- Um, dó, li, tá, tu és bruxa, tu és santa, tu és finada.
- Finada? Eu não quero ser finada!
- Ora isso não é algo que possas escolher. És finada e ponto final.
- Já te disse que não quero ser finada.
- Escuta lá os mortos não reclamam, aliás nem se ouvem por isso vê lá se fazes o mesmo.
- Os mortos também recebem mais flores do que os vivos e eu não te vejo com nenhum bouquet de flores.
- Isso é porque o remorso é mais forte do que a gratidão, por isso agradece e cala-te.
- Agradecer? O quê? Não sou nenhuma santa.
- Pois não és finada. (suspiro)
- Mas hoje não é o dia de todos os Santos?
- Santa paciência. Hoje é o dia das Bruxas.
- Então quero ser uma.
- Já te disse que não podes.
- E um sapo, posso ser?
- Não!
- Então já não quero brincar.
- Olha porque não fazes o que Victor Hugo disse.
- E ele era um bruxo.
- Não!
- E era um santo?
- Também não. Mas é um finado.
- Ahhhh. Então e o que foi que ele disse?
- Disse que podes brincar porque segundo ele: “os mortos são uns invisíveis e não uns ausentes”.
- Está bem, mas amanhã quero ser outra coisa.
- Amanhã logo se vê. Agora como tua primeira tarefa vais aquele cemitério bater nos túmulos e perguntar se querem ressuscitar.
- Maldita tarefa.
- Se forem como o meu primo Schopenhauer: “…sacudirão a cabeça num movimento de recusa”.
- Começo a pensar que devia ter sido Santa.
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