quinta-feira, 23 de outubro de 2025
UM PUNHADO DE FLECHAS, de MARÍA GAINZA | DOM QUIXOTE
Na senda do poderoso e aplaudido O Nervo Ótico, que fez leitores em todo o mundo, este é um livro de uma inteligência rara em que se entrecruzam a arte, a literatura e a vida.O realizador Francis Ford Coppola viveu algum tempo em Buenos Aires, enquanto rodava o filme Tetro. E recrutou para o tempo da estadia um tradutor que - ele há coisas - era o marido da autora deste livro. Raramente falava com ela, mas, certa noite, durante um jantar em que ficaram os dois sozinhos à mesa, disse-lhe: «O artista vem ao mundo trazendo uma aljava com um número limitado de flechas douradas. Pode atirar todas as flechas ainda em jovem, já adulto ou mesmo na velhice. Também as pode ir atirando pouco a pouco, espaçadas ao longo dos anos. Isso seria ótimo, mas já sabes que o ótimo é inimigo do bom.»
Além de Coppola, apresenta vários outros artistas e obras de arte através de episódios da vida da escritora. Entre outros, uma aguarela de Cézanne roubada de um museu de Buenos Aires; a casa de um colecionador; um passeio ao redor do Lago Walden, de Thoreau; as pinturas enigmáticas de Bodhi Wind de piscinas californianas, que apareceram no não menos enigmático filme Três Mulheres, de Robert Altman; algumas fotografias resgatadas de uma mala; as aventuras do pintor Francis Hopkinson e do seu assistente Moon, no México, e uma pintura amaldiçoada de Ticiano escondida em Tzintzuntzan…
Num estilo que rompe as fronteiras entre os géneros literários como acontecia com O Nervo Ótico, numa mescla de narrativa, ensaio e livro de arte, María Gainza continua a explorar novas formas de compreender a escrita e a vida e consolida a sua posição como uma das vozes mais estimulantes do cenário literário contemporâneo.
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