domingo, 11 de novembro de 2018

REFLEXÕES OCASIONAIS – Especial |Qual é o estilo de liderança mais eficaz: Autocrático, democrático, liberal ou visionário?” | ISABEL DE ALMEIDA e CARMEN MATOS


Na política, no âmbito da estratégia militar, no mundo empresarial e até em termos espirituais ou mesmo religiosos, historicamente, vem sendo transversal a actuação de diversos tipos de líderes, com estilos diversos de actuação dentro dos respectivos contextos em que se movem, e com resultados mais ou menos eficientes e mais ou menos bem conseguidos, fruto da sua influência sobre as populações-alvo, chamemos-lhe assim por uma questão de simplificação conceptual e terminológica, cujos destinos cabe orientar e reger, com vista a alcançar um determinado resultado muito preciso.

 A História contemporânea (tendo presente exemplos mais recentes em termos temporais) traz-nos, de imediato à mente, num simples exercício de reflexão, diversos líderes mais ou menos bem-sucedidos e que deixaram o seu cunho pessoal nos meios onde se moveram, de modo positivo ou deveras negativo. Em termos lógicos, racionais e de bom senso, é consensual que Winston Churchill foi um bom líder em termos de condução dos destinos da Inglaterra (e da Europa e do mundo, em última análise, atenta a repercussão de um conflito bélico mundial em várias regiões do mundo), assim como é também consensual (sempre no plano da racionalidade e da lógica, até em termos humanitários) que Hitler foi um líder autocrático, megalómano e irracional, cujos resultados finais da liderança política dos destinos da Alemanha foram dos mais catastróficos e dolorosos para a humanidade.

Lamentavelmente, nos tempos actuais assistimos, num crescendo, ao ressurgir de estilos de liderança que colidem, ou no mínimo, ferem o sentido democrático (na sua génese ao nível meramente teórico, porquanto sabe-se que, na prática, o conceito de democracia sempre esteve eivado de fragilidades desde o início) que seria suposto existir em sociedades e países ditos evoluídos, existindo como que uma obrigação moral de carácter universal (tantas vezes e diariamente violada) de respeitar os mais basilares e essenciais direitos humanos, desde logo, à luz de textos jurídicos de Direito Internacional de que é exemplo a Convenção Europeia dos Direitos do Homem. 

Todavia, ostensivamente, a democracia, que nasceu imperfeita na Grécia Clássica, continua imperfeita mesmo perante os vários séculos de história que separam o seu surgimento da sua vivência nos dias de hoje, e este circunstancialismo é ponto assente!

Sendo certo que na sociedade existem estruturas de consolidação, evolução e funcionamento, é também evidente a necessidade e existência de liderança, nos diferentes planos de actuação e consequentemente é natural, necessário e expectável o aparecimento de líderes.

A liderança é, tão somente, a arte de comandar pessoas, potenciando seguidores e influenciando de forma positiva quer mentalidades, quer comportamentos, podendo ser informal, porquanto surge de forma natural, ou formal, porque determinado líder foi eleito numa estrutura ou organização e passa, assim, a assumir um cargo ou autoridade específica.

A pessoa que se destaca em determinado contexto e que consegue aglutinar um grupo e unir esses mesmos elementos, torna-se um líder, sendo tal qualificação potenciada pela existência de carisma, paciência, respeito, disciplina e capacidade de influenciar os subordinados, estando estas características subjacentes ao perfil de líder, idealmente considerado em termos teóricos.

Efectivamente, a liderança encontra-se em todos os momentos e situações, tanto de âmbito pessoal (grupos de amigos, família, escola) como em âmbito organizacional (trabalho).

Destarte, a panóplia de tipos de liderança é diversa e entre estes tipos poderemos encontrar a autocrática (identificada stritu sensu pelo autoritarismo, pela falta de escuta activa e desmotivação), democrática (liderança participativa com debate pré-decisões) e liberal (as decisões são delegadas e a participação do líder é limitada, existindo mesmo o risco da parte deste, de um quase total alheamento quanto do desempenho daquelas que seriam as suas funções, o que pode redundar numa situação verdadeiramente anárquica, correspondente à ausência de liderança).

Não obstante a existência de diferentes tipos de liderança, depara-mo-nos também com tipos diferentes de líderes, como sendo: o autoritário (cuja opinião prevalece sobre tudo e todos, sendo pois, dominador e como tal assemelhando-se mais a um chefe que líder); visionário (possui senso de oportunidade e optimismo no exercício das funções que lhe estão confiadas, sendo empreendedor e com predisposição para correr riscos); liberal (deixa os colaboradores exercerem as funções e tomarem as próprias decisões); democrático (encoraja à participação de todos, preocupando-se com o trabalho e com o grupo como um todo); motivador (capaz de unir pessoas, propósitos e objectivos com o seu exemplo); líder coach (estimula novas habilidades e potencia as melhores aptidões e competências de cada colaborador); técnica (é respeitado por ser aquele que detém o maior conhecimento, capacidade e aptidão sobre determinado assunto).

Outrossim, é de salientar que existem princípios-chave que podem indiciar a existência de líderes de excepção, cite-se, a título de exemplo, alguns destes princípios de actuação: capacidade de saber criticar construtivamente, de reconhecer os seus próprios erros perante a equipa, sugerir ao invés de ordenar, elogiar os pontos fortes, esperar e fomentar a excelência, tornar os desafios mais fáceis, fomentar a satisfação dos seus colaboradores na realização do seu trabalho, e envolver os colaboradores numa verdadeira missão comum em prol de um objectivo que é também bem visto e desejado por toda a equipa.

Não menos importante é assinalar que, pese embora existam líderes natos, que apresentam diversas qualidades inerentes à sua personalidade, tais como: extroversão, empatia e um alto grau de inteligência social, assertividade, espírito de equipa, inteligência emocional, capacidade de pensar “fora da caixa” e de estimular estas mesmas características na respectiva equipa, também não é menos verdade que este tipo de capacidades podem ser potenciadas e exercitadas com o apoio de especialistas em diversas áreas de conhecimento (é hoje comum e de reconhecido mérito e elevada valia o recurso crescente a acções de formação e prática de coaching em diversos âmbitos, e tal aplica-se tanto em contextos organizacionais, quanto ao nível de programas de desenvolvimento pessoal que procuram dotar os indivíduos de uma necessária polivalência tendo por base um inicial auto-conhecimento).

De lamentar, contudo, que nos tempos que correm os exemplos de liderança autocrática proliferam e começam a dominar cargos de elevada importância social, económica e política, sendo de destacar que, apesar de o mundo se encontrar em “suposta” evolução, se assiste a uma involução a este nível que poderá vir a ter gravosas repercussões em diversos planos.

São diversos os exemplos de líderes que representam países com elevado peso mundial e que se pautam por uma gritante falta de democracia, impondo ideias, valores e regras altamente atentatórias dos direitos dos cidadãos, e chegando mesmo a banalizar esta postura, que começa a ser vista como normativa por muitos cidadãos, iludidos pelo populismo fácil.

Numa época em que o descrédito se generalizou, por exemplo, no poder político, a nível mundial, aumenta o aparecimento de líderes autocráticos, pois as suas opiniões prevalecem em todas as situações, tomando só para si as decisões e não promovendo a participação de outros.

Constatamos esta realidade relativamente a situações mais triviais, quanto no que diz respeito  às questões mais complexas, desde o funcionário mais relapso da hierarquia ao mais elevado, pois, na realidade, este tipo de liderança deriva de forma muito instintiva da natureza da pessoa.

Passar de uma posição do “quero, posso e mando” a uma situação de auscultação de terceiros para decisões ponderadas e aglomeradoras é um exercício que exige empenho, vontade, tempo, inteligência emocional e social e uma mentalidade flexível, não egocêntrica nem pautada por traços narcísicos. 

Quando as evidências apontam no sentido de uma crescente onda de desequilíbrio em termos de saúde mental, torna-se, por vezes, algo assustador pensar na séria probabilidade de a ratio de líderes passíveis de alcançar resultados positivos ser inferior às reais necessidades da sociedade hodierna, o que coloca em perigo, em última análise, a própria evolução futura da humanidade, numa visão que assumimos como catastrofista, mas que não deixa de ter por base diversos exemplos bastante realistas a que diariamente assistimos no mundo!

“As qualidades desaparecem sob as críticas, mas florescem sob encorajamento”

Dale Carnegie


“Um líder é alguém que sabe o que quer alcançar e consegue comunicá-lo”

Margaret Tatcher

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