quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

MARIA, de Mafalda Pascoal















Era pequena, branca como a neve e de cabelos negros. Era pequena demais para a situação em que encontrava.

Disseram-lhe que, se fosse sempre em frente encontraria o seu pai.

Ela foi com o seu coraçãozinho cheio de felicidade, correndo tanto quanto as suas pequenas pernas permitiam...começou a ficar cansada...mas tinham-lhe dito que nunca parasse nem olhasse para trás, que logo logo encontraria o seu pai. Correu, correu, correu até que caiu por terra...já não tinha força para mais.

Escureceu muito depressa, a floresta era densa e começaram a ouvir-se barulhos estranhos que ela jamais ouvira. Pensou no pai, porque não o encontrou, já tinha tantas saudades dele, havia muito tempo que não o via.

A senhora V tinha-lhe dito que o seu pai estava de regresso a casa e que se o fosse esperar a meio do caminho ele ficaria muito feliz... e foi o que fez, exactamente como ela indicara... agora, estava sózinha no meio da floresta que o pai sempre lhe dissera para não entrar porque era perigoso... e já era noite!

Agora a menina começava a ter medo. Os barulhos estranhos começaram a ser cada vez mais, pareciam pessoas a gritar e a dar gargalhadas, depois parecia que se ouviam cães muito zangados...e gritos muito fininhos...a menina começou a chorar baixinho e o seu coraçãozinho começou a ficar cada vez mais apertadinho...aninhada junto de uma árvore, cansada de tanto chorar, por fim, o sono venceu.

O sol já ia alto quando a menina acordou, embora dentro desta floresta tão densa isso não se note muito, a criança, um pouco estremunhada sem saber onde estava, acordou lentamente... continuava assustada, agora estava também com fome.

Levantou-se, lembrou-se do pai, se calhar tinham-se desencontrado e agora procuravam-na... susteve a respiração e apurou o ouvido para ver se ouvia o pai a chamar por ela, mas nada, só ouvia o chilrear dos passarinhos...então, encheu de ar, o mais que conseguiu e os seus anos o permitiam e gritou pelo pai com quantas forças tinha... mas nada... não ouviu resposta...

Resolveu começar a andar, podia ser que encontrasse o pai. Havia sempre tantos caminhos. E ela continuava. A fome começou a apertar e ao mesmo tempo que andava ia procurando algo que se pudesse comer. Começava a ficar cansada, cada vez com mais fome e sede. Então, de entre as árvores que havia pela floresta fora, viu uma que lhe parecia igual há que estava junto da sua casa e que dava frutos muito bons. Dirigiu-se para a árvore... os frutos estavam tão altos, a árvore era muito maior que a da casa dela e não tinha o pai para segurá-la no colo e chegar aos frutos... deu uns pulitos a ver se chegava aos ramos e nem sequer lhes tocava. Encaminhou-se para o tronco mas este era muito liso e alto, não havia forma de subir. Olhava para cima... tantos frutos, tanta fome e sede que sentia... as lágrimas vieram... perdida, sem o seu pai que devia estar aflito sem saber dela e a senhora V também... o que fazer, pensava ela, mas na sua tenra idade só podia chorar e chorava, numa mistura de tristeza, fraqueza, cansaço, fome e sede...

De repente caiu um fruto e mais outro que ela mesmo a chorar, correu a apanhá-los. Reparou que havia mais daqueles frutos pelo chão, alguns eram muito bons e outros nem por isso, mas consegiu ficar sem fome e sede. Estes frutos eram igualzinhos aos da árvore da sua casa, mas eram muito maiores, se calhar era a árvore-mãe!

Certo dia, seu pai disse-lhe:


-Vou dizer-te um segredo que fica só para nós dois, esta árvore foi a tua mãe que plantou no dia em que nos casámos, dizendo-me que ela significa o amor que sentimos um pelo outro, forte e seguro, e os frutos que ela dará serão belos e doces como serão os nossos filhos.

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