sábado, 14 de março de 2020

O MUNDO EM “STAND-BY”, de Fernando Teixeira















Vivemos tempos conturbados e de incerteza desde que o mundo acordou, no final de 2019, para uma ameaça nova, contundente, letal… Já se experimentaram várias dessas ameaças num passado recente, relacionadas com doenças epidémicas, algumas delas ocorrendo em regiões geográficas distantes, mas esta, mais recente, a do novo coronavírus designado Covid-19, foi declarada “pandemia” pela Organização Mundial da Saúde, por se constatar que este problema afecta quase todo o planeta.

Este mundo tornado “aldeia global” e a facilidade com que milhares e milhares de pessoas viajam diariamente para outras paragens, seja por motivos profissionais ou de lazer, fazem com que a propagação de doenças altamente contagiosas se processe de forma célere e assertiva. Por esse motivo, também Portugal se vê sob esta ameaça, ainda que, no dia em que esta crónica é escrita, de modo ainda não tão grave como acontece noutros países.

Os governos e as autoridades de saúde das nações afectadas têm vindo a implementar medidas de contenção e de combate a este novo coronavírus, tentando limitar o número de pessoas contaminadas e o número de vítimas mortais. Tais medidas, pela sua amplitude e pela forma como condicionam o modo de vida dos cidadãos e o funcionamento das empresas, obrigam a um compromisso individual de responsabilização e de civismo por parte de cada um de nós, e a uma alteração temporária do nosso modo de vida. A livre circulação de pessoas encontra-se condicionada, escolas são encerradas, a indústria é afectada, empresas poderão soçobrar, anuncia-se uma nova crise económica, talvez sem precedentes…

O progresso está em modo “pausa”, o mundo em “stand-by”.

Uma situação como a que se vive nos dias de hoje obriga-nos a repensar a fragilidade do ser humano, que nos torna um alvo destes microorganismos patogénicos, aos quais sucumbimos facilmente, sem apelo nem agravo. Este vírus maldito já roubou milhares de vidas e infelizmente continuará a fazer vítimas, cegamente, sem olhar a quem, até que seja finalmente debelado. O Covid-19 não distingue classes sociais nem diferencia as vítimas pelo seu estatuto, conhecimento ou poder. Ao invés, tem-nos reduzido a todos, ricos e pobres, poderosos ou fracos, à mesma condição de humanos frágeis perante este ataque silencioso e implacável, mostrando o ridículo das nossas guerras, politiquices e manigâncias pela conquista desenfreada de poder, influência, riqueza, estatuto e supremacia de toda a espécie sobre os demais. Tudo isso se torna insignificante e se esfuma perante este inimigo invisível. Esta é uma conclusão inevitável!

Cabe aqui uma homenagem a Li Wenliang, o médico oftalmologista chinês que primeiro alertou para a existência deste novo coronavírus, tendo até sido acusado pelas autoridades policiais de lançar um boato, e que, vítima igualmente de contágio, veio a sucumbir durante a sua luta contra a epidemia. Também Zhong Jinxing, director de uma clínica na cidade chinesa de Lingfeng, merece uma palavra de louvor pelo altruísmo de se ter voluntariado e disposto a trabalhar mais de um mês seguido, 33 dias sem descanso, o que lhe provocou um ataque cardíaco e a morte, deixando mulher e uma filha de seis anos.

Uma última palavra para todos aqueles que lutam na linha da frente contra as consequências deste coronavírus, procurando salvar vidas: os médicos, enfermeiros e pessoal hospitalar que directamente intervém junto dos doentes contagiados, expondo-se também eles à possibilidade forte de contágio, exigindo-lhes máximo esforço e cuidado na sua protecção. Pela sua competência, abnegação, generosidade e dedicação, pela exaustão a que estão sujeitos, ultrapassando inúmeras dificuldades e insuficiência de meios, merecem um inequívoco reconhecimento do seu valor e um profundo agradecimento de cada um de nós.

(O autor escreve segundo a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.)




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