sexta-feira, 23 de junho de 2017

OPINIÃO | PO.RO.S | MARGARIDA VERÍSSIMO

A animação da conversa abafava os sons do frenesim da cidade naquele fim de tarde de junho.

A frescura do jardim interior, com os lagos ajardinados e repuxos, amenizava o calor sufocante que ainda se fazia sentir apesar de se aproximar a hora da ceia. As cortinas vermelhas abertas, permitindo que aquela divisão se enchesse dos aromas do início de verão e da frescura do jardim interior, permaneciam imóveis tal a total ausência de brisa. No escritório os homens discutiam assuntos relacionados com as suas propriedades rurais e, enquanto esperavam que os servos servissem a ceia, saboreavam o tão afamado vinho do senhor da casa. Um néctar digno dos deuses, de facto. O pão embebido em azeite aromatizado com ervas apaziguava os estômagos lânguidos.

Lá fora, no peristilo, as crianças brincavam com as suas pedrinhas coloridas e iniciavam-se em jogos de estratégia, observadas pelas orgulhosas mães, que alternavam elogios às suas crias com comentários dissimulados de cobiça relativamente às joias que tão orgulhosamente exibia a matrona recém-chegada à cidade…

Esta poderia ter sido uma qualquer cena da vida quotidiana de Conímbriga no ano 77.d.c, mas é apenas uma das cenas que recriei na minha imaginação quando, este domingo, visitei com os meus filhos o museu PO.RO.S.

A missão de nos reportar para estes espaços, para estas vivências, para este tempo, está agora mais eficaz com a abertura do novo museu em Condeixa-a-Nova, o PO.RO.S – Portugal Romano em Sicó. Este espaço museológico funciona em articulação com as ruínas e o museu de Conímbriga, um dos maiores sítios arqueológicos do país, em Condeixa-a-Velha.

O museu PO.RO.S ocupa a antiga casa da Quinta de S. Tomé em Condeixa-a-Nova e, para além do espaço museológico, contempla ainda uma sala para exposições temporárias, um auditório, uma sala de oficinas criativas, uma cafetaria com a agradável vista para o parque verde e ribeira de Bruscos e ainda um amplo pátio que permite eventos e espetáculos ao ar livre.

O museu é interativo, é dinâmico, é moderno e ajuda-nos a apreender tudo o que na escola aprendemos sobre a civilização romana e a romanização. A viagem à época dos romanos começa no túnel do tempo em que, através de acontecimentos e sons, vamos regredindo nos séculos. Depois temos filmes, maquetas, vídeos interativos, objetos, réplicas que nos permitem sentir as texturas das suas esculturas, dos mosaicos, da escrita na pedra….do peso das armas. Recordamos a arte, a cultura, o engenho e a construção das cidades, a política e a religião, a agricultura e o comércio, as legiões e a astúcia militar. Somos confrontados com a grandiosidade do império, com a sua influência na região e passamos ao pormenor de espreitar (literalmente) a sua vida privada.

A visita ao museu é enriquecida com a visita aos vários sítios arqueológicos da região. Como sugestão, uma passagem pela cafetaria do museu para experimentar a iguaria caraterística de Condeixa – a escarpiada – um bolo feito à base de massa de pão, açúcar amarelo com canela e azeite, deixa-nos com água na boca e vontade de degustar outras especialidades gastronómicas…








Autora
Margarida Veríssimo

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