segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

AMOR ERÓTICO, de Ana Ribeiro
















Há já alguns dias que tudo se repetia. Todas as noites J. tinha o mesmo sonho, um sonho persistente que o fazia acordar sistematicamente sobressaltado, ofegante e a transpirar. Já não conseguia regressar à cama e voltar a dormir, de boxers e roupão vestido, ia até à cozinha, enchia uma chávena de café bem quente e ficava horas na escuridão da sala, sentado no sofá sobre o vazio da noite. Nunca mais conseguia sossegar, aquele sonho, parecia persegui-lo.

Via e revia tudo tempos a fio. Tudo começava com um cenário todo branco, paredes brancas, sem nada, uma cama ao centro, um nevoeiro esfumado no ar que fazia com que não conseguisse vislumbrar mais pormenores. Do nada aparecia um vulto feminino, belo e esbelto, longos cabelos loiros, sorriso fácil e de lingerie branca. Lentamente ia-se aproximando dele, e num único movimento, puxava-o para si a partir do decote da camisa axadrezada que trazia vestida, para depois o empurrar bruscamente de encontro à cama e assim possuí-lo sofregamente noite dentro. E era assim que tudo começava.

Por entre beijos intensos e carícias, roupa que voava em direcção ao chão, a mão que acariciava cada fio de cabelo dela, que explorava o corpo dela. Os lábios carnudos dela, que lhe humedeciam a pele, as mãos suaves, doces e ternas que percorriam o seu corpo, lhe apertavam a pele e a carne e que o faziam gemer e contorcer-se de prazer, atingindo o clímax, num orgasmo fervilhante. Como adorava as curvas dela, percorrê-las, senti-las, os seios perfeitos, simétricos e quentes que faziam faísca na humidade e frescura dos seus lábios, no suor libertado pelo corpo dela, o ventre duro e macio, desalinhado como as dunas no deserto. A excitação no seu auge. Aquele amor despido, carnal, intenso, vivido no limite, a necessidade e saciedade de um corpo, de contacto físico.

De repente, ela levanta-se, deixando praticamente tudo a meio, ainda havia sensações, cheiros e aromas para explorar e descobrir, nua, sem mais nada que a protegesse, veste a camisa dele. Acena, atira-lhe um beijo e difunde-se na névoa.

J. acorda, e é assim que tudo termina todas as noites, sem mais nenhum detalhe a acrescentar, mas desta vez, tudo foi diferente. Encontra nas costas da cadeira a sua camisa, a camisa do sonho, e de repente sem nada que o fizesse prever… sente o cheiro dela.

Sorri, veste a camisa. E sai…

Sem comentários:

Enviar um comentário