sábado, 14 de dezembro de 2019

NATIVIDADE, de Fernando Teixeira
















Aproxima-se mais um Natal. Em tempo de advento, observa-se uma repetição de tudo aquilo a que já nos habituámos por esta altura do ano: um apelo desenfreado ao consumo, traduzido em doses exaustivas de publicidade na televisão a tudo o que possa constituir uma prenda natalícia, uma correria nas grandes superfícies ou no comércio local para a compra atrasada dos presentes ou de um ou outro que ficou para o fim, ruas cheias de gente apressada, lojas enfeitadas com os motivos da época, lojistas afogueados procurando satisfazer os clientes e embrulhando centenas de artigos para oferta… Enfim!...

Nas grandes cidades, mais trânsito, mais movimento, luzes enfeitando ruas e montras, pessoas carregando sacos com compras e roupa mais quente, que o Outono está no fim e o Inverno já se anuncia, entardeceres frescos temperados pelo cheiro inebriante a castanha assada dos carrinhos de rua de vendedores ambulantes.

Nas vilas e aldeias, a quadra é vivida segundo as tradições locais. Maior tranquilidade, parecendo que o tempo corre mais devagar, embora os dias que antecedem o Natal sejam os mesmos do que nas cidades. Mas o espírito e a forma como se vive esta época são um pouco diferentes. Talvez ainda se dê mais atenção ao presépio e à celebração do nascimento de Jesus Cristo do que à árvore de natal, não podendo faltar, em muitas localidades que têm essa tradição, o acender do madeiro, uma pilha de grossos troncos que arderá durante dias, e à volta do qual se juntam as gentes da terra, aquecendo-se e trocando dois dedos de conversa.

Imigrantes regressam ao país e à terra, em muitos casos também ela designada natal, por uns dias. É o reencontro de famílias, separadas pelas necessidades da vida. É o reencontro de filhos que tiveram de procurar um trabalho e salário dignos no estrangeiro com a mesma urgência que agora têm de voltar, brevemente, para abraçar e consolar os seus progenitores, muitas vezes idosos. É um tempo que se deseja de encontro, de reconciliação e paz. Encontram-se pais e filhos, tios e sobrinhos, primos, antigos vizinhos, amigos e conhecidos…

Por motivos religiosos ou meramente pagãos, a quadra natalícia presta-se a que as pessoas estejam mais sensíveis às causas sociais. Tirando partido dessa sensibilidade, repetem-se igualmente os apelos à solidariedade dos cidadãos para acorrer aos que são mais desfavorecidos. É por altura do Natal que se recebem pedidos de donativos para causas que, existindo ao longo de todo o ano, procuram então maior receptividade das pessoas para o acto de contribuir. Também as instituições de solidariedade social procuram dar algum conforto mais a quem menos tem, multiplicando-se na distribuição de roupas e alimentos quentes, talvez mesmo uma refeição especial à laia de consoada, que o tempo frio e o espírito natalício assim o exigem.

Aproxima-se o Natal. Que cada um de nós possa reservar algum tempo para se permitir embrenhar no verdadeiro e mais nobre espírito desta quadra, evitando deixar-se unicamente submergir pelo frenesim consumista. Que cada um de nós procure viver em harmonia, dando menos importância a quezílias do passado entre familiares, colegas de trabalho ou amigos, porque este é um tempo que deve ser um oásis na aridez das turbulências da vida. Deixemos os sinos tocar e que as músicas natalícias nos amoleçam o coração. Que as consoadas e almoços de natal nas nossas famílias sejam o ponto culminante deste espírito.

A todos, um Santo e Feliz Natal!

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