos maiores, e com mais calado, de entre os dos Patrões de Costa locais e apenas esse restrito número de embarcações poderia enfrentar aquele mar. Apesar disso, ele jamais teria saído da ria com aquelas condições, pondo em risco o barco e, principalmente, a sua e a vida dos quatro pescadores, também amigos de longa data, que faziam há anos parte da sua tripulação.

A seguir à hora do almoço, o tempo pareceu amainar um pouco, embora continuasse ameaçador, o que dividiu ainda mais a opinião dos pescadores. De facto, o vento acalmara bastante e já não chovia há hora e meia.

Os quatro pescadores vieram ter com Jacques, incentivando-o a fazerem-se ao mar. Argumentaram que tinham telefonado para familiares e amigos de Le Pouldu, Lorient, Port Manec’h, Poul Don e até de Quiberon: tinham sabido que um ou outro barco de maior porte já tinha saído para o mar e que as tripulações de outras embarcações, até menores, se preparavam para o fazer.

Outros grupos de homens, à volta deles, pareciam debater-se com o mesmo dilema, esgrimindo argumentos e dúvidas: sair para a pesca ou ficar em terra?

Jacques dirigiu-se com Maurice, o seu contramestre, à mesa dos rádios, na expectativa de obter as últimas informações sobre as condições meteorológicas. Consultaram as cartas náuticas e trocaram impressões.

Com a aproximação da hora habitual de partida para a faina, algumas mulheres entraram nas instalações tentando convencer os maridos a não arriscarem.

Também Sylvie tentou demover o marido da intenção de se fazer ao mar nesse dia. Bem vira como estava o tempo nessa manhã, enquanto conduzia em direcção a Quimperlé. À chegada ao emprego, apressou-se a telefonar para saber das intenções de Jacques. Não ficou descansada com a resposta e passou a manhã angustiada. Sabia como o marido era corajoso, por vezes até demasiadamente temerário para o seu gosto. Já o vira sair para o mar, com os companheiros, em condições que aconselhavam prudência. E aquele era um dia desses!

No fim do turno da manhã dessa sexta-feira, não conseguiu aguentar a ansiedade: pediu dispensa, desculpando-se de que tinha surgido uma emergência em casa, e “voou” para Port de Doëlan com as mãos agarrando o volante e o coração.

Entrou apressada na Coopérative, depois de ter verificado que o marido não estava em casa. Viu Jacques reunido com os seus homens. Correu lesta para ele e abraçou-o num soluço. Os quatro pescadores afastaram-se, dando espaço ao casal. Todos eles já tinham passado por momentos assim com as respectivas esposas. Bem sabiam o que era ler-lhes a angústia nos olhos lacrimejantes.

 

in Traços De Pont-Aven

 

(O autor escreve segundo a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.)

 


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Novidade Literária | " O Instituto", de Stephen King - Novo Thriller chega às livrarias dia 6 de Novembro | Bertrand Editora


 Dia 6 de Novembro os fãs do escritor de thrillers mais famoso de sempre - Stephen King - têm razões para celebrar, pois chega às livrarias o mais recente thriller - "O Instituto" , prometendo momentos de intenso medo como é apanágio deste escritor.

A obra encontra-se já em pré-venda online, caso não tenha possibilidade de se deslocar a uma livraria.

SINOPSE

A meio da noite, na casa de uma rua tranquila de Minneapolis, intrusos matam silenciosamente os pais de Luke Ellis e levam-no numa carrinha preta. A operação demora menos de dois minutos. Luke vai acordar no Instituto, num quarto parecido com o dele mas sem janela. E há outras portas, que fecham outras crianças com talentos especiais telecineia e telepatia - e que ali chegaram da mesma maneira que Luke: Kalisha, Nick, George, Iris e Avery Dixon de dez anos. Todos eles estão na Metade da Frente. Luke fica a saber que há outros na Metade de Trás, de onde nunca se volta.


Na mais sinistra das instituições, a diretora, a senhora Sigsby, e a sua equipa dedicam-se impiedosamente a extrair dessas crianças a força de seus dons paranormais. Não há escrúpulos aqui. Se se colaborar, recebe-se fichas para as máquinas de venda automática. Se não, a punição é brutal. À medida que cada nova vítima desaparece para a parte de trás, Luke vai ficando cada vez mais desesperado para sair e pedir ajuda. Mas nunca ninguém conseguiu fugir do Instituto.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

COMEMOROU-SE A 27 DE SETEMBRO, O DIA MUNDIAL DO TURISMO (WTD), de Paulo Landeck

Comemorou-se a 27 de Setembro, o Dia Mundial do Turismo (WTD), apontando o tema deste ano para o Turismo e desenvolvimento rural - Precisamos novos rumos.
O Turismo de Portugal, refere a capacidade única do turismo, em “impulsionar o desenvolvimento económico” e não deixa esquecer possível oportunidade para as comunidades rurais, fora dos grandes centros urbanos.
Infelizmente, só depois de voltar a insistir na economia, refere a página alusiva à malfadada data, “a capacidade de promover e proteger” o” património natural e cultural”, sem esquecer a importância diferenciadora da identidade/autenticidade. Pois…é por aqui, que gostaria de ver sobretudo o Estado, mais empenhado!
Vou procurar não me perder em números nem estudos, que em larga medida, têm servido como cosmética, ou para justificar todo o tipo de atentados ao património natural e cultural, em nome do turismo, colocando-nos perante novos desafios e ameaças, até para com a referida “indústria”, como alguns gostam de lhe chamar (essa é precisamente a perversa lógica que podemos e devemos evitar, se quisermos tirar o máximo proveito do que os recursos têm para oferecer à sociedade).
A organização atribuída este ano pela OMT, a um grupo de países, e não a um Estado-Membro, espelha a importância internacional e carácter transfronteiriço do turismo. Eu gostaria de acrescentar, a tremenda responsabilidade, nestes tempos pandémicos, mas sobretudo de crescente crise ambiental, social, e humanitária.
O turismo, tem de ser útil ferramenta, não um cancro como revelado até aqui, instrumentalizado por mentes obscuras que exploram os recursos em benefício próprio (muitas vezes promovendo evasão fiscal, branqueamento de capital, precaridade, e por aí fora…), sem olhar aos serviços de ecossistemas, nem à forma como podemos melhorar a qualidade de vida das comunidades a quem, em última análise, os referidos recursos mais deveriam interessar/favorecer.
O turismo pode ser vital para as metas do milénio, se, e somente se, for orientado pelo prisma da sustentabilidade.
Já se percebeu há muito, que a economia só por si, promove: degradação, desigualdade, atraso, desperdício…entre outros erros que já estamos a pagar, e mais tarde pagaremos da pior forma.
Não podemos continuar com chavões de dois tostões, como sustentabilidade, ou planos e estudos atrás de mais planos e estudos, sem verdadeiramente trilhar novos caminhos, que sejam promotores do que de melhor possamos oferecer, cujos maiores benefícios possam ser alargados à maioria.
Falar de turismo sem politizar, é como ir à bola sem olhar ao esférico, o público, já todos sabemos o que lhe aconteceu, vítima da economia da crise
É por esse motivo, que quero referir a importância que o conhecimento científico possa ter, nas mais variadas áreas, quando aliado ao turismo também assente em sólida base de conhecimentos.
Como é possível, qualquer empresa iniciar actividade turística sem o mínimo de formação adequada na área?
A especulativa selva, sobretudo nos centros de maior afluência, deixou efeitos negativos à vista (alguns por chegar), vale de tudo quando deveríamos promover oferta de produtos e serviços de elevada qualidade, também por parte das PME.
É por essa via que poderemos e deveremos definir estratégias mais balanceadas, sustentáveis, focadas até mesmo no desenvolvimento local, como quem recupera azulejo, parte integrante de painel maior.
A Dark Sky Alqueva, premiada com o Sustainability Leadership Award 2020, ACQ5 Country Awards 2020, The Bizz Awards2020, Europe’s Leading Tourist Destination2020, Europe’s Responsible Tourism Award 2019, e os mais que seguramente se seguirão, representa bem como se ganham boas apostas por via de oferta diversificada assente no conhecimento, e na excelência. Já nos anos 90, eu tinha noção de como o stargazing poderia ser algo a trabalhar, também no turismo, em Portugal. A política de cuidada expansão, soma e segue (com imensas possibilidades, por certo).
Imaginem quantas empresas como esta não possam surgir, a actuar naturalmente em diferentes áreas do conhecimento ou da imaginação. Não copiem, revejam possibilidades, num país cuja maior riqueza deve estar precisamente na sua História, e no vasto património cultural e natural.
A Naturalist – Science&Tourism, surgiu como startup, segue no bom caminho, ao combinar tours culturais, com recolha de dados científicos (fazendo aqui um importante interface entre diferentes áreas, enquanto promove desenvolvimento multidisciplinar). Operam no Faial, com uma equipa multifacetada que combina biólogos/investigadores, com especialistas no turismo. A observação de cetáceos, em particular, conta com alguns bons exemplos, como a Terra Azul, em São Miguel, entre outras distribuídas um pouco por todo o país (de Sagres, a Setúbal, ou à Madeira, felizmente…). Isto, apesar de existirem empresas licenciadas a operar sem o fundamental conhecimento, nem controlo eficaz por parte do Estado (uma vez que lidam com recursos sensíveis, como a biodiversidade). – Facilitar o acesso aos que trabalham mal, é colocar em causa não apenas os recursos, como o bom trabalho feito por todos os outros.
No turismo industrial há muito a fazer, mas também bons exemplos, como o caso de S. João da Madeira, pela elevada qualidade nas visitas guiadas ao seu património histórico sem deixar de fazer a ponte com o turismo de negócios (Museu da Chapelaria, etc), numa região muito activa do país, em que a identidade regional pode até vir a reforçar o papel de qualquer marca.
E não só, os museus eram no contexto pré-pandémico, também crescente fonte de receitas, além de pólos de atractividade para possíveis visitantes. Com renovada museologia, ganha a comunidade em geral (quanto vale a educação e a cultura? Conhecer e preservar, para seguir o melhor caminho, o que se possa chamar de evolução. Sem olhar ao território, à História, à identidade cultural, aos desafios actuais, não iremos a lado algum).
Muitos dos mais positivos exemplos, gozam ou poderão herdar ligações a actividades que nos chegam de mais ou menos distante passado (algumas de boa saúde), das salinas, às termas (saúde), indústria corticeira, pesca, agricultura, ou minas…
Alguma da mais recente diversificada oferta, aproveita singularidade há muito existente (o surf em Portugal tem longos anos, o canhão, ainda mais…), mas refém da necessária evolução de mentalidades, como o caso das ondas da Nazaré, mostradas ao mundo por Garrett 'GMAC' McNamar, hoje uma realidade na Big Wave Tour - World Surf League (eventos). Recordo-me das discussões em Peniche, e como o surf passou de “desporto de miúdos” que nunca foi, para lucrativo negócio, e apelativo chamariz, reunindo hoje consensos e orgulho até por parte de muitos que o atacavam, como hoje dirigem esse mesmo desprezo à pesca, na sua tacanhez.
Quando penso no que temos à porta de casa, resultado de milhares de anos, quando não milhões de anos, ainda por valorizar devidamente, fico assombrado!
Foi muito angustiante para mim, a luta que se travou por Foz Côa quando havia evidências exemplos em Lascaux e por esse mundo fora, de como se pode valorizar o património (quando o dinheiro é entrave e meta para muita gente).
Como é possível, no séc. XXI, travarmos ainda duras batalhas como as de Carenque?! O absurdo do miopismo, ou mais provável conflito de interesses, da classe que nos deveria conduzir ao desenvolvimento sustentável, só é combatido pela educação e civismo, de quem vê na cultura, aliado maior. O Professor catedrático jubilado António Marcos Galopim de Carvalho não deixa que a idade lhe turve ampla visão, dá-nos mais uma, valiosa lição: escutem-no!
Penso novamente em Peniche, na dificuldade inicial que teve em aceitar o surf, na selvajaria que se tornou o turismo em Portugal (com todo o tipo de actores em cena, sem a preparação devida para oferecer o melhor contributo não apenas à economia, como também no campo ambiental e social). Penso como a pesca se tornou em muitos casos, no parente pobre, o que é completamente ilógico.
As nossas identitárias devem ser defendidas, das origens rurais, ao povo com longa história marítima.
O mesmo mar pode oferecer múltiplas valências, em que diversas áreas muitas vezes se encontram.
Se quero ter turismo de qualidade, com presente e futuro, é bom ter uma actividade piscatória saudável, pelo peixe que se quer de qualidade, pelo pitoresco, pela cultura, etc, etc e tal…
Vejo uma ânsia em tributar, deitar mão ao suor de quem se faz à vida, mas não vejo reforçada vontade, em implementar políticas, reforçar equipamentos, promover medidas, para o tão ambicionado desenvolvimento local, de forma homogénea (país descoordenado, de guerrilhas, e intrigas, divide para algumas famílias reinarem).
Quem ganha mais com isto?
Há lutas que devem ser de todos, num país que se diz virado para o turismo e para o mar.
Só a falar de mares e rios (incluindo os de dinheiro), poderia ficar dias a fios.
Como é possível os “grandes argonautas” não terem hoje um museu dos descobrimentos, depois de tanta polémica (e de dimensão mundial inquestionável)l?!
Na primeira vez que visitei a Noruega (apesar de ainda jovem), uma das coisas que mais me marcou foi o Vikingskipshuset, em Oslo. Não me imagino numa terra daquelas, sem pensar no mar…bem sei que em Portugal temos o Museu de Marinha, alguns núcleos dedicados ao mar e muito interessantes de N a S, incluindo ilhas, mas falta atribuir outra dimensão à oferta.
Devo recordar a importância do National Maritime Museum (em Londres) ou de tantos outros por esse mundo fora, como pode Portugal deixar de fora, algo dessa dimensão?
Os suecos deram-se ao trabalho de fazer o Vasa Museet, depois de resgar naufrágio.
Temos o Gil Eanes em viana, O Navio-Museu Santo André do excelente Museu Marítimo de Ílhavo, a Dom Fernando II e Glória em Cacilhas (tem o parente pobre ali ao lado, o submarino Barracuda, entregue apenas a mirones) …sinto que falta, e muito.
Volto aos tempos do bacalhau e recordo a lenta agonia do “Argus”, na Gafanha da Nazaré. O potencial enorme da “faina maior”, dos grande armazéns, como das conservas (com alguns núcleos muito interessantes), e do sal. Só por exemplo, na Grande Lisboa temos longo caminho a percorrer (Barreiro, Seixal, Almada, Lisboa)…o mais recente centro interpretativo, o “Bacalhau Story Centre”, contou com o valioso contributo do professor catedrático Álvaro Garrido, empresta renovado brilho à memória, mas não apaga o imenso património ao abandono por valorizar. O bacalhau da nossa mesa (do turismo gastronómico que há muito deveria ter reclamado parceria entre fornecedores/lojas históricas e a mesa posta ao turista, um pouco por toda a Baixa, onde a tradição mais se fez notar), é o mesmo da nossa História.
E será que o turismo religioso, deve passar quase exclusivamente por Fátima? Não haverá outra visão, até mesmo associada à História? Há um tímido despertar para tantas feiras e romarias, além de outras confissões, ou paganismo, que não deveremos deixar apagar….
Portugal não pode continuar a ser um país inculto, corrupto, promotor da incúria, negligente, que entrega todo o seu ouro a poucos, sem olhar amanhãs.
De que vale ter ideias e conhecimento, se o Estado canaliza fundos de forma leviana?
De que vale continuarmos a insistir nos maus algarves deste país? O Algarve, tem outros encantos, é tempo de os saber valorizar.
O caminho do favorecimento não permite explorar todo o potencial nacional. Gostaria de ver muitos mais casos de sucesso, pois significaria, um país de excelência para se viver, seguro, feliz, verdadeiramente livre, menos permeável a crises de todo o tipo.
É um completo absurdo, qual bala de canhão nos próprios pés, obuses apontados à cabeça, se prosseguirmos entre inverdades, ao sabor do marketing, da economia, dos interesses pessoais, assentes em disparates como a especulação imobiliária, negócios duvidosos como do golfe, dos cruzeiros, ou de todo o tipo de turismo de massas, com ou sem tuks e hostels. Não passam de atraso encapotado de “desenvolvimento” (além dos problemas associados, gentrificação, precaridade, criminalidade, desespero e subsequente violência).
Quando penso em turismo, não me quero perder somente nas páginas do Licínio Cunha, há tanto escrito e estudado, tanto por escrever, nas mais variadas áreas, a que o Turismo com T maior, pode e deve aceder.
O meu turismo é feito pelo património material e imaterial, com o claro propósito de valorizar, seja a saúde, o ambiente, a cultura...
Quantos mundos se entrecruzam no turismo?
Quanto valerá o turismo literário?
Quanto valerá o “dark tourism”(não gosto do termo português. Temos a cabeça de um homem num frasco, o coração dum rei numa igreja…e de fantástico, muito mais)?
Quanto valerá o turismo militar (por Elvas, e outras maravilhas que tais)?
Quanto valerá a paisagem na estação, e a paisagem da estação, o ímpeto criador, a inovação, ou a tradição?
Quanto valem os jardins e “palacetes de toda a espécie” espalhados por esse país fora?
Quanto vale um charco, ou uma rocha, o canto, uma lenda, o instrumento, um cemitério, o barco, uma universidade, ou uma peça e o teatro?
Quanto valem as históricas termas, ou as milhares de possíveis aventuras, em quase todo o território?
Quanto vale o negócio em segurança, a formação, e o congresso?
Quanto valem os moinhos-de-maré da minha terra, uma escultura, ou outra obra de arte?
Quanto vale um rio limpo, ou uma raça/variedade preservada, seja por via da pecuária/agricultura, seja no seu estado mais selvagem?
Quanto vale a biodiversidade constantemente atacada a régua e esquadro (a promessa de aeroporto aos franceses é só mais um exemplo)?
A promoção do consumo desenfreado, o turismo de massas, não entende o meio, deixa pesada factura, efeitos nefastos.
É preciso educar, agir em conformidade (estudos e estudiosos, não faltam). O problema é quando se trocam galhardetes sem valorizar mais que indivíduo A e B.
A comunidade tem de conhecer o seu património. A sucata de uns é o veículo clássico para outros.
Quanto ganharemos, se lavarmos a cara?! – Quem parte no final da corrida, pode ter a vantagem de evitar cometer os mesmos erros de quem segue na frente. Não acredito em falta de conhecimento, e negligência não é rara, mas não justifica tudo, nem de perto.
Quanto poderá valer se tivermos secretários, consultores e auditores íntegros, sem favorecerem os mesmos que nos assaltam os recursos em vez de os proteger, muitas vezes espoliando ainda mais o próprio Estado?! É assim no ambiente, nas pescas, no turismo, por aí fora…quem vai mitigar quando, como, onde e porquê? Quem mais ganha com os recursos de todos e de que forma?
A ética deve impor-se a quem planeia e define estratégias em qualquer área (a porosidade política é inadmissível), como tal, deve haver um quadro alargado, consensual no que respeita a conhecimento científico, que não pode estar entregue a economistas e juristas sem que todas as outras partes sejam ouvidas e tidas em consideração.
Só num país de loucos, Troia “vale mais” que toda a Baía de Setúbal e Arrábida…o mesmo país que pondera a expansão de pedreira num parque natural (mais política de pedra e cimento!).
Só num país dominado por interesses amplamente criminosos, contrários ao apregoado nacional, privatizamos recursos como quem compra um gelado ao amigo; criamos dourados condomínios, longe dos amontoados olhares citadinos; damos cabo do presente, e do futuro, e aplaudimos o sucesso individual de quem se diz empresário, quando em larga medida explora e arruína a coisa pública.
O turismo a todos diz respeito, ou deveria dizer, a bem do país, do novo mundo por alcançar.
Enquanto a maioria de nós é amontoada com vista para o rio, da margem que mais sente o coração, sujeitos a assaltos à mão armado e toda a forma de violência, o pior dos assaltos é consumado a cada dia, de fato e gravata, com a conivência dos mais sábios doutores e engenheiros, políticos e gente muito respeitosa (de sucesso). Neste mundo em convulsão, não se olha a meios para maior conforto…individual.
Não se trata de reforçar abraços ao eixo Rússia-China ou pela América do Norte (enquanto como pipocas e assisto ao filme), mas em que mundo queremos nossas casas, se no maior dos confortos, longe da vista dos pobrezinhos, ou onde se possa viver de forma racional, equilibrada, livre, com sentido de estar, hoje e amanhã.
Portugal precisa fazer a transição para o PRESENTE (com todos os desafios que isso implica), cumprir verdadeiramente Abril, sem olhar a um futuro auspicioso anunciado a monóculo, nem passado envolto em brumas.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

FALTA DE EDUCAÇÃO, FRIENDLY FIRE, E FOLGUEDO, de Paulo Landeck

 


O que tem elevados custos para o país (e para o mundo), não são a implementação de aulas à distância, ou a mais urgente necessidade de reformularmos a escola que não pode continuar assente num paradigma há muito esgotado!
O que tem elevados custos para o país, e coloca seguramente nossas vidas em risco, é:
A gestão danosa dos fundos públicos em nome de polida imagem nacional, defendendo interesses alheios ao que se apregoa, de forma intencional (incompetência é outra coisa); as constantes injecções de capital nos bolsos dos amigos do BES, da TAP (impressionante como Frasquilho continua como lapa), das “Tecnoformas” (haverão muitas mais), do “mal menor” do BPN (segundo atestou actual Presidente desta República), das futeboladas e outras palhaçadas em que um ou outro Pennywise exercem poder sobre todos os outros; dos “Bragaparques” e “Expos”… e poderíamos ficar anos a fio, nisto.
Há todo um séquito de usurpadores das melhores linhagens, com um ou outro pato-bravo em vôo rasante, uma mentalidade que deveria estar há muito ultrapassada, como em parte, o português que propositadamente se me assiste.
– A Liberdade constrói-se nas premissas que nos são apresentadas.
O custo da corrupção para o Estado, até só foi estimado em cerca de 18,2 mil milhões de euros por ano, segundo dados de 2018 (vejam por exemplo orçamentos anuais para a Saúde, ou para a Educação.
Imaginem quantos orçamentos para a inconveniente Cultura (no país de Cristinas, bola, e Preço Certo), ou para o Trabalho, Solidariedade e Segurança Social – Ministério que só pode ser do trabalho mesmo, dado que o emprego é só para privilegiados. Mesmo assim, temos um IEFP, por exemplo, verdadeiramente surreal, além das muitas vaquinhas na formação de tudo e mais alguma coisa, completamente desfasadas da realidade, e que pretendem apenas alimentar…os formadores.
O mais ridículo?! - Muitas são entidades que fazem mesmo falta, se trabalharem para a comunidade, contextualizadas, por via da competência, o que é incompatível com quintinhas de amigos e familiares).
Mas imaginem agora, se pensarmos nos danos colaterais que irão seguramente surgir associados a toda essa teia de cumplicidades (ou cadeia alimentar) quando o dinheiro em falta for a necessária diferença (já o é…falta aceitação generalizada), com a maior das cumplicidades (alheia ao eleitor) nos dizem na cara, não haver dinheiro, e sermos os responsáveis por toda a desgraça que aniquila qualquer ideia de desenvolvimento (o que não deixa de ser meia-verdade!).
Temos um ensino público assimétrico, completamente vergonhoso nalguns casos do país (e mais não é, graças sobretudo à entrega dos professores, à insistência reivindicativa, à resiliência face ao vilanesco jogo de desgaste, com intenções claras (actos podem nascer antes de qualquer sílaba).
É demasiado grave abrir mão da democratização conquistada no ensino, se é que tudo não passou apenas de dotar escravos de melhores ferramentas (olhando à selvajaria no emprego) encapotado dessa mesma "dermocratização" (foi só um lift!).
Está em causa a liberdade de pensar para agir.
O aluno deve saber ler o mundo para participar na sua transformação, e esse mundo não se encerra nas 4 paredes da sala, por certo (muito menos nos ecrãs dos dumbphones, em casa)!
Qualquer ser vivo desenvolve muito mais suas capacidades durante o processo de crescimento, de modo criativo, descontraído, de forma lúdica, mas atento às questões/desafios que surjam do inesperado meio em redor, explorando o mundo pelo erro, pela obra inesgotável do que somos.
Não devemos permitir que impeçam nossas crianças de serem crianças, muito menos que roubem a descoberta da vida (a mesma da qual seu futuro depende). Além disso, entre adaptarmos o ensino em espaço físico adequado às necessidades das pessoas e do meio ambiente, e investir no ensino à distância, convém também que se faça um estudo energético, além de outros cálculos que possam estar em causa.
Talvez não seja difícil descobrir um sistema misto, em que muitas das disciplinas possam ter parte do acompanhamento à distância, sem deixar descurar sentido prático in situ, sempre que faça sentido, ou até pelas necessárias saídas em estudo, etc.
O papel do professor pode ser o de orientar, seduzir os alunos para o saber, para agirem na positiva transformação do mundo, compreendendo a herança natural e cultural,e relações de interdependência.
É preciso dotar as escolas para integrado contexto. Não me parece tão complicado, sobretudo num país como Portugal. Se deram importantes passos, noutras regiões bem mais frias, qual a razão para não optimizarmos os espaços de que dispomos (sobretudo em pandemia)? Qual a razão para não explorarmos o espaço público, ou criar sinergias com diferentes entidades a nível local, regional, ou noutro âmbito que possa surgir?
Podem faltar infraestruturas como pavilhões e afins por falha do tão famigerado investimento, mas adequar áreas abertas em tempo de crise, é assim tão complicado, em tempo de guerra?!
O que está em carência, é sobretudo a vontade política para adequar esses mesmos espaços ao séc. XXI – reformas exigem coragem que a conversa para o amanhã não alimenta (sempre as desculpas, estudos e planos.
Devemos ser caso ímpar em toda a Europa, no que respeita à aldrabice em tantos planos e estudos.
As universidades devem descontaminar, por obrigação ética/moral. Como?! Sancionando os corruptos, acusar e comprovar não basta, retirar títulos como quem excomunga, pois todos pagamos).
Mas, voltando à escola...
A quem não interessa que as crianças de amanhã sejam seres com maior ligação ao mundo que os rodeia? – Há escolas próximas de imenso verde, e/ou mar, com vasto património cultural associado, que podem e devem ser lidas, como perfeito quadro integrado na paisagem (mais uma vez, muitos professores, classe à qual tiro o chapéu, sabem disso, fazem por isso, quando não são castrados pelo poder hierárquico ou na falta de outros meios/faculdades.
Prefiro não falar dos desmotivados, cansados, muito menos dos que deveriam abraçar outras profissões…foco-me na maioria dos heróis com os quais me cruzo) …
O espaço em que nos encontramos, tem características distintas…são milhões de anos na transformação da paisagem, milhares de anos de adaptação humana, e produção cultural (as razões que me levam a gostar de Orlando Ribeiro, são as mesmas que me puxam a vasculhar Leite de Vasconcelos, ou tantas outras pessoas que foram e serão úteis).
Não vamos querer viver num mundo desprovido de experiências, além das virtuais. O resultado é capaz de não ser lá muito bom, a não ser para os que procuram refúgio nos seus pequenos paraísos, longe de tudo e de todos, em prístinos destinos.
Qualquer adaptação do ensino, ainda que influenciada por diversas escolas de pensamento, deve ter isso em consideração, para que o caminho seja sustentável, verdadeiramente multidisciplinar, que espelhe os desafios do mundo diverso, que nem só de economia vive o Homem, ou vou já ali relembrar velha História, pela mão de Alberto da Cunha Sampaio, uma vez que desta Ciência Económica (e de génios), ficam demasiados galhardetes, quando continuamos muito mal...
Adiante!
As ameaças que enfrentamos em termos de alterações climáticas, já são demasiado graves. Temos uma má gestão hídrica, afectada pelas referidas alterações que pouco ou nada fazemos por contrariar, dependente de políticas externas mas também internas, sujeita a exploração agrícola intensiva, ao absurdo imobiliário (como nos campos de golf e outros desfasados resorts, propiciadores de mau uso de escasso recurso em benefício do lucro alguns), e ainda conseguimos cravar mais ferro no féretro ao construir mais barragens que alimentam os senhores do betão e da construção civil, mas também, o já de si grave problema da erosão costeira com agravante que se conhece (e lá se lavam mais umas toneladas de areia em camiões, de umas praias para outras).
Vamos lá aos Serviços de Ecossistemas, quem usa o quê, de que forma, em proveito de quem, com que consequências?
A poluição é impactante nas nossas vidas, ao nível da saúde pública (como ignorar?!), da qualidade de vida…não pode continuar refém de inépcia, muito menos da crescente máfia verde que se alimenta sem qualquer controlo, por via de empresas privadas prestadoras de serviços de "sonsultoria" ambiental, ONGS e de outras entidades (mesmo em instituições públicas) à custa de milhões alheios (tudo bons rapazes!).
É avaliar as pontes entre conhecimento académico e desafios concretos no terreno, até para não descredibilizar o próprio conhecimento científico. Lá está Huxley novamente (ou Mary Wollstonecraft Shelley)...nunca subestimem qualquer área do conhecimento, todas fazem falta, pois geram soluções.
De pouco ou nada servem prístinos destinos, nem reservas, quando a maioria não cuida porque não conhece, ou não acredita.
Será que estamos a criar reservas para outros índios?! – Desta feita, sem doenças, nem miséria, só qualidade de vida, ao estilo Mónaco.
E se pensarmos na falta que faz o dinheiro desviado, pois é disso que se trata, é fácil compreender as promovidas divisões entre extremas esquerdas e direitas, enquanto a (In)segurança Social ameaçar colapsar, sem empregos nem saúde pública à vista. A mesma Saúde Pública, que daria seguramente melhor uso a esses dinheiros, para colmatar falhas das quais todos ou quase todos, dependemos (de uma forma ou de outra, até pela violência que se possa vir a gerar, mas que infelizmente só bate à porta dos que a vivem);
Sempre em último, o que deveria vir em primeiro: a Cultura, sem a qual, não teremos verdadeira inovação, nem ambicionado Desenvolvimento Sustentável (com aposta no turismo de massas, nos cruzeiros, e outras coisas que tais…não passa de miragem…). A Cultura, que nos esbofeteia há séculos, pela capacidade crítica, criativa, social...deitada na valeta, mas que ainda assim arrebata prémios, em nome do mesmo Portugal de 70, do século de Quental (se a tirania cai de fortificada cadeira, o filósofo fica-se pelo banco de jardim!).
Quantas lágrimas de Portugal, não valerão sol, qual ouro sem brilho?!
Estou cansado, sem paper que me assista, dirijo-me ao apoio científico, o tal em falta, mas que deve (devidamente salvaguardado) trazer retorno a quem investe, sem esquemas nem boleias, sobretudo, quando esse alguém, é o próprio Estado.
No mundo ao contrário, os desgraçados procuram voz na ilusão da extrema-direita, como quem vai à seita à procura de amparo, e muitos dos “Ches Guevaras” filhos de supostas esquerdas, são dos que melhor vivem (como a outra direita “moderada” que tanto criticam, daí ferocidade de extremo a extremo); não se cansam de mostrar brincos, barbas, tatuagens de moda, e toda a cultura que dizem absorver entre gritos de revolta. Seguem a coca nas vielas do trending, atentos ao design, enquanto fumam a bolota cagada do cu de qualquer indigente dum longínquo bairro social. Pouco ou nada sabem o que é sentir Catarina Eufémia (como há dias notei, nas sábias palavras de amigo meu). Muitos nem o pensam, mas contribuem para os males que tanto apregoam, o que nem é difícil de descobrir, e dispensa tese de doutoramento!
Quanto ao centro, não tenho palavras, sendo tudo menos moderado e justo, dá-me asco, abstenho-me de prosseguir análise por aí, até que honesta depuração seja feita.
Não tenho no entanto dúvidas, que o futuro deveria passar por uma Ágora que pudesse confluir todos os rios, em são debate, por mais que nos custe ouvir.
Para discordar, devo querer e saber ouvir.
Não posso ignorar milhares de seguidores de um partido ou de outro, por mais que me custe.
É preciso procurar entendimentos, depois de auscultadas as razões. Não excluo ninguém ao diálogo. Sei que a razão dum extremo, pode ser a oposta razão de outro, quando não para dividir uma vez mais para que outros possam reinar.
Quem caminha sozinho, sente-se perdido. Quem caminha sempre com a mesma camisola, apenas vê, e verá, o que lhe interessa.
Este é o mesmo mundo em que ficamos bloqueados na faixa de rodagem por alguém que resolve atender chamada e deixar todos os outros em suspenso, não cuidando de nada nem de ninguém, nem tampouco de si…quando todo o pequeno gesto conta, num navio prestes a fundar em capitaneada “má sorte”.
Na impossibilidade de resgatar ética ao Estado, e se é da natureza humana, ter a criminalidade de mãos dadas com quem nos governa, então temos de convencer os mafiosos que há necessária mudança a ser feita, a bem de todos...antes que seja tarde.
Com a Natureza não se brinca, do Afeganistão ao Sudão, até os terroristas já entraram em conversações, seja pelas cheias, ou pela pior das secas!
De que estamos à espera, que maiores males nos batam à porta, mesmo quando já corremos atrás do prejuízo sem contar toda a verdade à audiência?
A oportunidade, foi-nos oferecida. Voltaire sabia quanto pode um terramoto.
Dedico este texto, ao meu Pai Agostinho da Silva, sempre comprometido com a vida; meu irmão Morin (aleluia, irmão!); a cândido Voltaire; e ao beatificado seja, Paulo Freire.
Perdoem-me todos os outros que não posso mencionar, por se encontrarem em layoff neste paupérrimo texto que vos deixo (grato pelo livro, Aleixo!). Além disso, procuro escapar ao pagamento dos louros em questão. Fico pior na fotografia, mas sai mais barato.