domingo, 27 de agosto de 2017

LITERATURA | Entrevista à autora Vanessa Lourenço

"A ser verdade que escrevemos o que somos, não haverá melhor forma de me descrever que por intermédio dos meus livros. Para quem os ler com olhos de ver."

Quem me conhece sabe que sou uma apaixonada por livros e por animais e a verdade é que encontrei recentemente uma autora que conseguiu unir estas minhas duas paixões. Estou a falar da Vanessa Lourenço.

Quando tive o privilégio de a conhecer tinha acabado de lançar “A Cria Negra de Felis Mal’Ak” e aproveitando para citar a própria: “Não existem coincidências”.

A verdade é que ao acabar de ler o seu livro dei por mim como uma das suas mais fervorosas leitoras, ansiosa pela continuação da estória. Que felizmente chegou com o segundo volume “A Batalha de Sekmet”, porém a minha ansiedade não ficou curada somente saciada. Continuo a desejar saber que final terão estes pequenos heróis de quatro patas.

Para todos aqueles que acham que não gostam de gatos, que estes são pura e simplesmente animais, desenganem-se e leiam o que a Vanessa tem para vos contar. Só ela conseguiria com a sua forma única de contar estórias criar os laços de união que faltavam. Com ela, aprendemos a aceitar que nos acompanham desde sempre e acabamos a desejar que o façam para sempre. Por esse motivo em meu nome e em nome de todos eles, Obrigada Vanessa.

O que muitos dos nossos leitores não devem saber é que foi devido à perda de um destes seus companheiros de viajem que a Vanessa escreveu esta obra.

Compreendo a sua dor e acredito que foi ele o anjo que a ajudou, não poderia ser de outra maneira. Por esse motivo não arriscaria dar inicio a esta entrevista sem lembrar as suas palavras na sentida dedicatória a esse amigo, que nos oferece neste livro e a convidar-vos a todos a seguir o seu trabalho.

“Ao Méfis, o meu Felis Mal’Ak.
Ao Félix, as patas negras que percorrem o caminho.
Comigo para sempre.”


Texto: MBarreto Condado
Foto: Vanessa Lourenço










MBC – Como aparece a Vanessa Lourenço neste diversificado mundo da literatura fantástica em Portugal e em português?
VL - Por intermédio de uma aventura inspiradora que teve a sua génese numa mistura de amor aos animais com a necessidade de fazer chegar ao mundo uma mensagem importante relativa ao papel preponderante dos nossos amigos de quatro patas na capacidade de alcançarmos o nosso mais elevado potencial enquanto seres humanos.

MBC – Foi a tua vontade desde sempre escreveres? Dai à publicação do teu primeiro livro demorou muito tempo? Foi um sonho concretizado?
VL - Acho que escrevo desde que me lembro, mas o gosto pela leitura sempre foi mais preponderante na minha vida. Abres um livro e vês um mundo inteiro construir-se na tua mente, onde o enredo ganha vida e te consegues distanciar de um mundo que, por vezes, se nos apresenta demasiado cinzento. Mas a determinada altura senti a necessidade de começar a expressar-me através da palavra escrita, num processo talvez um pouco catártico, e pouco depois começavam a desenhar-se os primeiros esboços de “A cria negra de Felis Mal’ak”, o meu primeiro livro publicado. A publicação deste primeiro volume viria a concretizar-se apenas sete anos depois. Um sonho concretizado... sim, mas ao mesmo tempo foi muito mais do que isso: foi a concretização de uma promessa a um amigo muito especial, a entrega do seu legado a todo um universo de leitores em potencial.

MBC – Num mundo onde os heróis são gatos como foi a aceitação dos leitores dos teus livros?
VL - Neste mundo (que poderia ser facilmente o nosso), os gatos vestem a pele de anjos, heróis e mestres. É uma história sujeita a várias interpretações diferentes, de acordo com a forma como cada leitor encara o mundo e os animais, e por isso mesmo a reacção aos meus livros foi uma agradável surpresa: de repente estava a receber feedbacks muito positivos ao meu trabalho por motivos tão distintos como a fidelidade no que diz respeito à vertente comportamental dos gatos ou à complexidade psicológica que tardamos em lhes atribuir. Ouço frequentemente leitores dizerem-me que nunca mais olharão para os seus gatos da mesma forma depois de lerem os meus livros, e não podia sentir-me mais grata.

MBC – Pensaste conseguir publicar três livros num tão curto espaço de tempo? Sendo que um deles é a versão inglesa d’” A Cria Negra de Felis Mal’Ak” o teu primeiro livro desta saga?
VL - Numa primeira fase, pretendia publicar os três livros da trilogia no espaço de três anos, mas depressa compreendi que o processo é muito mais complexo do que isso. É preciso ter em conta não só a publicação de mais um livro, mas também todo o trabalho que lhe está associado em termos de divulgação e marketing do mesmo. Quando pretendemos desenvolver um trabalho consistente, os prazos pré-definidos passam para segundo plano relativamente ao processo de o fazer chegar ao maior número possível de leitores potenciais, com qualidade. E isso exige muito trabalho, muita disciplina e dedicação constantes. No que diz respeito à edição inglesa de “A cria negra de Felis Mal’ak”, senti a necessidade de estender o meu público para além-fronteiras, e penso que foi uma boa aposta uma vez que à data desta entrevista, os meus leitores já se estendem aos EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália, entre outros. É um enorme orgulho e um retorno imenso ao trabalho que tenho vindo a desenvolver.

MBC – Como tem sido a aceitação da versão inglesa sabendo que o teu público alvo, os teus leitores já passam além-fronteiras?
VL - Como referi acima, é com muito orgulho que posso dizer que a edição inglesa de “A cria negra de Felis Mal’ak” já se encontra neste momento um pouco por todo o mundo, e os feedbacks têm sido muito positivos.

MBC – Fala-nos um pouco desta fantástica saga? Para quando o terceiro e último livro?
VL - Resumidamente, trata-se de uma trilogia de vertente inspiracional onde os personagens são um grupo de gatos muito especial, que nos vai guiar ao longo desta aventura pela sua própria visão do mundo em que vivemos. É a história de um gato preto que, acompanhado de outros da sua espécie, vai ao encontro de uma batalha que decidirá o destino de todos os gatos no nosso planeta... e para lá dele. Uma história de como existem laços mais fortes do que a morte, e de como a força de cada um de nós se liberta quando caminhamos de encontro ao nosso maior potencial e quando temos que lutar por aqueles que amamos ou algo em que acreditamos. Quanto ao terceiro e último volume da trilogia, tudo o que posso adiantar neste momento é que ainda estou a terminar a história.

MBC – A seguir poderemos esperar algo diferente na tua escrita, nas tuas personagens ou ainda é cedo para perguntar?
VL - (risos). Tenho já algumas ideias, mas para já o meu foco está no último volume desta trilogia. Se te referias ao terceiro volume... veremos adiante o que nos traz!

MBC – Sabendo que a divulgação de novos autores é muito complicada e competitiva em Portugal. Onde na maior parte das vezes se dá mais importância a um nome do que ao conteúdo apresentado. Onde te encaixas no momento em que te encontras?
VL - Publiquei o meu primeiro livro em Setembro de 2015, e hoje em dia posso afirmar que as minhas expectativas iniciais estavam muito afastadas da realidade. Um novo autor em Portugal encontra hoje em dia alguma facilidade na publicação porque esta se encontra bastante acessível... se se tiver capacidade de investimento. Mas mesmo que a capacidade de investimento não seja um problema, os desafios estão longe de terminar com a publicação. Desenganem-se aqueles que pensam que basta publicar e o mundo lá fora faz o resto, porque tal não poderia estar mais longe da verdade: é preciso trabalhar muito, ser-se muito disciplinado e perseverante. Com poucas excepções, é preciso ir ao encontro das oportunidades e dos leitores todos os dias, e lutar por uma visibilidade e um reconhecimento que por vezes não só tardam em chegar, como têm que ser alimentados constantemente.

MBC – Se pudesses dar conselhos a quem começa agora o que lhes dirias?
VL - Há uma frase de que gosto muito, e que uso muitas vezes: não desistam. As pessoas mais dificeis de derrotar são aquelas que não desistem. Não é um caminho fácil ou sempre a direito, mas se a vontade for suficientemente forte vale sempre a pena. Preparem-se para os desafios, mas nunca percam a capacidade de se orgulharem das vitórias, mesmo que sejam pequenas. E nunca se esqueçam do motivo que vos fez começar quando as coisas se complicarem. Uma página de autor nas redes sociais é também muito importante, exponham o vosso trabalho com disciplina e dedicação.

MBC – O que podemos esperar para um futuro próximo?
VL - Trabalho, trabalho e mais trabalho para trazer aos meus leitores livros capazes de os inspirar, e merecedores de um lugar de destaque na prateleira das suas casas. Livros que sintam vontade de usufruir e recomendar.

MBC – Se tivesses uma frase que te definisse qual seria?
VL - A ser verdade que escrevemos o que somos, não haverá melhor forma de me descrever que por intermédio dos meus livros. Para quem os ler com olhos de ver.

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