terça-feira, 12 de março de 2024

DIVULGAÇÃO | LONGOS VERSOS LONGOS, de JOÃO DE MELO | DOM QUIXOTE

 


A revelação da arte poética de um grande romancista.

Longos Versos Longos assinala o regresso de João de Melo à poesia, quatro décadas após a publicação do seu primeiro e, até agora, único livro de poemas: Navegação da Terra (1980).

Nele encontramos textos de exaltação do tempo e da vida, derivas sobre a angústia e a metafísica, mas também a revisitação apaixonada das tão amadas ilhas dos Açores.

Trata-se de uma poética meditada sobre a escrita e a literatura, a efemeridade do ser, a espiritualidade da fé e a perda de Deus. No final desta cadeia temática, o livro propõe-nos alguns poemas trágicos sobre o nosso quotidiano coletivo, um deles em prosa, «Poema às portas de Bagdade», que nos fala dos horrores permanentes (ou repetidos) das guerras do mundo.

 

Os profetas do mar anunciam-na a partir da sombra.
Não pela sua luz. Surge decalcada na bruma, oásis
de um outro lugar deserto sobre o mar. Como se
de água fosse, e não de areia, a sua alfombra.

Ilha. Mais coisa menos coisa, todos nela vivemos
à sorte. Divididos entre o proibido e o obrigatório.
Sonhamos horizontes. Noutros ventos os lemos.
E em sonhos moramos como almas no Purgatório.

Está aí não tarda o dia ou a noite da minha morte.
Dividirão ao meio as cinzas do corpo: metade delas
voltará ao pó da terra de que nasci; a outra metade

que a lance a mão de alguém mais ou menos à sorte.
Pode ser que o vento e o mar tenham olhos de vê-las,
livres e belas, e assim as separem da mortalidade.



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