quinta-feira, 19 de março de 2020

MARIA (continuação), de Mafalda Pascoal

 



A senhora que estava a pôr a mesa, com a cabeça, aponta para Maria, a senhora V fez uma cara diferente e com uma voz totalmente diferente, chega-se ao pé de Maria e diz:
-Meu docinho, anda para a mesa que tens que comer muito para ficares mais bonita para o teu pai que chega hoje!
 Maria pergunta logo de seguida:
- Não posso ir já ter com ele?
- Não querida, só depois de comeres!
Maria foi a correr para a mesa, comeu, comeu e comeu até não caber nem ter fôlefo para mais. Com a boca cheia e quase sem fôlego perguntou-lhe se já podia ir e ela respondeu:
- Sim, mas espera, que eu vou contigo até à entrada da floresta!
Assim foi. Chegaram à entrada da floresta, Maria entrou sempre a correr, sem ter medo de nada , sem olhar para trás, sempre a correr...
Os dias foram passando, pouco diferentes uns dos outros.
Maria começava a habituar-se àquele sítio. Por enquanto não havia muito frio, aquela árvore continuava a dar-lhe frutos e Maria começou a aventurar-se a fazer umas caminhadas, mas sempre decorando o caminho para poder regressar à árvore-mãe como ela passou a chamar-lhe. Começou a provar bagas diferentes para saber quais gostava mais e que poderia comer.
A cada dia que passava fazia uma caminhada maior.
Numa dessas caminhadas, começou ouvir um barulho estranho, olhou para trás, nada...olhou para o céu, nada... então atreveu-se a ir mais à frente ao encontro daquele barulho cada vez mais intenso.
Ficou maravilhada com o que se deparou à sua frente... parecia as páginas do livro de histórias que seu pai lhe lia todos os dias, quando estava com ela, antes de dormir...
Tudo era tão lindo... tudo era céu aberto e muitos fios de água a correr até lá abaixo, tudo era muito verde, havia muitas flores e árvores com frutos... mas Maria tinha que procurar um caminho para lá chegar e o sol estava a esconder-se e depressa ficaria escuro, por isso seria melhor regressar à árvore-mãe.
Voltou a correr e depressa chegou ao seu ninho debaixo da árvore-mãe. Quando Maria chegou ao seu  ninho, este estava coberto por coelhos que, ao senti-la, todos fugiram, Maria ficou cheia de pena por eles terem fugido, sempre eram uma companhia, pois ela adorava todos os animais, desde que não fossem maiores do que ela
Aninhou-se e, antes de adormecer, pensou que de manhã quando acordasse, comeria os seus frutos e iria até àquele sítio lindo, para procurar um caminho para ir até lá abaixo.Com tanta água deveria poder banhar-se, coisa que já não fazia desde que ali chegara.
O seu querido pai como estaria, tantas saudades do seu pai, tantas tantas que quase arrebentavam o seu peito, na sua tenra idade, fez beicinho e soluçou baixinho...
Quando acordou, espreguiçou-se, esfregou os olhos e reparou que os coelhos estavam por ali novamente em volta dela e desta vez não fugiram, andavam por ali, cheiravam-na, punham-se em pé... Maria começou a dar-lhes frutos na palma da sua mão a fazer-lhes festas e eles ficaram por ali já sem medo dela... Maria respirou fundo e sentiu-se reconfortada... entreteu-se com os coelhos, havia coelhos brancos, pretos, malhados, castanhos... havia tantos de tantas cores... depois começaram a aparecer coelhos pequeninos, tão pequeninos atrás das mães e a virem para o pé da Maria, o tempo foi passando e Maria ficou ali entretida com os coelhos esquecendo do propósito desse dia, mas iria no outro dia, com tantos amiguinhos novos que fez, não teve coragem para ir embora e deixá-los, quem sabe não lhe fariam companhia até àquele sítio lindo. A noite veio e ali ficaram todos aninhados uns nos outros à volta de Maria.
A noite passou sem sobressaltos para Maria, foi até a melhor noite que teve desde que está na floresta.
Maria acordou, ficou feliz ao verificar que os seus amiguinhos coelhos pululavam em seu redor. Sentou-se a observá-los... eram todos tão lindos... Maria sentiu o seu coraçãozinho tão cheio de satisfação, de felicidade...

(Continua)

A autora escreve segundo a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.


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