domingo, 12 de dezembro de 2021

CRÍTICA LITERÁRIA | Lady Almina e a verdadeira Downton Abbey, Condessa de Carnavon | Editorial Presença


 Texto: Isabel de Almeida | Jornalista | Crítica Literária

Foto: D.R.


Agora que se aproxima  quadra festiva e que surge mais tempo para o lazer, deixamos uma sugestão de leitura que, não sendo uma novidade, acreditamos será do agrado dos adeptos de romances históricos e de séries de época como Downton Abbey que em breve trará novo filme aos ecrans mundiais.

   Lady Almina e a verdadeira Downton Abbey [O legado Perdido do Castelo de Highclere] traça-nos o fascinante retrato de uma mulher notável, bastante dinâmica e empreendedora, que deixou, sem dúvida, uma marca relevante na História de Inglaterra, entre finais do Século XIX e início do Século XX.

   Sustentada em abundante pesquisa documental, Lady Fiona, a actual e 8ª Condessa de Carnarvon, dá-nos a conhecer Lady Almina - a 5ª Condessa de Carnarvon, pós haver contraído matrimónio com Lorde Carnarvon (que viria a herdar o título de 5º Conde de Carnarvon), em 26 de Junho de 1925.

   Filha ilegítima do financeiro Albert de Rothschild, o qual sempre a apoiou em termos afectivos e materiais, Almina, contra todas as expectativas (dado ser filha ilegítima), veio a tornar-se numa figura relevante da Alta Sociedade Britânica sua contemporânea. Assumidamente amante da moda e de festas faustosas, ficou também conhecida pela sua generosidade para com os que de si estavam próximos, e até perante a comunidade, sendo de inestimável valor a iniciativa por si assegurada de fazer instalar, equipar e manter Hospitais de Guerra, no decurso do aterrorizante flagelo que constituiu a  I Guerra Mundial.

   Naturalmente dotada para a organização, e sem olhar a gastos (atenta a sua privilegiada condição económica e social), Almina destacou-se por conferir todo um novo sentido aos cuidados de saúde, ao nível de serviços de enfermagem, numa época em que não existia um serviço público de saúde, e em que os soldados que conseguiam sobreviver à guerra careciam de cuidados de saúde excepcionais.

  Um conceito abrangente e holístico de cuidados de saúde, onde a higiene, a atenção permanente e o sentimento de "estar em casa" eram preponderantes, fez com muitas famílias ficassem gratas a Almina, pela forma como cuidava e fazia cuidar dos militares feridos (alguns deles, mortalmente).

   Ao longo da obra somos convidados a desvendar a vivência pública e privada da família Carnarvon, proprietária do Castelo de Highclere, numa história real que serviu de inspiração à série televisiva Downton Abbey, sendo de assinalar que o Castelo serve mesmo de cenário a algumas das filmagens.

   O livro é uma fascinante lição de história contemporânea, e de uma forma envolvente e num discurso deveras cuidado, mas objectivo e acessível, Lady Fiona leva-nos a viver de perto as alegrias e tragédias que acompanharam a vida de Lady Almina e da sua família (e também do seu país). Assiste-se ao final de uma velha era (era Vitoriana, a que se segiu a era Eduardiana), e ao nascimento de toda uma nova mentalidade.

   Muito interessante é o facto de a obra descrever os modos de vida e as minudências próprias de dois mundos sempre em paralelo, e que pese embora pareçam opostos, são antes complementares - o mundo do piso inferior ( os empregados de Highclere Castle, considerando-se tanto os empregados de serviço à casa, como todos os habitantes e trabalhadores na vasta extensão da propriedade circundante) e o mundo da nata da alta sociedade Britânica, na qual Almina se integrou na perfeição.

   Foi também interessante recordar o interesse manifestado por Lorde Carnavon, marido de Almina, pela Egiptologia, sendo um importante coleccionador de arte Egípcia, e tendo patrocinado escavações no Egípto, sendo parceiro de Howard Carter naquela que é, talvez, a mais simbólica descoberta arqueológica do Século XIX - o túmulo do Faraó Tutankamon. Projecto este que Lady Almina fez questão de continuar a apoiar, mesmo após o trágico desaparecimento do marido, em 1923. (Este episódio dá-nos uma panorâmica daquilo que podemos chamar de História dentro da História Universal).

   De leitura fácil, muito cativante, e enriquecedora em termos culturais e históricos, é uma obra que recomendamos sem quaisquer reservas, e a que iremos atribuir a classificação máxima na sua apreciação crítica que aqui deixamos.

Para os admiradores do British way of life! Um clássico para mergulhar nos clássicos e na história.



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