sexta-feira, 20 de setembro de 2019

CRÍTICA LITERÁRIA | "Ainda há sexo na Cidade? ", de Candace Bushnell | Quinta Essência | Grupo LeYa


Texto: Isabel de Almeida | Jornalista | Crítica Literária

Foto: Grupo LeYa | Direitos Reservados


Ainda há sexo na Cidade? é o mais recente romance de Candace Bushnell, autora Norte Americana que marcou a geração feminina dos anos 90 e seguintes com o livro "O Sexo e a Cidade", que viria a dar origem a uma série de culto com o mesmo nome, protagonizada por Sarah Jessica Parker no Papel de Carrie Bradshaw (uma jornalista que luta para construir a sua vida afectiva eternamente apaixonada por Mr. Big, com muitos encontros e desencontros), sendo inesquecíveis os diálogos e as experiências que Carrie experimenta com as amigas: a ingénua e clássica Charlotte, a destemida Advogada Miranda e a intrépida e pouco ortodoxa Relações Públicas Samantha Jones (que faz da promiscuidade uma afirmação da liberdade feminina com um humor que só Candace consegue conferir à personagem). 

As quatro amigas, saídas da pena de Candace Bushnell surgem  para suscitar a reflexão sobre a condição feminina, o mundo dos relacionamentos amorosos, e de todos os desafios que se colocam às mulheres no quotidiano (com cenário e contexto na classe média alta e classe alta de Manhatan) de uma grande metrópole, onde construir-se como pessoa, tanto ao nível humano como profissional é um desafio constante, chagaria também às salas de cinema, e ainda hoje estas personagens marcam o nosso imaginário de cultura popular, sendo relevantes por terem o raro condão de, com humor, falarem muito a sério sobre problemas sociais.

Neste romance que agora chega às livrarias nacionais com a chancela de qualidade da Quinta Essência, por mérito próprio e sem preconceitos, já uma presença constante no universo feminino, Candace Bushnell não traz de volta as quatro amigas já bem conhecidas dos fãs da série, mas muda de registo para um tom reflexivo e confessional, na medida em que o livro surge apresentado com a própria Candace como narradora participante, já a vivenciar a faixa etária dos 50 anos, convivendo com o seu grupo de amigas, todas deixam a cidade (por diversas contingências dos respectivos cursos de vida) e vão residir na prestigiada zona dos Hamptons, onde se localizam as residências de férias da alta sociedade de Nova Iorque.

Com o toque de humor, e a capacidade acutilante de crítica social feita com uma perfeição cirúrgica que bem caracteriza a sua escrita, notando-se no estilo literário, leve mas bastante rico em objectividade, reflexão, humor, sátira, emotividade e sensibilidade a crescente maturidade alcançada pela autora aqui encontramos algumas respostas possíveis, a que se associam outras tantas dúvidas e questões que ficam no ar acerca das relações afectivas, sociais e familiares da sociedade actual.

O livro, que se lê de um fôlego, deixa-nos a pensar em temas como: o que traz a idade de bom e de mau? Será possível encontrar o amor e a felicidade numa fase mais avançada da vida? Quais os novos padrões e tendências relacionais? O Compromisso ainda faz sentido? O que procuram as mulheres maduras? Como olham os homens para o eterno feminino? Quem social e relacionalmente apenas se preocupa com a aparência descurando a essência humana será na realidade verdadeiramente feliz saltitando entre festas glamorosas com a mais recente conquista pela mão?

Encontramos nesta obra toda uma categorização de novos tipos sociais que se torna fascinante de desvendar e confirmar a sua real existência, sendo relativamente fácil transpor as conclusões do lado de lá do Atlântico para a sociedade Europeia, e mesmo Portuguesa.

De assinalar que há um padrão que se mantém comparando com o primeiro livro da série, a amizade feminina surge como um elemento fulcral na história de vida das personagens, mostrando-se imprescindível para manter o equilíbrio mesmo pelo meio de tempestades, tragédias e reviravoltas com que a vida sempre nos brinda.

Uma escrita fresca, vibrante, de fácil leitura, mas que traça um quadro realista com forte pendor de análise social com olhar crítico, numa curiosa ambiguidade que é própria do estilo da autora, temos em mãos algo que arrisco a caracterizar como: literatura light que faz pensar!

Excelente notícia é saber que os Direitos da obra se mostram já adquiridos com vista a dar corpo a uma adaptação televisiva. Uma excelente forma de celebrar a rentrée literária!

FICHA TÉCNICA:


Autora: Candace Bushnell

Edição: Setembro de 2019


Páginas: 232

Género: Romance Feminino Contemporâneo



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