quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

ÀS VEZES, GOSTAVA DE SER UM POLVO, PARA PODER ESBOFETEAR OITO PESSOAS AO MESMO TEMPO, de MBarreto Condado















Não sei quem escreveu esta máxima, mas estava inconscientemente a pensar em mim.
A minha lambada tentacular fica-se mesmo pela rua onde vivi em Lisboa.

Vou tentar levar-vos numa breve visita guiada ao Parque do qual não irei pronunciar o nome, mas que ultimamente não nos faz nada “Bem à Saúde”. Da porta da minha antiga casa à entrada do dito Parque são uns meros vinte metros.

Este pequeno pedaço de paraíso nos últimos anos passou a ser uma viagem sem cinto de segurança na mais alta montanha russa do mundo.

Refiro-me aos donos dos canídeos frequentadores esporádicos do parque (sendo eu uma mãe humana de alguns deles e utilizadora do mesmo, sinto que posso falar com razão de causa). Gostava por isso de lhes repetir como uma mantra algumas regras básicas de viver em comunidade e limpeza, que parecem AINDA não ter apreendido.

Primeiro, e atenção, que isto pode soar como uma novidade para muitos (neste momento deviam ressoar trompetas) “Os dejectos dos vossos cães ainda não levitam na direcção dos caixotes, e por muito inteligentes que eles sejam ainda não conseguem fazê-lo por si”.
Aproveito para sugerir que estendam a mão envolta num plástico e apanhem a dita cáca (uso o termo carinhoso para não ferir susceptibilidades).

E que no final de mais um dia tentei evitar os campos minados por eles plantados. Com sorte acabam por levar a vossa própria merda (a sensibilidade foi-se assim que pisei uma destas minas) agarrada à sola dos vossos sapatos (os dois de preferência).

Mas alarguemos o raio de desagrados.

O grupo de jardineiros que mantinha o espaço impecável (podíamos comer directamente do chão, não é que alguém tenha tentado) foi substituído por uma nova trupe de modernos malabaristas. O lixo passou a ser recolhido somente uma vez por semana ou quando alguém consegue reclamar sem se tornar persona non grata.

O lago que já tinha o seu próprio ecossistema foi por insistência superior “limpo” e neste momento parece uma papa de blandiblub (quem teve a felicidade de viver nos anos oitenta sabe do que falo).

O varrer foi substituído pelo soprador de folhas. Escusado será dizer que com a nuvem de pó que se levanta, é aconselhado marcar o caminho com migalhas qual Hansel e Gretel, se quiser regressar a casa.

O sistema de rega passou a aplicar-se somente a um canteiro, já avisei os jardineiros que aquelas não são plantas aquáticas, mas penso que a mensagem não chegou ao receptor. Mas mais importante ainda não me podia esquecer das obras que tiveram início no primeiro dia da abertura do Parque e que se estendem até aos dias de hoje, já lá vão mais de dez anos.
Assisti com tristeza ao destruir de muros centenários da antiga quinta, da estufa fria, mas o que mais me custou foi presenciar o corte de árvores centenárias.

A minha única esperança para este espaço é que quando o senhor lá de cima acordar (aquele a quem chamam Pedro) nos envie o tão desejado pequeno dilúvio para nos limpar dos pecados, da porcaria, das novas paredes em betão. E se possível que as mesmas sejam levadas com a corrente.

Agora que já esbofeteei quem merecia com os meus modestos tentáculos acabo com as sábias palavras da Dory (que a estas horas ainda deve andar à procura do Nemo):
“To vendoo, to vendo uma luz! Ó consciência, eu morri?”

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