sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Os desejos do escritor Paulo Landeck para 2021


MK - O que ficou por fazer em 2020?

PL - Se excluirmos algumas abastadas minorias, penso ser de sentimento generalizado, que faltou viver quase todo o ano que agora finda (e não deixará saudades), em pleno. Mais uma vez, ficou adiado o casamento dos possíveis com impossíveis, em nome de verdadeira evolução…algumas promessas deram a cara, numa maquilhada imagem tão justa, quanto virtual.

No campo pessoal, faltou-me amparo do Estado. Como milhões que não choraram por outros milhões na tv, passo descalço pelas brasas.

Entrei neste filme em Março, em fase de contenda judicial (dura há pelo menos 2 anos), debilitado, completamente desprotegido, esgotadas todas as poupanças. Hesitei face a nova proposta de trabalho, ganhou o desconforto e resoluções pendentes. Confirmei cenário impensável, e deixei quase tudo o que tinha em mente para este ano, por fazer. Sobrevivo de cabeça quase erguida, pois sinto peso ao mundo, que me procura vergar. A viagem está por cumprir, navego.

É impressionante como a desresponsabilização de algumas pessoas jurídicas, associada à conivência ou disfuncionalidade do próprio sistema, oferecem efeitos devastadores na vida de cidadãos apanhados descalços, ou descalçados à força do penoso percurso.

Mesmo apesar de reconhecida validade de contrato pelo representante da seguradora Mútua dos Pescadores, no Juízo do Trabalho do Barreiro, não vi evolução “atempada” alguma, fiquei sem ter como investir na Justiça à portuguesa. Além da demora, com tudo o que isso implica, informaram-me que não deveria ter mais acesso a apoio judicial do Estado, uma vez que ganhava o suficiente para pagar do meu bolso; ora, um dos problemas (e depois de 16 anos ao mar), é que os factos de que me queixo, ocorreram precisamente nos primeiros dias de serviço prestado. Logo, como ganhava ao dia, o que recebi foi irrisório, além de não me ter sido paga a total quantia a que teria direito, segundo o que seria de esperar (e à semelhança de anos anteriores a prestar serviços à mesma empresa, a recibos verdes). – O que me conduziu a outro problema (recusei-me a passar recibo correspondente ao valor transferido e recebi mais um mimo das finanças).

 Foi mais um ano sem resolver uma situação extremamente ingrata, injusta, que se arrasta há demasiado tempo, castradora só por si, do que quer que fosse que tivesse para fazer em 2020.

Mas, tive o prazer de testemunhar como o representante da seguradora convidou tão alegremente o juiz para almoçar, num belo restaurante (peixe do melhor, garantia). Episódio a que sóbrio sobrolho levantado respondeu com desdém: “eu sou de comer pouco, e não é a estas horas. Trago o meu lanche no saco”.

Como se já não bastasse o condicionado acesso à Justiça em Portugal, o longo caminho por cumprir, é seguimento do quase tudo que faltou resolver, num país livre por cumprir. Irónico ver a vida em águas de bacalhau, quando de lá veio o dispensável problema. Aliás, o trato do responsável da empresa para quem prestei vários anos de serviço sem ter registado problema algum, foi qualquer coisa de ignóbil, dadas as pressões que até entendo, e outras que quem de direito saberá interpretar (a minha vida desprezada literalmente, nas suas mãos. Há prémios dos seguros, e assegurados prémios).

Faltou acima de tudo refazer-me da tempestade perfeita.

Maior negrume teria a retratar, dada a gravidade dos factos, ainda que possam parecer omissos em sede própria.

A minha esperança é poder transformar verdadeiro 31, em novo capítulo.

 

MK - Projectos para o novo ano.

PL - Vejo o próximo ano de forma muito cautelosa. Estou apreensivo, mas pronto para o combate. Reina o sentimento de revolta e instinto de sobrevivência, face à mais execrável crise de que tenho memória.

Tal como nos anos 30, Portugal não deixa de ser uma terra de muitos chapéus, e como diria Vasco Santana, “vamos embora, vamos ver a lontra!” – Temos de cuidar do nosso, para que os elefantes não o comam, e/ou estarmos atentos a novas oportunidades, quem sabe se até criá-las. Desde que contorne imagem de abominável figura, de insigne chapéu.

MK - Três desejos para 2021.

PL – Salto os votos de saúde para todos, pois deveria ser o primeiro desejo, mas as encomendas já foram feitas, e pagas.

Sonho ver resgatada humanidade, assente em pilares de ética e verdadeiro altruísmo.

Espero muito melhor índice de felicidade, pois é a medição que mais nos deve importar, enquanto sociedade que se quer livre - como aliás, não deixará nunca de ser desígnio.

 

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