domingo, 10 de novembro de 2019

FÉLIX, de Vanessa Lourenço















Nestes últimos dias, muito se tem falado na tempestade Félix. E, no entanto, apesar de já ter sentido na pele as circunstâncias adversas deste fenómeno meteorológico, não consigo evitar fazer associações positivas no que toca a esta tempestade. Afinal de contas, a minha estreia no mercado literário ficou a dever-se a um gato preto com o mesmo nome, um gato que me ajudou a encontrar o meu caminho porque tive que o perder. E por isso mesmo, esta semana a nossa crónica desenrola-se mais ou menos assim...

Perdoem-me os não crentes, mas os animais que amamos não morrem. Desculpem, serei mais específica: não caem no vazio da não existência quando fecham os olhos pela última vez. Sim, é verdade que custa horrores quando partem e deixamos de os poder ouvir, ou de lhes poder tocar (isto porque no que toca à visão, por vezes se estivermos com atenção conseguimos vê-los pelo canto do olho) ..., mas eles não morrem. Na verdade, a primeira coisa que fazem assim que percebem o que lhes aconteceu é procurar-nos, e quando nos encontram acontecem duas coisas engraçadas: primeiro, percebem que não precisavam de procurar porque fora do corpo, a distância deixou de existir; e depois, que agora é muito mais simples falar-nos de amor, porque a nossa voz agora é a mesma.

Na vida muitas vezes nos cruzamos com frases feitas para amenizar a perda ou a distância, e os mais sensíveis de nós muitas vezes encontram sinais. Claro que na maioria das vezes os ignoramos porque “não é normal”, ou “vão achar que não sou certa da cabeça”, ou ainda porque o nosso cérebro está programado para desvalorizar tudo o que fuja à realidade de todos os dias, essa realidade com a qual a nossa vida em sociedade nos impregnou. Mas acreditem, eles existem.

“Mas se esses sinais são reais, porque são sempre tão subtis e dificeis de comprovar?” Porque, meus caros, o livre arbítrio dita que devemos decidir acreditar neles, mesmo que o resto do mundo teime em os desacreditar. É esse o objectivo da vida, esculpir a pessoa que somos quando chegamos ao mundo, por intermédio de decisões que por vezes desafiam toda a lógica ou conceitos pré-concebidos. E porque existem coisas na vida que são só nossas, não sujeitas à validação ou compreensão dos outros.

E é por conta disto que hoje vos escrevo, porque existe uma tempestade a assolar o nosso país que se chama Félix.

Para terminar, um pequeno aparte que acho importante acrescentar:

Tudo nesta crónica pode estar errado.

E vocês, em que acreditam?



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