sexta-feira, 1 de novembro de 2019

TODOS (OS) SANTOS, de MBarreto Condado















- Um, dó, li, tá, tu és bruxa, tu és santa, tu és finada.

- Finada? Eu não quero ser finada!

- Ora isso não é algo que possas escolher. És finada e ponto final.

- Já te disse que não quero ser finada.

- Escuta lá os mortos não reclamam, aliás nem se ouvem por isso vê lá se fazes o mesmo.

- Os mortos também recebem mais flores do que os vivos e eu não te vejo com nenhum bouquet de flores.

- Isso é porque o remorso é mais forte do que a gratidão, por isso agradece e cala-te.

- Agradecer? O quê? Não sou nenhuma santa.

- Pois não és finada. (suspiro)

- Mas hoje não é o dia de todos os Santos?

- Santa paciência. Hoje é o dia das Bruxas.

- Então quero ser uma.

- Já te disse que não podes.

- E um sapo, posso ser?

- Não!

- Então já não quero brincar.

- Olha porque não fazes o que Victor Hugo disse.

- E ele era um bruxo.

- Não!

- E era um santo?

- Também não. Mas é um finado.

- Ahhhh. Então e o que foi que ele disse?

- Disse que podes brincar porque segundo ele: “os mortos são uns invisíveis e não uns ausentes”.

- Está bem, mas amanhã quero ser outra coisa.

- Amanhã logo se vê. Agora como tua primeira tarefa vais aquele cemitério bater nos túmulos e perguntar se querem ressuscitar.

- Maldita tarefa.

- Se forem como o meu primo Schopenhauer: “…sacudirão a cabeça num movimento de recusa”.

- Começo a pensar que devia ter sido Santa.


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