Mostrar mensagens com a etiqueta Um espelho sombrio dos Grimm: a verdadeira história de João e o Pé de Feijão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Um espelho sombrio dos Grimm: a verdadeira história de João e o Pé de Feijão. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 16 de setembro de 2025

RESENHA | UM ESPELHO SOMBRIO DOS GRIMM: A VERDADEIRA HISTÓRIA DE JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO", de ADAM GIDWITZ | PLANETA

 

Quando comecei Um Espelho Sombrio dos Grimm, pensei que iria apenas revisitar o conto tradicional de João e o Pé de Feijão, com algumas diferenças curiosas. Mas rapidamente percebi que Adam Gidwitz não está interessado em repetições suaves — ele sacode-nos logo nas primeiras páginas, com um narrador que fala diretamente connosco, que avisa, provoca e até se ri da nossa expectativa de um “felizes para sempre”.

O que mais me surpreendeu foi a forma como João e Jill se transformam em companheiros de viagem. Não são heróis perfeitos, muito menos símbolos de virtude: são crianças cheias de falhas, mas também de coragem. E talvez por isso me senti tão próximo deles — porque crescem a tropeçar, a errar e a enfrentar medos que, por vezes, se parecem demasiado com os nossos.

A cada novo episódio, entre gigantes ameaçadores, vestidos invisíveis e criaturas bizarras, senti-me a subir mais alto nesse “pé de feijão” que afinal não conduz só a mundos de fantasia, mas também a reflexões muito reais: sobre confiança, amizade, escolhas difíceis e o peso de enfrentar as consequências.

O que mais gostei foi do equilíbrio entre o macabro e o humor. Há momentos sombrios, sim, até perturbadores, mas sempre intercalados com comentários inesperados que arrancam um sorriso e nos lembram que a vida — tal como os contos — é feita de contrastes.

No final, fiquei com a sensação de que este livro não é apenas uma reescrita de um clássico: é uma experiência de leitura que nos desafia a olhar para os contos de fadas de outra maneira. Não como histórias cor-de-rosa, mas como espelhos (alguns deles sombrios) daquilo que é crescer e aprender a lidar com as nossas próprias sombras.

Texto: Madalena Condado