Quando comecei Um
Espelho Sombrio dos Grimm, pensei que iria apenas revisitar o conto
tradicional de João e o Pé de Feijão, com algumas diferenças curiosas. Mas
rapidamente percebi que Adam Gidwitz não está interessado em repetições suaves
— ele sacode-nos logo nas primeiras páginas, com um narrador que fala diretamente
connosco, que avisa, provoca e até se ri da nossa expectativa de um “felizes
para sempre”.
O que mais me surpreendeu
foi a forma como João e Jill se transformam em companheiros de viagem. Não são
heróis perfeitos, muito menos símbolos de virtude: são crianças cheias de
falhas, mas também de coragem. E talvez por isso me senti tão próximo deles —
porque crescem a tropeçar, a errar e a enfrentar medos que, por vezes, se
parecem demasiado com os nossos.
A cada novo episódio,
entre gigantes ameaçadores, vestidos invisíveis e criaturas bizarras, senti-me
a subir mais alto nesse “pé de feijão” que afinal não conduz só a mundos de
fantasia, mas também a reflexões muito reais: sobre confiança, amizade, escolhas
difíceis e o peso de enfrentar as consequências.
O que mais gostei foi do
equilíbrio entre o macabro e o humor. Há momentos sombrios, sim, até
perturbadores, mas sempre intercalados com comentários inesperados que arrancam
um sorriso e nos lembram que a vida — tal como os contos — é feita de
contrastes.
No final, fiquei com a
sensação de que este livro não é apenas uma reescrita de um clássico: é uma
experiência de leitura que nos desafia a olhar para os contos de fadas de outra
maneira. Não como histórias cor-de-rosa, mas como espelhos (alguns deles sombrios)
daquilo que é crescer e aprender a lidar com as nossas próprias sombras.
Texto: Madalena Condado
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