domingo, 6 de setembro de 2020

Hoje, damos a boas vindas a Paulo Landeck, colaborador da Nova Gazeta.

 


Paulo Osório da Silva Landeck nasceu em 1978. Colabora com o jornal Nova Gazeta, faz parte do Conselho Científico da RAES – Revista de Ambiente, Ecologia e Sustentabilidade. Dizem ser ave de arribação, vagabundo do mar, amigo, boémio, eterno errante…por vezes asceta…tímido e extrovertido, paradoxo, hedonista, filho de Deus e do Diabo. Foi próximo do Moinho de Maré de Alhos Vedros (Moita) que fugiu pela primeira vez, do amparo de sua mãe. Cresceu no Vale da Amoreira, num irrequieto ambiente multicultural urbano da margem sul do Tejo, antes de se fazer ao cais para soltar amarras. Viveu e trabalhou em lugares que o marcaram de forma muito intensa, como: Portalegre, ilha da Madeira, Peniche, Londres (Chelsea, Brixton, e Earl’s Court), Newquay (Cornwall), País-de-Gales, Porto, Açores, Trás-os-Montes, Terra Nova, Noruega, Escócia, Figueira da Foz, São Pedro de Moel, Zadar (Croácia), Cartagena (Espanha), Faro, ou Lisboa. 

Além da paixão pelo mar, dedica muito do seu tempo a questões ligadas à sustentabilidade; defende maior atenção aos serviços de ecossistemas; acredita na economia da conservação; mergulha diariamente na cultura; advoga que o Ecoturismo, pode ser importante ferramenta para a valorização e conservação patrimonial, por via de um cuidado planeamento orientado para os aspectos diferenciadores que possam ser valorizados de forma verdadeiramente sustentável, em cada região. 

Desde miúdo, já sonhou ser: arquitecto, entomólogo, sociólogo, arqueólogo, escritor e viajante, botânico, jornalista, professor, sonhador profissional. Tem uma estranha fobia a palhaços (Henry Miller deu-lhe estranhos pesadelos, quando conheceu o palhaço Augusto em, 'O Sorriso aos Pés da Escada'); é um pouco hipocondríaco, o que dificulta, ou talvez não, o cumprimento de regras, em plena pandemia. É observador de espécies marinhas, marinheiro, guia, ser humano incompleto e insatisfeito; foi admitido para o Curso de Oficiais do Exército (teve curta passagem pelos Comandos); conta com diversificada experiência profissional; andou às voltas, debaixo e à tona de água (em lazer, e em trabalho). Tem longa experiência de trabalho em contexto científico, sobretudo na área da biologia marinha e pescas, e no turismo.

Trabalhou em escolas de surf e de mergulho, hotelaria, aviação; foi professor, guia turístico, gestor de conteúdos…é freelancer dedicado; fotógrafo amador, está sempre disponível para novas aventuras que o levem à descoberta. Defende o turismo sustentável e abomina a forma como o turismo de massas continua a imperar, contrariando toda e qualquer lógica dos desafios com que somos confrontados, em pleno século XXI. É um guia de natureza apaixonado pelo mundo que o rodeia. 

Formou-se em Turismo (licenciatura pré-Bolonha), no Instituto Politécnico de Portalegre. Concluiu pós-graduação em Ecoturismo, pela Escola Superior Agrária de Coimbra. Mestrando com estágio/dissertação por terminar, na mesma área. Paulo, conta com diferentes cursos profissionais reconhecidos internacionalmente; tem formação profissional em produção multimédia pela ETIC; cursos de mergulho CMAS/PADI; carta de Patrão Local; cédula marítima…fez diversos cursos avançados de segurança e sobrevivência no mar, em Portugal e no estrangeiro. Foi bolseiro científico, tendo colaborado sobretudo com o Departamento de oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, e com a Universidade do Minho/Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem (SPVS). Foi Observador de Pescas da U.E. Passou pelos escuteiros, dedicou-se a causas ambientais como voluntário, desde aves marinhas (longe de sonhar que um dia haveria de colaborar nos trabalhos para a criação de um Atlas das Aves Marinhas de Portugal), ao apoio em trabalhos para a preservação do burro mirandês; fez parte do Grupo Académico de Serenatas de Portalegre, terra onde teve também longo percurso associativo, enquanto dirigente académico; esteve ligado a diversas organizações ambientais, como associado e/ou voluntário - colaborou com diferentes escolas da Grande Lisboa (voluntário a título particular) em acções de sensibilização e educação ambiental. Iniciou-se ao mergulho amador nos anos 90 (CMAS/PADI), vive o surf como filosofia de vida, gosta de pescar, adora o contacto coma a natureza, e de desportos radicais. 

Para ele, navegar é embalar, resistir, e viver em liberdade! Praticou artes marciais e luta-livre olímpica; partiu um dente a dropar um halfpipe de skate, numa aposta no Marés Vivas em Vila Nova de Gaia, durante um concerto de Jon Spencer, Blues Explosion…saiu-se bem melhor com os patins, ainda que numa vertente de street agressiva, pelas ruas da Grande Lisboa; adora caminhar, pedalar, estar dentro de água, de toda a forma e feitio. 

Desde cedo, tomou gosto às viagens dentro e fora de portas, marcou-o muito uma de suas primeiras saídas em que se perdeu na catedral de Santiago de Compostela, era ainda uma criança; quando a Guardia Civil o veio devolver aos pais, uns dias depois, decidiu que queria ser errante, para jamais se voltar a perder. Na sua primeira ida à Noruega (por Oslo e arredores), deixou amigos e amores. Em território luso, o surf e a montanha, deram mote a várias escapadelas de toda a forma e feitio. 

Fez várias incursões de mochila às costas, por terras perdidas de Portugal e Espanha, atraído pela relação da terra com as suas gentes, ser backpacker está-lhe no sangue, há quem diga que o verdadeiro Paulo Landeck poderá ter sido trocado por um cigano, ainda na maternidade. Tomou gosto à road trip, numa primeira viagem, em que do Alentejo rumou ao País Basco, tendo depois atravessado a França rumo a Calais. Tinha Londres, como ponto de viragem para o regresso, mas resolveu ficar a viver em Chelsea. “Tornou viagem”, alguns longos meses depois, andou pelos Países Baixos, Luxemburgo, e atravessou calmamente França, numa procura de um cenário mais rural. 

Apesar do seu particular gosto por lugares perdidos e achados, gosta de seguir uma via epicurista de estar no mundo, sendo a facilidade de adaptação, umas de suas imagens de marca (talvez lhe esteja no sangue e nas múltiplas heranças genéticas, como revelam os traços estampados no seu rosto…é difícil definir a que país pertence, só pela fisionomia). Correu muitos dos destinos mais populares de Espanha e parte do seu lado mais escondido; teve o prazer de calcorrear quase todos os municípios de Portugal; conheceu lugares que eram tão periféricos há décadas atrás, como Câmara de Lobos (Madeira), ou Rabo de Peixe (Açores), em difícil “contexto de uma época”…teve o privilégio de ir às Formigas (em trabalho), entre outros lugares recônditos de sua alma. Ao longo de 16 anos, passou meses e meses seguidos embarcado, sobretudo: na pesca do bacalhau da Terra Nova; nos Açores, ao caranguejo-das-funduras; no palangre ao espada-preto, e na pesca tradicional à linha, ao atum; na costa continental portuguesa (pesca costeira, e a velejar); nos mares Mediterrâneo e Adriático; nas Ilhas Shetland (Escócia), Inglaterra, Países Baixos, e plataforma continental norueguesa do Mar do Norte…navegar, ontem, hoje, e sempre que possível! 

Foram longas, as veraneantes temporadas, entre Vila Viçosa e Elvas, onde admirava a biblioteca de seu avô transmontano que escolhera o Alentejo, depois de páginas e páginas viradas em África, a mesma que lhe dera a sua avó materna. Ali podia deixar fluir vagarosamente, cada dia de sol. Teve uma adolescência marcada pela cultura do surf da Costa da Caparica, onde se refugiava à procura de azul e emoções fortes que os desportos radicais oferecem; ficava sempre em casa de uma tia, quando podia, pois ali sentia uma outra vida, mais tranquila, entre cada grão de areia que se escapava entre mãos ao folhear um bom livro na praia…ali viveu paixões de adolescente, e outras maresias, num quadro pintado pela xávega, e pelo brilho prateado de vivas escamas. 

As férias grandes são, ainda hoje, para ele, sinónimo de mágicas temporadas passadas entre Vila Nova de Gaia e Porto, em casa de familiares (foram tão bons os episódios: das piscinas da Granja e sobretudo a de Espinho, das surfadas dali ao Paredão, pela Sereia, essa Madalena nunca revoltosa, nunca arrependida (e que bons restaurantes!), que vagalhões, nas “marés vivas”! Da memória nunca fugirá, o litoral da Aguda, ou mais pelo interior, o inebriante cheiro a mata, entre fetos que pareciam tão gigantescos quanto o olhar das crianças; os tanques das lavandeiras, caminhadas mil entre Valadares e Miramar, antenas ao Monte da Virgem, frutos no pomar, galos gigantes, lenha e sabores, do Cais da Pedra ao Douro, Porto de passagem, de abrigo…romântico…ali faz-se das tripas o sal, e das lágrimas do mundo, o coração que resiste ao tempo, em barricas que sobem e descem em rabelos, numa luta que se venceu…desigual; a água corria-lhe também na boca, quando sentia o cheiro das sardinhas, em Matosinhos, ou dos incontáveis petiscos nas casas típicas da região; quer a norte, quer a sul, parecia-lhe no entanto ser outra dureza, a tal, que resiste ao mar, como o Senhor da Pedra apregoa: a rocha irrompe mar adentro, lembrando cavalos de outros tempos…. Seria impossível como marinheiro, não ter ficado para sempre marcado pela contagiante energia do Pico; há para ele lugares que ultrapassam qualquer frame, assim é nos Açores, como nos fiordes de Bergen, no Alto Douro Vinhateiro, ou na luminosidade da Ria de Aveiro! Sabe que a sua Portalegre amada encerra saborosos e íntimos segredos; ao planalto transmontano quer também voltar, pois só quem não conhece, não imagina, como tão bem se pode estar por lá; Coimbra conquistou-o, como quem faz a corte, hoje está rendido. Repetidas foram as suas fugas ao Verde Minho, onde no Gerês procurou carregar baterias, e com sucesso! Peniche poderia bem ser um local de eleição para viver, pela tribo do surf, e boas memórias do melhor tempo do Baleal. Teve a sorte de viajar no tempo e memória, por St. John’s, no Canadá; espreitar ravinas e penhascos, onde quer que os encontrasse; sonha cruzar mundo qual garajau; já se pendurou nas asas de “pombaletes”, em dias de tempestade; focou alcaides e pardelas; seguiu vezes sem conta, o vôo picado do mascate; os araus e tordas-mergulhadeiras; nadou com golfinhos em alto mar, emocionou-se a cada encontro com os gigantes gentis, para ele, viver experiências com cetáceos, é como manter sonhos e chama de criança, sempre vivos…com esperança. Não menos interessante é o mundo dos peixes, ou dos répteis…enfim…fosse um ser marinho, e não saberia qual gostaria de ser; talvez seja o desconhecido, aliado ao conhecimento empírico, e ao gosto pela aventura, o que mais o move. Redescobriu os sentidos por via de paisagens mais complexas, que os diferentes cheiros do oceano, texturas, tormentas, e sonhos nos proporcionam. É também na sua Arrábida, a da fenda (onde escalava em miúdo), das desproporcionais feridas abertas, onde melhor se sente em casa, quando por Setúbal, sobretudo de Inverno, longe do caos dos tempos que correm. Esse seu abrigo, estende-se também às marinhas de sal e sapais existentes no Tejo, onde tanto tempo passou, e passa, e que melhor sorte merecia, num país que pode e deve gerir melhor, o que é tão importante, até para a qualidade de vida, de todos. 

Quanto ao mar, sabe que teve um antepassado cozinheiro de origem madeirense em navios de longo curso, e um escafandrista que provavelmente terá vivido emocionantes aventuras…restam heranças de traços passados a régua e esquadro, de olhos postos no mar; e viagens dos tempos do Ultramar, que escutou em criança. 

Trisneto de prussiano de origem polaca, membro da Comuna de Paris (1871), está-lhe na guelra, uma certa inquietação; é bisneto de arquitecto inglês que deixou obra de influência veraneante francesa em Portugal…herdou das gerações seguintes, os ecos de África. Seu pai nasceu no Lobito, e combateu na Guerra do Ultramar (Comandos – Angola), antes de vir para Lisboa. A sua mãe nasceu em Kinshasa (no antigo Zaire), ainda nos tempos de Mobutu Sese Seko; foi criada desde os 5 anos em Trás-os-Montes; fez o colégio em Lamego, mais tarde estudou nas Belas-Artes do Porto. Conheceu o seu pai em Angola, após ter feito o Magistério Primário, no seu regresso a África. A vinda de seus pais para Lisboa, deu-se no tumultuoso período de 75.

 

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