sábado, 23 de novembro de 2019

AO CHEGAR..., de Fernando Teixeira
















A viagem é realizada durante a tarde, não por acaso. É pela tarde que as cores são mais acentuadas e isso aumenta o prazer da chegada, principalmente quando se sai da A23 e se começam a percorrer as estradas municipais. Então, é um perfeito deleite conduzir pelo asfalto que serpenteia por entre campos de cultivo, ou de pastoreio, e afloramentos de granito.

É quando o Sol desce e se aproxima do ponto do ocaso, por detrás de serras distantes, que a paisagem se revela acolhedora, numa paleta de cores vibrantes e numa mescla de cheiros que nos anuncia que estamos quase no nosso destino.

Percorrem-se os últimos quilómetros, curvas da estrada que a nossa memória já conhece e prevê, sem pressa, que o momento é para se desfrutar, numa antevisão daquilo que nos espera. Cruzamo-nos com poucas viaturas, que a cidade há muito ficou para trás, e a necessidade de ultrapassar quem vai à nossa frente é quase inexistente, porque é raro ir alguma outra viatura à nossa frente. A zona raiana beirã abre-nos os braços, singela e pura, tranquila.

Entra-se na última recta e todos os pormenores são ainda mais familiares, até que, depois de uma curva larga, a placa com a designação Idanha-a-Nova nos dá as boas-vindas e sentimo-nos a entrar no paraíso.

Primeira paragem, o hipermercado da vila onde se encontra carne e vegetais dos produtores locais, porque é necessário comprar alguns produtos da região para o jantar, como se esse ritual fosse imprescindível para que nos sintamos mesmo lá e não julguemos que apenas sonhamos: um pedaço de queijo, uma bica de azeite – um tipo de pão muito achatado, de massa fofa ou crocante –, talvez uns borrachões que são bolos típicos da região e ainda ingredientes para o almoço do dia seguinte.

Saindo do carro, somos logo brindados pela atmosfera de que já tínhamos saudades, mesmo que tenhamos regressado pouco tempo depois da última vez. Enchemos os pulmões com aquele ar de cheiro campestre, ouvimos o chilrear alvoraçado da passarada nas árvores próximas e percebemos que as pessoas vivem com outra calma e saudável convivência. Nota-se que se conhecem, que conversam em grupos.

Depois das compras feitas, ruma-se finalmente a casa. Ao rodar da chave na porta, entramos naquele casulo que é o nosso mundo e o de uma ou outra aranha que aproveitou a nossa ausência para fazer a sua teia. Abrem-se portas e janelas e deixa-se que o ar de fim de tarde invada os aposentos. Chegámos!

Chegámos a uma vila onde o tempo corre mais devagar, onde não há pressa de viver, onde não há stress e parece não haver preocupações. As pessoas mais idosas sentam-se à soleira da porta, a conversar sobre a sua povoação e sobre a sua vida, sobre histórias de fulano, beltrano e sicrano. É o lento pulsar daquelas gentes, pessoas humildes. E, com a mesma humildade, cumprimentamos e somos cumprimentados quando com elas nos cruzamos, ainda que estranhos.

Por isso, nos sentimos acolhidos numa terra que adoptámos, primeiro porque de lá eram naturais alguns dos nossos progenitores, depois porque nos cativou o coração. E a terra prende-nos cada vez mais, com os seus costumes, festas e tradições, gastronomia, linguajar, paisagem, fauna e flora, pontos de interesse e aquela atmosfera que só se sente ali.

Cresce, então, a vontade de nos aventurarmos por trilhos que serpenteiam pelo campo, subindo e descendo ravinas, num contacto próximo da Natureza, sentir a paz na imensidão dos espaços, na imponência dos penedos, avidez de quem vive a maior parte do tempo numa grande cidade. E viver essa tranquilidade com uma enorme sensação de felicidade, até ao momento em que se tenha de partir de novo, desejando ficar.

Até breve, terras de Idanha!



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