quarta-feira, 9 de março de 2016

[Entrevista - Política Local] Espero conseguir modificar o que for possível



Vasco Fernandes é um jovem de 25 anos, residente na cidade do Montijo, foi reeleito presidente da JSD do Montijo. Entre muitas descobertas, Vasco Fernandes ainda sonha um dia vir a ser presidente da Câmara Municipal do Montijo


Reeleito como presidente da Comissão Política do Montijo da Juventude Social Democrata, Vasco Fernandes apresenta como principais objectivos “a criação de um espaço para a Juventude; um orçamento participativo, para levar os jovens a apresentar as suas propostas e a votar, para criar uma nova dinâmica dos jovens na cidadania activa; a criação de um pólo de incubadoras de empresas, porque acho que é uma vergonha para o Montijo, tão perto de Lisboa, não o ter. Existem aqui vários jovens formados em gestão e economia que depois não se conseguem integrar no mercado de trabalho, e esta seria uma ajuda fundamental, para criarem o seu próprio emprego, quando o Montijo tem tantos espaços vazios.
Defendemos também a criação de uma plataforma que integre as escolas e os movimentos de jovens para discutirem com os autarcas locais os seus problemas e as suas propostas.
Já tivemos a Assembleia Municipal Jovem, que foi extinta por opções políticas, já foi proposta a sua reactivação, tivemos como resposta que seria pensado, mas já passou ano e meio.”

Actualmente com 26 anos, Vasco Fernandes iniciou a sua carreira na política com 17 anos de idade, na JSD, “quando comecei a fazer as escolhas sobre o que procurava neste sector da política. Apesar do meu pai ter feito parte das listas do PSD em 2005 como independente, isso não teve qualquer influência na minha escolha, até porque ele tem apenas mais um ano de Partido que eu. A minha mãe ficou muito feliz quando lhe apresentei a minha escolha, dando-me todo o apoio mas alertando-me que era um percurso difícil. O meu pai está agora afastado da política, e eu continuo neste caminho.”

Com 22 anos em 2011, candidatou-se e venceu a presidência da JSD do Montijo, “na altura para preparar o ciclo autárquico para as eleições de 2013, com Maria Mercês Borges. Candidatei-me este ano à presidência da JSD, com vista a preparar o ciclo autárquico de 2017, sendo o jovem com mais experiência a começar com uma equipa nova e os meus companheiros insistiram para que me recandidatasse.”

Durante algum tempo trabalhou sob a alçada de José Cardoso, experiência que considera “ter sido um trabalho muito gratificante com ele, e foi também uma grande surpresa, tendo em conta que a relação da JSD com o anterior presidente da Concelhia não era das melhores. José Cardoso teve uma postura completamente diferente, pôs-nos sempre à vontade e foi incansável para nos ajudar.”

Sobre a saída deste da Concelhia, Vasco Fernandes considera ter sido “um processo estranho. Todo o caso em redor dos orçamentos foi uma grande surpresa. Fiquei com pena da sua saída, mas compreendo a sua saída.”

Em relação à nova direcção da Comissão Política “acho que Pedro Vieira tem uma visão diferente e estilos de liderança diferentes, anda há muito tempo neste sector, mas tenho muita consideração por ambos”.

«Todos estamos na política com ideias diferentes»


Como vereador na Câmara Municipal do Montijo “a experiência foi muito boa. Nunca pensei que chegasse a integrar o lugar, estava em sexto lugar na lista de Maria Mercês Borges, mas aceitei de bom grado. Aconteceu no início de 2015 poder participar nas reuniões, em substituição, e abri o ano com uma declaração exigindo ao presidente da Câmara Municipal um conjunto de «bandeiras» pelas quais a JSD tem batalhado.”

Comparando o desempenho do actual presidente do município, Nuno Canta, com a anterior edil, Maria Amélia Antunes, Vasco Fernandes considera que “são diferentes personalidades, com diferentes estilos de política, e essas diferenças vêm-se durante as Assembleias Municipais.

Uma das grandes falhas que aponto à anterior presidente foi ter terminado com os desfiles de Carnaval, foi um golpe na nossa cultura, assim como a extinção de outro tipo de actividades.

Nesse aspecto, há uma maior abertura por parte de Nuno Canta, que tem criado outro tipo de eventos culturais que atraem ao Montijo muitas pessoas. Mas não podemos ter apenas festas, porque as obras nas estradas são necessárias, bem como uma biblioteca com mais condições.

A nossa cidade precisa de mais vida. Não se vêm pessoas jovens no centro, é preciso incentivar os jovens a vir à cidade, com mais oferta cultural.”

Outra diferença que aponta nos mandatos é a criação do Conselho Municipal da Juventude, “com o qual a anterior presidente era contra, mas que actualmente já existe e através do qual organizámos a Semana da Juventude.”

No entanto, a avaliação que faz do actual presidente do município, Nuno Canta, é a “de estar numa situação muito complicada. Se o PS tivesse ética localmente, nunca teria apresentado Nuno Canta como candidato. Assisti à cena do atirar de um jarro a um oponente, numa Assembleia Municipal, por acaso contra o meu pai, e fui eu quem o tirou da sala. Foi uma situação muito desagradável.

Todos estamos na política e temos ideias diferentes, mas não precisamos andar a atirar coisas para as defender. Acima de tudo, temos também de dar o exemplo às pessoas.

Não me agradou a candidatura de Nuno Canta, mas foi eleito e está a implementar as suas ideias, mas embora o Montijo esteja «a mexer», não está a mexer no sentido que deveria, sobretudo para a juventude.”

Outra avaliação que Vasco Fernandes faz é a da actuação de Bruno Vitorino, enquanto presidente da Comissão Política Distrital de Setúbal do PSD.

“É um líder distrital, começou na JSD e está agora como deputado do PSD, um percurso pelo qual tenho muita consideração e que gostaria também de fazer, porque tenho muita vontade de continuar o meu percurso dentro do Partido, e vir a ser um dia presidente da Câmara Municipal do Montijo.”

«Tem de ser claro o que a Câmara Municipal do Montijo quer fazer para a juventude»


Como presidente da JSD Montijo, Vasco Fernandes aponta as necessidades na área da juventude no município “que em 2013 teve um dos mais elevados indicies de natalidade do país. E temos muitos estudantes, a biblioteca é muito limitada para quem tem de estudar e o espaço para a Juventude que tínhamos foi transformado em Universidade Sénior. Não estou a criticar a opção, mas deveria ter sido implementado noutro local.”

Vasco Fernandes lamenta também a falta de investimento do Governo central na Juventude.

“Foi criado em 2009 a lei do Conselho Municipal da Juventude, mas isso não é suficiente, e no Montijo foi uma luta para ser implementado.
Aqui as políticas para a juventude têm de ser mais implementadas, porque o concelho está muito atrás de outras autarquias, e os jovens têm de ser incentivados a vir ao centro da sua cidade, através de um conjunto de iniciativas. Tem de ser claro o que a Câmara Municipal do Montijo quer fazer para a juventude.
E é essencial criar relações com as associações juvenis. Faço parte de uma, que teve muitas dificuldades em criar uma relação com a autarquia no anterior mandato. Só existem duas associações juvenis no concelho e a nossa nem tem uma sede, embora a autarquia não seja obrigada a dar, mas devia existir mais atenção para quem trabalha para a juventude.
Sabemos também de alguns projectos para promover bandas de garagem, mas é muito difícil em termos económicos, no entanto considero que é um aspecto muito importante, e devia ter apoio da Câmara Municipal, não apenas financeiro mas através de reuniões para discutirmos a melhor forma de o fazer.
O Gabinete da Juventude não tem de fazer tudo, mas deve dar apoio logístico às associações para fazerem esses eventos, porque é muito mais gratificante serem os próprios a organizar os eventos, do que chegarem lá e terem tudo feito, mas é nesse aspecto que a Câmara Municipal falha.
Gostava de trazer de volta ao Montijo o bairrismo que já existiu e que até vemos noutras cidades, em que mesmo no Inverno, as pessoas saem à rua.
E um dos motivos que, na minha opinião levou a essa quebra de actividade foi a péssima opção da autarquia em 2004 de trocar o embarque do cais dos Vapores para o Seixalinho, que afastou as pessoas do centro, quando o cais dos Vapores podia, com obras, ser recuperado e manter-se esse acesso directo ao Montijo, em vez do cais do Seixalinho, que tem um estacionamento pago, quando nos prometeram que este seria gratuito, assim como foi prometido que as carreiras em mini-bus para o cais seriam gratuitas, o que não acontece, além de termos uma estrada péssima para chegar ao cais.
Tudo isto afugenta os jovens da cidade, devido à falta de atenção e estratégia, que nos irá afectar um dia. Espero estar errado e por isso espero conseguir modificar o que for possível, para evitar que os jovens saiam daqui para ir para as cidades que os recebem de braços abertos.”

No campo das acessibilidades, Vasco Fernandes está convicto de que a vinda do aeroporto «+1» da Portela “irá dinamizar em muito o Montijo, que necessita imenso de investimento, depois de ter perdido tantas empresas, o que não foi culpa das autarquias, mas há que procurar alternativas”.

Outro investimento que gostaria de ver implementado no município seria uma universidade, “e já se falou que um pólo do IPS poderia ter vindo para cá, algo que mexe muito com as cidades e esta poderá vir a ser uma das nossas bandeiras de luta.

Será também muito importante ver movimento associativo muito interactivo, no Montijo, para que todos os meses pudessem ser realizadas iniciativas diferentes das que já decorrem.

Tenho excelentes memórias das Festas do Montijo, onde o programa cultural é diferente, quando agora está restringido a um grande concerto e fogo-de-artifício onde se gastam milhares de euros, e duas largadas que já nem se fazem no centro.

Há tradições que deviam voltar, como a marcha luminosa, ou a ataia das Flores, algo que era típico e único, mas agora as festas são ultrapassadas, em tradição, pelas de Alcochete. E se não fossem os bares novos, que trazem muitos jovens para a rua, nem teríamos tanta animação.”

«Um dos objectivos da JSD é mostrar aos jovens a importância do seu voto»


Vasco Fernandes considera grave a falta de interesse dos jovens na política. “Não sentem a importância de votar, e o mesmo está a acontecer à população. Eu fiz o meu cartão de eleitor no dia que fiz 18 anos, na altura não era automático, mas agora a maior parte dos jovens não liga a isso. Um dos objectivos da JSD é mostrar aos jovens a importância da sua participação na política e do seu voto em consciência. Estamos a falar de um acto que demora apenas cinco minutos, mas é muito importante para o seu futuro.
Infelizmente as pessoas estão muito desacreditados da política e só poderemos alterar isso com uma reformulação do sistema político a nível local e nacional.
Já se fala há muito tempo a nível nacional em votar listas por nomes, permitindo votar pelos deputados dentro das listas dos partidos.
E ao nível local vemos também a ausência dos cidadãos das reuniões de Câmara ou Assembleias Municipais, a menos que tenha alguma questão a apresentar.
Outro aspecto importante é que os partidos devem apresntar candidatos das respectivas terras, porque só essas pessoas conhecem profundamente os problemas e necessidades.”

A falta de conhecimento dos mais jovens das estruturas políticas e autárquicas, também preocupa Vasco Fernandes.

“Sei isso porque quando entrei para a JSD também não sabia o que era uma Assembleia Municipal, uma Assembleia de Freguesia, embora o meu pai até fizesse parte do executivo e explicava-me e comecei a ir assistir. A participação numa estrutura partidária da juventude é muito importante para a cidadania.
Não fabricamos políticos, fazemos com que os jovens participem mais activamente na sociedade. É muito importante esta formação para a política e para a cidadania. E um dos nossos objectivos é colocar os jovens a conversar sobre isto, para que saibam a quem se dirigir quando têm algum problema, porque não vão estar a ler as leis para saberem que podem ir a uma reunião camarária ou assembleia municipal, onde têm um tempo para expor a sua situação. Se não formos nós ou outros movimentos associativos ou partidários a formar os jovens, eles estão perdidos.
Mas o desconhecimento na área política por parte dos jovens é gritante e vi isso numa cadeira que tive de introdução ao Direito, onde eu era o único que conhecia pontos da Constituição, devido ao meu trabalho com a JSD.
Ainda espero ver a disciplina de Formação Cívica novamente implementada, mas a sério, com debates e com informação, lecionada até por movimentos associativos ou outros organismos.”

E sendo um dos objectivos do PSD e da JSD a alteração da cor política na gestão autárquica do município, “estamos a estudar as soluções para próximas eleições. Não sou candidato, mas sê-lo-ei nas listas autárquicas se os meus companheiros assim o entenderem. Mas até 2017 está tudo em aberto ainda.
Foi triste para todos nós termos ficado tão perto de conquistar esta autarquia nas últimas eleições, porque a nossa candidata Maria Mercês Borjes tem o perfil e o carisma indicado para mudar o que é preciso, sendo muito receptiva ao que dizemos, e na qual me revejo.
A JSD está bem representada neste município e uma das nossas bandeiras é rejuvenescer as listas autárquicas. E no município sempre tivemos uma presença muito activa, e embora as pessoas por vezes nos olhem de esguelha, sempre fomos muito bem recebidos.
O PSD não é, aqui, um partido de elites. Somos todos iguais, não interessa o que temos na carteira ou o carro que conduzimos (o meu um Fiat Panda com muito orgulho).
Em 2015 com as eleições com o PAF, tivemos também um trabalho de coligação com a JP, e foi um trabalho muito importante, embora no Montijo a grande força das juventudes partidárias seja da JSD, onde temos cada vez mais jovens interessados em participar na vida política, o que me orgulha muito.”

Artigo publicado em parceria com Diário do Distrito

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