domingo, 19 de abril de 2020

ESTE PLANETA NÃO É PARA VELHOS, de Maria Cecília Garcia















Nunca o tema da velhice  esteve tão actual como nos dias de hoje. Vivemos num paradoxo realmente paradoxal. Por um lado, a ciência esforça-se para aumentar a esperança de vida, por outro inventam-se toda a espécie de justificações para dar termo à vida dos mais idosos.
 E o paradoxo continua. Considera-se que um país é desenvolvido - esse é um dos parâmetros das estatísticas – o aumento da esperança de vida mas, imediatamente, tentamos livrar-nos deles, dos velhos.
Porém, os jovens esquecem que a vida é um sopro e, quando derem por isso, já estão nesta categoria.Este assunto dava muito pano para mangas (ou, nos dias de hoje, para máscaras, pois até o malvado vírus prefere os mais idosos), e para muita discussão.
 Aprova-se  a eutanásia. É por compaixão, dizem, para que as pessoas tenham direito a uma morte digna, para livrá-los do sofrimento.No que se refere à eutanásia, cada vez se quer ir mais longe, há quem pense que esta deveria ser aplicada a todos os que a desejassem, jovens ou velhos, sobretudo se estes forem considerados uma carga social.
 Porque a verdade é essa: trata-se de uma questão social, trata-se de dinheiro. Para que gastar tempo e dinheiro com uns seres inúteis, carregados de doenças e, na maioria dos casos, avariados da cabeça?
 Ninguém tem pena do sofrimento dos velhinhos, apenas se preocupam com o peso que estes possam causar ao Estado e até às famílias. Os velhos não produzem, são uma carga para a sociedade. A maior parte de países  ditos civilizados, esperam aprovar esta lei.
Não me vou estender neste tema, mas não me parece que ninguém tenha direito a matar, seja em que circunstância for. Mas esta é a minha opinião e não é por ignorância que falo.
 Penso que, talvez porque já esteja inserida no grupo dos velhos, mesmo que se diga que a escolha é do próprio, no fim, não será assim.
Deixem-me dizer-vos que os velhos sabem que vão morrer. Todos vamos morrer. Os mais velhos agradecem mais um ano vivido e , ao mesmo tempo entristecem, pois sabem que é m um ano menos para viver. E agarram-se à vida, aproveitam-na até ao último suspiro., sabendo que ela vai acabar, naturalmente.
Ainda existem países, menos desenvolvidos, claro está, na Ásia e na América do Sul, onde os velhos são vistos como depósito de sabedoria, onde o desrespeito por um ancião é muito mal visto, onde se valoriza a experiência, onde lhes é reconhecido o trabalho de toda uma vida. Digo "ainda" pois esta forma de pensamento tem tendência a desaparecer.
 O mundo actual parece não ser compatível com o mundo humano. Não num mundo onde a Economia é o mais importante. Curiosamente, as Ciências económicas tinham como princípio estudar uma forma de repartição justa, onde todos pudessem receber o necessário para a sua sobrevivência. Mas, em lugar de distribuir com equidade, o problema de escassez resolve-se de outra maneira: condenando à morte metade da humanidade para que a outra metade possa consumir em excesso.
O que me aflige mesmo, ainda que entenda todos estes pontos de vista, mesmo não concordando e sabendo que somos mais de oito mil milhões de seres neste planeta, o que me preocupa é: onde está a humanidade, onde está o amor? Onde está a compaixão pélo outro, a começar no seio familiar?
Onde está o amor e gratidão aos progenitores, aos que deram a vida, e ainda mais se fosse possível, para proteger os seus filhos, para que nada lhes faltasse. Os que educaram e transmitiram o seu amor e os seus princípios, pensando apenas no  bem dos filhos.
Aqueles que podiam dar um castigo, mas logo davam um beijo ou um abraço. Os que perdoavam tudo. Os que vigiavam o sono e se aproximavam para ouvir a sua respiração e, só então,  iam deitar-se  para  dormir um sono leve e atento.
Os pais que tremiam quando os seus meninos tinham febre, dores de garganta ou um pesadelo. Aqueles que tudo faziam, sem pensar em si próprios, para que estes pudessem ter uma vida melhor do que a que eles tiveram . Os que rejubilavam com cada triunfo, mesmo que ninguém lhes agradecesse e, desde um canto discreto, derramavam lágrimas de felicidade.
Estes velhos não precisam de compaixão pélo seu sofrimento. Eles precisam sentir o amor no coração dos filhos, ao menos dos filhos, não o desejo de os ver partir porque já passaram o prazo de validade. Darão um bocadinho de trabalho, sim.E nós em crianças, não demos tantas preocupações?

Eles sabem que vão partir, eles só precisam saber que são amados para acalmar as suas dores e  ter a certeza de  que a sua vida fez sentido.


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