sábado, 7 de agosto de 2021

CRÍTICA LITERÁRIA | Pede-me o que quiseres, de Megan Maxwell | Planeta

 

Texto: Isabel de Almeida | Jornalista | Crítica Literária

Foto: D.R.


   Pede-me o que quiseres, de Megan Maxwell, é a primeira obra publicada em Portugal com chancela  Planeta que deu a conhecer esta autora no nosso país, em 2013 foi uma nova aposta e que aposta! Deliciosamente atrevido e verdadeiramente escaldante, estamos perante um romance erótico na sua verdadeira essência, e a verdade é que foi apenas o início de um caso de sucesso neste segmento literário no mercado nacional. Megan Maxwell é ainda hoje uma das autoras mais lidas e surpreende sempre a proximidade dos seus protagonistas à vida real.

   As personagens centrais são Judith Flores (Secretária de uma empresa multinacional com sucursal em Espanha) e aquele que descobre ser o seu superior hiearárquico - o atraente e misterioso empresário Alemão Eric Zimmerman, conhecido por iceman, atenta a sua aparente frieza no trato (talvez inserida no estereótipo habitual da sua nacionalidade Alemã).


  Até aqui, os espaços sociais dos nossos protagonistas, verdadeiros opostos que se cruzam, inicialmente numa deliciosa e algo caricata cena durante um momento de falha num elevador da sucursal  Espanhola da empresa de Eric, em que ficam retidos durante algum tempo, corresponde a algo que é já cliché neste tipo de livros, mas acredite-se que os clichés param mesmo por aqui...


   Somos ainda brindados com um leque bastante diversificado e consistente de personagens secundárias, que dão um contributo de relevo para o desenrolar da narrativa, num ritmo verdadeiramente vertiginoso, que nos leva a virar obsessivamente as páginas deste livro. Assim, temos Mónica, a sensual, arrogante e pérfida chefe directa de Judith, que se envolve em escaldantes aventuras sexuais no local de trabalho, por normal, com algum funcionário mais jovem - por exemplo, Miguel o secretário de Eric. Estes episódios presenciados inadvertidamente por Judith e mais tarde por Judith e Eric (aqui já não tão inadvertidamente) irão constituir-se como uma das forças pulsionais propulsoras da fortíssima química e atracção física que nascerá entre os protagonistas da trama.


  Por sua vez, iremos também conhecer Raquel, a irmã da Judith, o seu marido, e a pequena filha de ambos, Luz. Este casal em rotina, e com uma sexualidade convencional, irá causar saborosas gargalhadas, a dado momento, quando decide dar uma nova "cara" à vivência da sua intimidade conjugal.


   Fernando, inspector da Polícia, amigo de infância de Judith, também como esta natural de Jerez de La Frontera, acaba por revelar-se como o amigo colorido, e o apoio para os momentos mais solitários e frustantes da nossa protagonista, numa relação ambivalente, em que estes não conseguem chegar a um consenso para experienciar um relacionamento estável e sólido, mas também não conseguem evitar ir mantendo alguns encontros de natureza sexual, mas com uma forte carga emotiva (não tanto de natureza amorosa por parte de Judith, mas na busca de um porto de abrigo ou uma zona de conforto, indiscutivelmente proprocionada por Fernando).


   Um dos detalhes mais apelativos da obra foi, a meu ver, o facto de termos personagens Europeias, com o espaço da acção localizado aqui bem perto, no pais vizinho, e numa realidade sócio-económica bem recente e que nos é bem próxima, com o cenário de crise instalada bem caracterizado na Madrid de 2012.  Habituados a ler obras deste género escritas e  localizadas nos Estados Unidos, somos desta vez brindados com um espaço que nos é bem mais próximo e familiar.


    Abordando, em especial, o carácter assumidamente erótico da obra,  depara-mo-nos com um protagonista que vivencia uma sexualidade bastante inconvencional, e que ultrapassa largamente o ambiente BDSM,  habitualmente explorado neste tipo de romance, em publicações recentes. Eric Zimmerman é um homem que assume, sem pudores, uma atitude exploratória do prazer sexual, integrando práticas como troca e partilha de parceiros, relacionamentos sexuais menos convencionais com práticas tripartidas, fetiches como voyeurismo, tudo isto assumido de forma bem resolvida, e sempre com base no consentimento da parceira. Até ai mais convencional, Judith vai entrar neste novo mundo de exploração aberta do seu "eu sexual", surpreendendo-se a si mesma aos níveis físico e emocional. 


   Mas o romantismo não ficará indiferente a esta história, pois num claro exemplo de opostos que se atraem, Judith e Eric verão a sua relação ultrapassar a barreira física para alcançar os afectos, a necessidade de ternura, de companhia, apenas alguns twists de relevo, e circunstâncias factuais e psicológicas irão condicionar esta vivência, e  colocar em risco o futuro da relação. Estarão os protagonistas à altura de ultrapassar obstáculos e assumir o sentimento forte que os une, para lá do sexo?


   A narrativa é deixada em aberto, no final deste primeiro volume, e a verdade é que deixa no leitor a necessidade compulsiva de querer saber como irá continuar a narrativa.


   Uma história ousada mas verosímil, personagens que podiam viver na porta ao lado da nossa, uma sábia e deliciosa mistura de drama, amor, humor, sexo e uma fortíssima carga psicológica, numa linguagem correcta mas acessível e com um ritmo narrativo trepidante, sem quebras e que nos prende e cativa.


 Adorei! Recomendado com nota máxima!


Sugestão Musical: deve ler-se ao som de "Blanco Y Negro", de Malu, sendo uma boa aposta para o verão e o ponto de partida para desvendar os restantes títulos desta série e outros romances da mesma autora, este ano chegou às livrarias o refrescante "Até o Sol Nascer"


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