quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

ENTREVISTA a ANA KANDSMAR a autora que nos consegue transportar para os seus mundos fantásticos e muito mais…

“…Ainda que a vida me finte, e traga à minha porta ladrões ou tempestades, eu continuarei a abrir as minhas janelas…” AK



MBC – Porquê o nome Ana Kandsmar?
AK - A minha família tem uma história curiosa. A minha avó materna (extremamente pobre) ter-se-á perdido de amores por um homem que a engravidou e desapareceu da sua vida. Depois da minha mãe ter nascido, apareceu outro homem, (este com posses) que perfilhou a bebé (minha mãe) e lhe deu o nome que foi depois herdado por mim, anos mais tarde: Gaspar. Ora, segundo se conta, (ninguém na família sabe muito bem se isto é verdade), esse meu “avô” não tinha Gaspar no nome, mas sim Kandsmar e no registo da minha mãe, alguém nos serviços terá entendido que o nome não seria válido por não ser português. O facto é que quem conviveu com o meu avô (morreu quando a minha mãe tinha apenas 6 anos), divide-se na atribuição da sua nacionalidade. Uns dizem que ele era berbere, outros afirmam que ele era iraniano, e há até quem diga que ele era cigano. O certo, é que Kandsmar é o original para Gaspar em Persa. Tendo em conta esta história, que não acabou bem para a minha avó, (depois da morte do homem que a salvou da miséria, acabou expulsa pelas irmãs deste e foi para a miséria que voltou perdendo todo e qualquer contacto com a família) achei que devia fazer alguma coisa com este nome. Usá-lo. Talvez um dia também faça alguma coisa com esta história e a conte, encaixando-a num outro romance.

MBC - O que te levou a começar por escrever Literatura Fantástica?
AK - Eu sou fã de Literatura Fantástica. Aliás, eu sou fã de Literatura. Ponto. À parte disso, acredito que escrever Fantasia tem muitas vantagens sobre a Ficção mais realista ou sobre a Não Ficção e a ausência de limites é uma delas. No Fantástico tudo é possível e o escritor pode realmente dar asas à imaginação. Tendo em conta que o fantástico que eu gosto de escrever é aquele que agarra também no que realmente existe e o “distorce” (um pouco como Dali na pintura) unir todas as pontas sem deixar nenhuma solta, ou cozinhar todos os ingredientes sem exagerar nos temperos, dá imenso trabalho, mas é muito gratificante. E quando digo que dá imenso trabalho, digo que dá mesmo imenso trabalho. Sem qualquer desprimor para quem escreve noutros géneros, é muito mais escritor quem escreve no Fantástico (quando o trabalho é bem feito, claro!). A prova disso é que demorei quase três anos a escrever A Guardiã- O Livro de Jade do Céu, e sete meses e meio para escrever A Lenda do Havn.

MBC – “A Guardiã, O Livro de Jade do Céu” vai ter continuação?
AK - Eu gostava que tivesse, mas uma coisa que constatei é que em Portugal o Fantástico quando escrito por autores portugueses não é bem recebido. Mas talvez escreva, mesmo que depois o guarde apenas para mim.

MBC – No ano passado lançaste o teu primeiro romance “A Lenda do Havn” qual tem sido a receptividade dos teus leitores?
AK - O meu primeiro romance foi A Guardiã- O Livro de Jade do Céu. É um romance no género Fantástico, mas não deixa de ser um romance. Relativamente à Lenda do Havn, é um romance que tem surpreendido os leitores. Sobretudo os leitores que não gostam de Fantástico e que compraram A Lenda do Havn à cautela e com muitas reservas. Muitos leitores acabaram por me dizer que não esperavam que eu fosse capaz de escrever um romance como A Lenda do Havn. Claro que essa reacção não se verificou naqueles que me seguem nas redes sociais, ou no blogue. Esses sabiam que eu, mais cedo ou mais tarde, acabaria por ir por aí, e desejavam que eu o fizesse. Fi-lo. É muito gratificante saber que não os desiludi.

MBC – Com qual dos géneros te identificas mais?
AK - Eu identifico-me com todos os géneros literários. Desde que bem escrito e com uma narrativa que desperte em mim as mais variadas emoções, identifico-me. Isto enquanto leitora. Todavia, enquanto autora, não tenho um posicionamento diferente. Do que gosto mesmo é de escrever.

MBC – Vais manter-te fiel só a esse género ou continuarás a surpreender-nos?
AK - Eu sou fiel a pessoas, não a coisas ou a ideias. Estou sempre em perpétua mutação, em crescimento. Por isso, sim, escreverei sempre sobre o que na altura fizer mais sentido para mim.

MBC – Sei que tens uma agência de divulgação de novos autores a Bee Dynamic Books, como te surgiu esta ideia?

AK - A ideia da Bee surgiu quando percebi que entre os novos autores e os leitores há uma espécie de muro intransponível. Vivemos numa época em que parece muito fácil publicar, e é de facto, mas é muito difícil conquistar leitores. Isso é a consequência natural da democratização das publicações. Por outro lado, o mercado literário é cada vez mais um negócio como outro qualquer e as editoras querem garantir vendas. Logo, não apostam nos autores cujo nome ninguém conhece. E se é verdade que há muita gente a publicar que escrever francamente mal, também há muita gente que escreve brilhantemente e que sem ajuda, não consegue furar aquela tal parede invisível que os separa dos leitores.

MBC – Quais são os serviços prestados pela agência?
AK - A Bee faz um trabalho exaustivo de divulgação de obras literárias. Desde os agendamentos de presenças de autores em escolas, bibliotecas ou outros eventos, usamos as redes sociais para divulgar, com material promocional criado por nós, booktrailers, teasers, imagens promocionais e entrevistas. Na verdade, promovo mais os outros autores do que a mim mesma e nem sempre há um retorno positivo, mas as adversidades fazem parte do caminho.



MBC – Tens algum plano imediato para avançares com a divulgação da Bee Dynamic Books?
AK - A Bee Dynamic Books está a ser tão divulgada quanto possível. Temos presença nas redes sociais, na blogosfera, temos uma loja online para venda de livros físicos, e-books e audiobooks. Claro que é preciso mais, mas tudo tem que ser feito com alguma ponderação porque tudo custa dinheiro.

MBC – Onde é que os leitores podem adquirir os teus livros?
AK - Os meus livros estão à venda nas livrarias. As redes FNAC e Bertrand têm os meus livros à venda. Para além destas, as lojas online também os têm, como a WOOK, a FNAC, a Bee Dynamic Books em www.beedynamicbooks.pt  e a loja online da editora.

MBC – Queres deixar-nos os teus contactos nas redes sociais para que os leitores possam seguir o teu trabalho?
AK - Tenho uma página e um grupo no Facebook que os leitores podem seguir em: https://www.facebook.com/AnaKandsmar/. Para além disso, existe também o blogue.

MBC - E a resposta pela qual todos aguardamos, novidades para breve?
AK - Para breve, não há nada em vista. Estou a reiniciar o processo de escrita, mas confesso que não tenho pressa nenhuma de publicar. A minha preocupação é escrever bem, criar um romance que transmita uma mensagem forte aos leitores, que mexa com as emoções dos leitores e que, por fim, se torne inesquecível para os leitores. Jamais serei uma dessas escritoras de clichés e lamechices, que publicam um livro ou dois por ano e que têm a mesma relação com os livros que produzem que um comerciante tem com as mercearias que vende. Ora, vender livros e vender batatas não é a mesma coisa. Os escritores que se tornam “vendilhões do templo”, nunca serão escritores e muito menos serão algum dia recordados enquanto escritores. Serão sempre vendilhões e recordados como vendilhões. Não sei por onde passará o meu caminho, mas sei por onde não passará e não será por aí.

“…Não sou perfeita. Tenho contrastes. Um canto bem diferente do outro...uma divisão enorme onde guardo tudo e outra tão pequena que não cabe lá nada…” AK


O meu especial agradecimento à Ana por nos provar que a vida pode ser muito mais do que aquilo que nos mostra mas para que isso aconteça devemos estar rodeados de quem mais amamos e nos ama, porque o amor incondicional existe. 

Texto: MBarreto Condado
Fotos: disponibilizadas pela autora


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